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SALVADOR

Forte São Marcelo será reformado; licitação sairá semana que vem

Iphan promete lançar nos próximos dias licitação para recuperar o espaço, que nunca foi atacado pelo homem, mas está sendo destruído pelo abandono

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01/08/2014 às 12:50 • Atualizada em 27/08/2022 às 20:02 - há XX semanas
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Fechado desde 2011, o forte, que nunca foi atacado militarmente, trava agora batalha contra o abandono

Até mesmo os fortes precisam de um apoio. Depois que atravessa séculos e enfrenta o abandono, então... Há três anos fechado para visitação, o Forte de São Marcelo está próximo de deixar o atual clima fantasmagórico para se transformar em canteiro de obras. Na próxima semana será publicado no Diário Oficial da União o edital de licitação para restauração do símbolo da Baía de Todos os Santos, antecipando as obras que devem, pela expectativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), iniciar em setembro. O Iphan, responsável pela contratação e execução da restauração, divide a requalificação do espaço em duas intervenções. A primeira delas é a recuperação da parte física. Hoje, fechado e desocupado, o Forte fraqueja. “A coroa tem uma série de patologias, com formação de cavernas (buracos) nas pedras. Vamos cuidar do enrocamento, ou seja, a forma como o Forte está implantado nessa coroa, além da recuperação do próprio Forte, com a recomposição das paredes da muralha, retirada dos fungos, a impermeabilização e estabilização da construção, deixando-o impecável para a segunda etapa do projeto”, detalha o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim. A restauração será financiada pelo governo federal através do chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas. Por conta do regime de contratação, o superintendente afirmou que não é possível estimar o valor que será gasto. O CORREIO apurou, no entanto, que a restauração deve custar pelo menos R$ 10 milhões. De acordo com Amorim, em dez meses, essa primeira etapa será concluída. O que quer dizer que só após o segundo semestre de 2015 o Forte São Marcelo estará pronto.

Infiltração é um dos grandes problemas na estrutura, aponta Iphan

Futuro O secretário municipal de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, considera esse tempo importante. “Há uma grande expectativa pela reabertura, isso é legítimo, mas não se pode fazer uma política de curto prazo. É responsável que se resolva essas questões estruturais primeiro”, diz. Bellintani explica que, após a obra, o Iphan - que recebeu o equipamento por tempo indeterminado da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) - deve ceder o espaço à prefeitura, que foi corresponsável pelo projeto arquitetônico. Essa ocupação é justamente a segunda etapa da requalificação. O projeto inicial da prefeitura é repassar a administração para a iniciativa privada. A ideia é que o forte abrigue um restaurante com um espaço multiuso. “O espaço terá programação o dia inteiro, como esses restaurantes modernos que têm em lugares de praia no mundo inteiro, como Ibiza, Miami, na França e em outros lugares da Espanha”, compara Amorim. “Haverá uma cafeteria e um espaço museográfico, que pode servir tanto para exposições permanentes como rotativas”, completa Bellintani. O Iphan não pretende instalar no local um museu, mas um Centro de Referência que mantenha viva a memória do Forte do Mar, como também é chamado. A dificuldade de manter na baía acervos faz com que a proposta de exposições com uso de tecnologia se sobreponha até o momento. “Vamos mostrar de forma interativa a relação do Forte com Salvador e com a própria Baía de Todos os Santos, além de contar as mais extraordinárias histórias do Forte, como o caso de Bento Gonçalves, preso político no Forte, que foi solto por Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi”, exemplifica Amorim, referindo-se à prisão de um dos líderes da Revolução Farroupilha, na primeira metade do século XIX.

Sala interna mostra infiltrações, paredes descascadas e muita sujeira

História Possivelmente projetado por um engenheiro militar francês, nos anos 1600, segundo publicação do urbanista Mário Mendonça de Oliveira, o Forte foi erguido sobre uma coroa artificial, delimitada por rochas. Desde 2008, quando escreveu o livro As Fortalezas e a Defesa de Salvador, Oliveira alerta para os problemas estruturais. “(O Forte) necessita, urgentemente, de socalque (reforço) de suas fundações e enrocamento de proteção para continuar testemunhando a nossa memória. Se não receber esse mínimo de cuidado, o seu anel externo vai ruir e, subsequentemente, o resto”, diz trecho do livro. O superintendente do Iphan na Bahia reconhece que a obra é urgente. “Já tentamos uma PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse) e não deu certo, mas agora com a verba garantida e com o apoio dos parceiros, do governo federal e da prefeitura, vai sair”, garante. De acordo com o Iphan, nunca antes o espaço passou por uma reforma tão detalhada, principalmente com a manutenção da parte subaquática. “Quase todas as construções nesse formato já caíram. Com essa obra, o Forte será capaz de sobreviver igual tempo ao que já está erguido”, diz o superintendente. Crítica Responsável pelo espaço por dez anos, o coronel Anésio Leite, presidente da Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos (Abraf), desconfia da reabertura do Forte. “Restaurar o monumento é importantíssimo, mas não pode ocorrer o que aconteceu na década de 60 e nos anos 80. Reformaram e deixaram fechado. Também não adianta um local com aquele potencial funcionar em horário de expediente”, critica. A Abraf foi quem administrou as visitações ao espaço de 2006 até março de 2011, quando uma decisão judicial deu ordem de despejo para que o espaço fosse reintegrado ao estado, o que até hoje compromete a relação da Abraf com o Iphan. O que ninguém questiona é a importância do espaço para a cidade. “Mesmo não tendo participado de nenhuma ação militar na defesa do nosso porto, é um testemunho vivo da nossa história”, escreveu Mário Mendonça. “É uma espécie de umbigo da Baía de Todos os Santos”, filosofa Amorim. Já para o secretário de Turismo, Guilherme Bellintani, o Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo, ao lado do Elevador Lacerda, é um símbolo singular da capital baiana. Iphan acusa administração anterior de deteriorar patrimônio históricoPara o Iphan, a cessão de uso do Forte de São Marcelo à Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos (Abraf) foi danosa ao patrimônio. Com essa reforma, o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim, acredita que serão reparados danos, segundo ele, deixados pelo antigo administrador. “Foi uma ocupação predatória e hoje é bastante precária a situação do Forte. Será preciso remover anexos e elementos que foram agregados ao forte de forma irregular”, diz Amorim.

Presidente da Abraf, o coronel Anésio Leite defende que o espaço foi assumido por sua equipe já em estado de abandono e que ele mesmo movimentou tentativas de recuperação do espaço, inclusive viabilizando as visitas através da colocação do píer e dos flutuantes hoje instalados no local. “Nunca houve uma conversa com o Iphan para resolver os problemas e apoiar nas ações. O Iphan só aparecia com seu técnicos fotografando e dizendo: ‘Ah, não pode colocar prego nessa parede’. Ora, estava abandonado há vinte e poucos anos na mão dele”, acusa Leite. “O Forte tem 30 salas, todas com blindex. Quando eu assumi, tudo estava destruído”, defende-se. O Iphan diz que, por conta dessa experiência, firmará com o novo administrador - possivelmente uma organização privada - um contrato claro, com atribuições definidas para conservação do espaço. “É um equipamento caro para fazer a manutenção e não é da função do Iphan administrar, não temos expertise para isso. Queremos, com responsabilidade, devolver o espaço para que ele tenha uma função e seja utilizado pelos turistas, mas, sobretudo, pelos baianos”, diz Amorim.

Matéria original do Correio Destruído pelo abandono, Forte São Marcelo será reformado; licitação sairá semana que vem

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