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SALVADOR

Igrejas de Salvador são reabertas ao público após restauração

Tombadas como patrimônio nacional, as igrejas de Nossa Senhora do Pilar e do Rosário dos Pretos passaram por amplas restaurações para voltar a encantar baianos e turistas

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14/04/2012 às 11:23 • Atualizada em 30/08/2022 às 16:06 - há XX semanas
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Nas ruas, a conversa é que Salvador tem uma igreja para cada dia do ano. Possivelmente tem até mais, só que algumas delas são especiais. Tombadas como patrimônio nacional, as igrejas de Nossa Senhora do Pilar e do Rosário dos Pretos passaram por amplas restaurações para voltar a encantar baianos e turistas. A primeira, no Comércio, foi reaberta ontem. A segunda, no Pelourinho, volta a receber os devotos amanhã. Nas duas, a fé e os mitos que fazem parte do cotidiano da história da capital baiana se misturam com um belo acervo artístico. Agora, é cuidar do que foi renovado e correr para restaurar outros patrimônios que pedem socorro.
Igreja do Pilar de volta após 17 anos Foram 17 anos de portas fechadas. “É uma vida. Teve uma hora que a gente pensou que não ia conseguir”, lembra Josete Batista Santos. Ela é juíza da irmandade que administra a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, reinaugurada ontem com missa solene. A última vez que o templo foi aberto ao público foi em 1994. No dia 12 de junho daquele ano, uma forte chuva derrubou parte do assoalho do coreto. A Defesa Civil interditou o local devido ao risco de novos desabamentos. “A estrutura estava podre em muitos locais, porque não havia manutenção”, diz Josete, que dedicou 22 dos seus 49 anos à irmandade. Na missa de ontem, a casa estava cheia de devotos. Não de Nossa Senhora do Pilar, que dá o nome à igreja, mas de Santa Luzia. A santa protetora dos olhos tem dentro do santuário altar de destaque e fonte de água milagrosa. “Graças a Deus e a Santa Luzia eu ainda enxergo. Eu tenho uma doença chamada retinose pigmentar há mais de 20 anos e não tem médico que dê jeito. Mas eu passo essa aguinha aqui todos os dias e a bênção dela me faz enxergar”, diz Telma Maria de Oliveira Santos, 42 anos, empregada doméstica aposentada por invalidez.
Agora reformado, o templo aos poucos retoma sua rotina de celebrações. As missas serão realizadas todos os domingos às 8h30 e todos os dias 13 do mês às 8h e às 10h, com destaque para a procissão do dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. Nas instalações, é realizado um trabalho de recuperação de jovens viciados em drogas, em parceria com a Faculdade de Medicina da Ufba. De volta ao roteiro religioso, o templo ficará aberto todos os dias da semana das 9h às 14h. Tanto dentro como fora, o santuário chama a atenção pela sua arquitetura, que mistura elementos do barroco, rococó e neoclássico, e acabamento em ouro. Foi construído em meados do século 18 com a ajuda financeira da colônia espanhola. Por isso levou o nome da padroeira hispânica Nossa Senhora do Pilar. A edificação foi tombada como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, o que não resultou em investimentos. A reforma executada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), iniciada em 2008, custou R$ 5,1 milhões. Na obra, foram retiradas 2,5 mil toneladas de lixo. Uma segunda etapa da recuperação está orçada em R$ 1,4 milhão e irá transformar o antigo cemitério em um ossuário. Igreja do Rosário dos Pretos abre amanhã Ela foi erguida fora dos muros da cidade, por negros e para os negros, que não podiam frequentar as igrejas dos brancos. A obra começou em 1704 e durou mais de 100 anos. Fincada na Ladeira do Pelourinho, a Igreja do Rosário dos Pretos compõe a imagem de Salvador que corre o mundo. Amanhã, às 10h, ela reabre as portas após mais de dois anos em restauração. Quem não consegue esconder a ansiedade é Ubirajara Santa Rosa, prior da Irmandade dos Homens Pretos. “Estou contente com esta obra. Agora vamos ver o que o nosso povo vai achar”.
Com um investimento de R$ 2,6 milhões dos governos Estadual e Federal, a igreja, tombada desde 1938 como patrimônio nacional, recebeu intervenções estruturais e artísticas. Nesse quesito, a responsabilidade foi de Rosândila Nunes. Sua equipe trabalhou no piso, no gradil, nas pedras e até em imagens de santos, mas nada demandou tanto esforço quanto os forros. “Havia muita umidade, ninhos de pombos, morcegos. Foi preciso uma limpeza geral para começar a restauração. Além disso, foi feito um sobreforro de fibra de vidro para que o trabalho seja conservado”, explica Rosândila. Quem entra na igreja, logo nota o resultado da recuperação de um patrimônio que mescla barroco, rococó e neoclássico. A pintura do forro - não assinada mas atribuída a José Joaquim da Rocha - impressiona qualquer pessoa. Não há documentos sobre sua simbologia, mas na capela-mor, por exemplo, as referências são claras: quatro mulheres de traços distintos representam Europa, África, Ásia e América. “É muito gratificante ver o trabalho pronto. É mesmo emocionante”, revela Rosândila. A satisfação dela é compartilhada por outro restaurador, Estácio Fernandes, responsável pela recuperação dos azulejos, pintados por Francisco Gonçalves da Costa. No conjunto da nave, destaca-se um painel na entrada da igreja. Nele, um dos reis magos, Gaspar, está representado com um cocar na cabeça, mostrando já alguma influência dos índios da América. “Tivemos que remover os azulejos e criar uma base para evitar infiltrações e então assentar tudo e fazer a restauração e os retoques necessários”, conta Fernandes. Cássio Sales, arquiteto do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e fiscal da restauração, resume a obra: “Foi um trabalho feito com muito cuidado. Vamos torcer para ser conservada”. Que assim seja.

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