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SALVADOR

Ilê Ayiê conta a história do povo Jeje; saiba detalhes do desfile

Para o carnaval de 2017, o Mais Belo Dos Belos levou o tema Os Povos Ewé/Fon, a Influência do Jeje Para os Afrodescendentes

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Redação iBahia

26/02/2017 às 12:17 • Atualizada em 31/08/2022 às 21:58 - há XX semanas
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O tradicional bloco afro Ilê Ayiê desfilou nas ruas de Salvador na noite deste sábado (25), recontando a tradição do povo negro pela 43ª vez. Para o carnaval de 2017, o Mais Belo Dos Belos levou o tema Os Povos Ewé/Fon, a Influência do Jeje Para os Afrodescendentes, como forma de contar a história da chegada do povo Jeje ao Brasil – identidade étnica de alguns africanos escravizados. Como parte da homenagem, alguns terreiros de candomblé – pertencentes à nação Jeje - foram lembrados, inclusive o Terreiro Ilê Axé Jitolú onde surgiu o Ilê Ayiê.
“O tema é muito interessante, porque fala sobre a nossa religião e citamos terreiros importantes. Neste carnaval, nossa cultura e nossa tradição são retransmitidas através de nós. Num momento em que se fala tanto sobre intolerância religiosa, é muito importante ter um tema desse, com as canções que falam disso, cantadas por todo o mundo”, disse um dos fundadores do bloco, Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê.
Foto: Mateus Pereira/GOVBA
Antes de seguir para o Circuito Mãe Hilda, um ritual foi celebrado no Terreiro do Ilê Ayiê, de onde saíram os participantes, pela Ladeira do Curuzu. A ialorixá do terreiro, a mãe-de-santo Hildelice Benta, presidiu uma cerimônia, enquanto a banda do Ilê tocava as canções tradicionais do bloco, aos batuques de tambores, e outros participantes jogavam pipoca e milho branco no povo.
A pipoca é uma oferenda ao orixá Obaluaê, o santo ao qual pertencia Mãe Hilda, já falecida, que foi esposa do fundador Vovô do Ilê. O milho branco foi ofertado a Oxalá, um dos principais orixás do candomblé, a quem se pede paz. Após as oferendas, fundadores do Ilê soltaram pombos brancos, como fazem tradicionalmente, para reforçar o pedido de paz.
Representatividade
Além da cerimônia e do desfile, o evento foi marcado pela apresentação ao público da recém-eleita Deusa do Ébano do Ilê Ayiê de 2017, Gisele Soares. Escolhida para representar a beleza e a resistência da mulher negra, a mais nova Rainha do Ilê passou por uma fase de preparação e isolamento, por três dias. Gisele foi vestida e embelezada pelos tecidos do bloco e pelas mãos da responsável pelo figurino do Ilê, Dete Lima.
A nova Deusa do Ébano se emocionou em alguns momentos da cerimônia e disse ter tentado segurar as lágrimas, sobretudo pela “honra em representar a beleza negra” e a responsabilidade de representar isso para outras meninas que precisam se aceitar e ter auto-estima.
“Quando fui eleita, senti uma realização. Realização de sonho, de afirmação da minha negritude, realização de conquista de luta diária que todas nós mulheres negras lutamos e sofremos, todos os dias, para sermos reconhecidas na sociedade. E quando você recebe um cargo de Deusa do Ébano e sabe que vai representar todas essas mulheres que não se veem em lugar nenhum, mas vão se ver em você, é uma honra”, disse emocionada Gisele Soares, de 24 anos.
Dificuldades financeiras
Este ano, o Ilê Ayiê foi às ruas com menos patrocínios que nos anos anteriores e alega enfrentar dificuldades financeiras. Na avenida, o Mais Belo Dos Belos levou menos alas do que o comum e incluiu dançarinos que participaram voluntariamente, sem receber pagamento. O bloco também reduziu pela metade o número de percussionistas, que foram apenas 50 este ano.
O governo do estado da Bahia financia parte dos desfiles. Mas a falta de patrocínio da iniciativa privada também pode afetar a continuidade dos projetos sócio-educacionais do Ilê, como a Escola Mãe Hilda e a escola de arte educação Band’Erê.
“A dificuldade em captar patrocínio tem de ser discutida aqui na nossa cidade. Nós [pessoas negras de religiões afro] somos maioria, consumimos qualquer tipo de produto. Há uma dificuldade de sensibilizar a percepção dos empresários de que é importante juntar o produto deles com a marca do Ilê Ayiê, daria retorno, mas infelizmente não conseguimos essa sensibilização”, lamenta o fundador Vovô do Ilê.
Presente também na cerimônia, a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fábia Reis, associou a queda de patrocínio ao “racismo institucional”, que desmerece a cultura e o público negro – maioria em Salvador – e apoia somente projetos com apelo comercial e midiático.
“É importante que elas [empresas] olhem os blocos afro de um modo geral, como os de samba ou afoxé, que têm essa ligação identitária com o nosso carnaval. O carnaval da Bahia tem essa força e essa beleza estética por essa presença [do povo negro], então é importante que as cervejarias – que são grandes patrocinadoras e investem no carnaval – vejam que a população, a massa consumidora da cerveja, é o povo negro, maioria aqui na cidade, que é a mais negra fora de África. Então, é o seu consumidor e ela [cervejaria] precisa respeitar, valorizar, patrocinar, não só no carnaval, mas durante todo o ano”, argumentou a secretária.
O desfile atraiu a participação de diversos visitantes, além de vereadores, deputados, secretários, do prefeito de Salvador, ACM Neto, e do governador da Bahia, Rui Costa. Após a cerimônia na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade de Salvador, o cortejo saiu às ruas do Circuito Osmar, no Campo Grande, na madrugada de hoje (26). Amanhã (27) e na terça-feira (28), o bloco afro mais antigo de Salvador volta ao Circuito Osmar, puxado por trios.

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