|
---|
Quem vê Dete Lima pela primeira vez não imagina que ela seja responsável por transformar e destacar a beleza do povo negro em Salvador e no mundo. Estilista e uma das fundadoras do Ilê Aiyê, Dete é bem tímida mas revela, em seu olhar, a paixão pela história do negro. "Aprendi quando criança a ter consciência de que eu sou negra e tenho que fazer a minha parte como militante, a valorizar o meu povo, a minha raiz e tudo o que se relaciona com a minha história. É isso que eu procuro passar com o meu trabalho; a valorização, a autoestima. Somos negros, mas somos belos, fortes e podemos ocupar grandes lugares no espaço", ressalta. Filha de uma das maiores ialorixás do Brasil, Mãe Hilda Jitolu, aprendeu em casa a paixão pelas artes. "Via minha mãe vestindo os Orixás e tinha vontade de fazer aquilo com as minhas próprias mãos. Cheguei a prestar vestibular para a área de saúde, mas não passei porque o meu destino era mesmo aqui no Ilê". O trabalho de Dete como estilista começou antes do Ilê existir; quando ela costurava, por prazer, mortalhas e fantasias para o São João. Depois, com o nascimento do bloco, passou a idealizar as roupas que seriam usadas nos carnavais, até que surgiu a ideia do concurso para eleger a Deusa do Ébano do Ilê. "Logo quando comecei, um amigo me falou que eu tinha que saber desenhar a roupa no pano, mas não era isso que eu queria. Tinha pressa em ver o resultado do meu trabalho e comecei a amarrar o tecido no corpo das mulheres até que eles ficassem em forma de vestidos, saias, blusas e turbantes", explica.
Veja também Aloisio Menezes: 'Gostaria de estar comemorando a vida e não lutando contra discriminação da raça' Mãe Iara luta pelo respeito ao candomblé e preservação da Pedra de Xangô O branco mais preto da Bahia: Saulo fala sobre a influência da cultura negra em sua vida A técnica de Dete deu tão certo que hoje ela é a responsável pela transformação das mulheres em deusas e ministra oficinas de amarração e trançado para jovens e crianças, na sede do Ilê Aiyê. "Quero que outras pessoas também aprendam a fazer para que elas possam se sentir como eu me sinto. Nunca fui Deusa do Ébano, mas para mim, embelezar uma mulher fazendo essas amarrações é estar me embelezando também. A minha autoestima cresce junto com a delas", ressalta a estilista. Além das deusas, Dete já vestiu personalidades internacionais como as modelos Naomi Campbell e Lea T, além da cantora Daniela Mercury, Regina Casé e até uma noiva ."Esse era o meu maior sonho e eu já consegui realizar", orgulha-se. Mesmo com todo talento, Dete acredita que o reconhecimento do seu trabalho só veio por causa da educação que recebeu. "Se hoje o Ilê completa 40 anos é com muita humildade e pés no chão, sem pisar no outro, e é por isso que hoje eu tenho esse reconhecimento e as pessoas têm essa admiração pelo meu trabalho e pela minha pessoa. Temos que pensar sempre no outro, naqueles que estão em nossa volta. É assim que conseguimos um mundo melhor", afirma. Além das roupas, Dete também confecciona imagens e panôs de Orixás. Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, a estilista fará uma exposição com suas obras de arte, na sede do Ilê Aiyê, entre os dias 25 e 29 de novembro, sempre das 15h às 18h. A entrada é gratuita.
Veja uma galeria de fotos com alguns trabalhos da estilista e um pouco da sua carreira