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SALVADOR

Graça preserva história lado a lado com especulação imobiliária

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15/03/2011 às 15:45 • Atualizada em 29/08/2022 às 14:08 - há XX semanas
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Localizada estrategicamente entre os bairros da Vitória, Barra, Campo Grande e Centro, a Graça é hoje considerada um bairro tradicional e nobre de Salvador. Essencialmente residencial, conta com diversos serviços, que atendem às necessidades dos moradores, sem afetar o clima sossegado da região. A classe media alta ainda domina o território e conserva grande parte do passado. É possível observar, além do velho conhecido Largo da Graça, casas de meia-idade e palacetes. Moradias das famílias Novis, Magalhães e Cintra ajudaram a construir a história do bairro. Mergulhando no passado, é possível concluir que não se pode falar do lugar sem exaltar a importância de Diogo Álvares, o Caramuru. Essa ilustre figura foi fundamental não só para construção da história do Brasil, como também, essencial para formação do bairro da Graça. “O que eu sei do passado é que isso aqui, segundo as histórias contadas pelo povo, era o local onde havia a Igreja de Paraguaçu. Nesta região, ficavam os índios e os portugueses misturados em uma aldeia”, conta o aposentado José Carlos Paes, morador na Graça, há cerca de 30 anos. HISTÓRIA - No livro “Breviário da Bahia”, Afrânio Peixoto lembra que Diogo Álvares era devoto de Nossa Senhora das Graças e em sua homenagem, fundou na região - que hoje é a Graça, antes conhecida como Vila Velha ou povoação do Pereira -, uma capela, um "oratório de barro recoberto por palhas”. O local se transformou em igreja e sofreu algumas alterações, para tornar-se a conhecida Igreja da Graça dos dias atuais. Além dela, o Caramuru desmatou parte das suas terras, doadas pelo donatário Francisco Pereira Coutinho, e deu origem ao Largo da Graça, maior referência do local hoje e primeiro a existir na Capitania da Bahia.




Um pouco mais distante da versão original, a moradora do bairro e universitária Carolina Oliveira, 19 anos, diz que não sabe definir ao certo como a Graça foi fundada, mas cogita a idéia de o bairro ter surgido a partir da necessidade de um local seguro e alto para proteção dos portugueses. Além disso, estaria englobado aí também, o fato de estar próximo ao Porto da Barra, onde as caravelas inimigas ficavam ancoradas. Já no livro “Histórias de Salvador nos nomes das suas ruas”, o autor Luiz Eduardo Dorea afirma que o nome do bairro é, de fato, anterior à chegada dos primeiros colonizadores portugueses. “ Sendo, como muitos outros, retirado do orago de um estabelecimento religioso”. O tradicional bairro teria surgido antes mesmo da chegada de Tomé de Souza, a partir da freguesia Nossa Senhora da Vitória, povoação de formação eclesiástica, que abrangia Barra, Vitória e Graça. O panorama habitacional revelava a aparência de uma freguesia de elite, principalmente, porque nela haviam morado cônsules e negociantes prósperos, desde a primeira metade do século XIX, explica Anna Amélia Vieira Nascimento, no livro intitulado “Dez freguesias da cidade do Salvador”. MEMÓRIA - “Em uma destas casas luxuosas localizadas dentro dos limites da Graça, morava minha amiga Lêda Pontes”, lembra Solange Martins, aposentada e moradora do lugar. Ela conta que durante sua infância, uma das coisas mais marcantes eram as grandes festas, que ocorriam todos os finais de semana na mansão da sua amiga. “Era uma casa muito bonita, íamos sempre acompanhados de nossos pais. Gostava muito de brincar no gramado. Hoje, há um grande prédio no local, tido como um dos mais requisitados do bairro, o Oscar Pontes, em homenagem ao pai de Lêda”, explica.

Além das festas particulares, a moradora conta que freqüentava muito bailes e eventos promovidos pelo Clube Baiano de Tênis, onde hoje esta a loja Perini. “Era a sensação da época. Já passei incontáveis carnavais, rompimento de ano, entre outras festas tradicionais no clube”, recorda Solange Martins. Avançando alguns anos, o autor Luiz Eduardo Dorea, através das palavras de Nelson Cadena, conta um fato curioso e de relevância na história da Graça e de Salvador. Trata-se do primeiro estádio de futebol da capital. Conhecido como Campo da Graça, o espaço possuía arquibancadas e infra-estrutura profissionais, antes da conhecida e velha Fonte Nova surgir. Inclusive, o local já sediou um jogo internacional com presença exclusiva do herdeiro do trono da Itália, Príncipe Umberto de Savóia. Em uma conversa com o morador José Carlos Paes, é possível ouvir a voz de quem esteve dentro deste campo e pôde assistir de perto alguns jogos nacionais. “Muita gente ia assistir aos jogos, o campo era grande, bem bonito”. Além das disputas, o local sediava também parques de diversões temporários, não como os atuais cheios de tecnologia, “mas para época eram uma novidade”, como conta José Carlos. Onde estava localizado o campo de futebol, existem agora seis prédios. ARTES - A arte sempre foi apreciada na Graça. O antigo palacete do comendador Bernardo Martins Catharino foi restaurado e cedeu lugar ao atual Museu Rodin Bahia, também conhecido como Palacete das Artes Rodin Bahia. Trata-se de um centro cultural destinado às atividades sócio-culturais-educativas de Salvador.

Para o jornalista João Barreto, 32 anos e morador do bairro desde que nasceu, visitar o museu é muito prazeroso. “Salvador, infelizmente, não possui muitos centros culturais. Estes locais precisam ser mais valorizados e apreciados”, ressalta o jornalista. Além do museu, João explica que costumava visitar, com freqüência, a praça, onde esta localizada a Fonte de Catarina Paraguaçu. Ele diz que houve um abandono por parte dos moradores. “Eu costumava ir lá, quando era mais jovem. O local hoje, infelizmente, está esquecido”. DIAS ATUAIS - A realidade atual da Graça não é muito diferente da descrita anteriormente. A tradição e a nobreza ainda imperam na região. As mudanças mais visíveis são as novas construções, os grandes e luxuosos prédios no lugar das antigas casas com jardins. O que inclusive, explicam corretores, fazem da Graça um dos metros quadrados mais caros de Salvador e com grande oferta de imóveis usados, devido à escassez de terrenos disponíveis às construtoras.

O bairro conta também com uma Associação de Moradores conhecida como AMOGRAÇA, que tem a função de manter a ordem da região e, ocasionalmente, promover reuniões e eventos para integração dos moradores. Normalmente os encontros são de caráter religioso, afinal, isso faz parte da tradição do bairro. Outro exemplo do trabalho exercido pela associação é o Jornal da Graça, criado com o intuito de integrar seus moradores e divulgar notícias sobre o bairro. Conseqüentemente, ou até mesmo propositalmente, ele serve também como agente perpetuador da história do bairro, através dos registros cotidianos. Confira a galeria de fotos do bairro da Graça.

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