Até o final do mês de junho, o Elevador Lacerda estará tingido de vermelho para lembrar a população sobre a anemia falciforme, uma doença genética e hereditária, predominante na população negra e que se caracteriza por uma alteração nos glóbulos vermelhos, que perdem a forma arredondada, elástica, adquirindo a forma de foice (daí o nome falciforme). Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil nascem cerca de 3,5 mil crianças por ano com a doença, sendo um bebê a cada mil nascimentos. A capital baiana concentra o maior número de portadores da doença: a cada grupo de 650 bebês nascidos vivos, um tem a patologia, o que representa em média 65 crianças por ano. De acordo com a coordenadora do Programa de Atenção à Pessoa com Doença Falciforme, Cândida Queiroz, a anemia falciforme pode trazer implicações sérias e até mesmo levar o indivíduo à morte. “Um diagnóstico feito precocemente e o acompanhamento regular com equipe de saúde, além de suporte social, podem reduzir e até evitar agravos e complicações”, orienta a especialista, lembrando que a doença é identificada no exame do pezinho e pode ser controlada se tratada desde cedo.
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Entre os principais sintomas da anemia falciforme estão as dores articulares, palidez e icterícia, atraso no crescimento, feridas nas pernas, tendência a infecções, e problemas neurológicos, cardiovasculares, pulmonares e renais, provocados pela deformidade dos glóbulos vermelhos que endurecem, fato que dificulta a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre, comprometendo a oxigenação dos tecidos. Segundo o pesquisador Gildásio Daltro, do grupo de pesquisas Terapias Celulares em Anemia Falciforme da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia(UFBA), embora a anemia falciforme seja uma mutação genética da etnia negra, a miscigenação torna ela potencialmente preocupante para a população em geral. Dados do Programa Estadual de Triagem Neonatal mostram que Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro são as unidades da federação com maior número de casos.
CAMPANHA Além da iluminação especial no cartão postal da Cidade, a campanha Eu amo uma pessoa com anemia falciforme deverá ganhar novos formatos e participações muito especiais. Segundo Altair Lira, mestre em Saúde Pública e um dos fundadores da Associação Baiana das Pessoas com Doença Falciforme(ABADFAL), a campanha que teve início na Bahia tem como objetivo abordar a questão de modo mais positivo e centrar os esforços sobre as pessoas e não sobre a doença. “Por meio das redes sociais,fizemos a ideia circular, chamando atenção para a realidade do portador e de que convive com ele”, explica. A proposta foi abraçada por portadores, amigos e familiares em todo o mundo, percorrendo países como Estados Unidos, República Dominicana, México, além de todo o Brasil.
MUTAÇÕES Para Lira, a doença de caráter genético e crônico-degenerativo leva as crianças que nascem com ela a óbito antes dos 5 anos de idade, em 80% dos casos, quando não ocorre nenhum tipo de assistência de saúde. “Um caso a cada mil nascidos vivos, no Brasil, e um a cada 650, na Bahia, mostra que se trata de um relevante problema de saúde pública”, pontua. A hemato pediatra Juliana Costa, do Multicentro da Secretaria de Saúde, lembra que na doença falciforme, a suplementação vitamínica não corrige o problema e é necessário que haja acompanhamento específico permanente.
“A mutação ocorre entre os povos africanos e nas populações que receberam influência africana, como é o caso brasileiro”, esclarece a especialista, destacando que se uma pessoa herda do pai o gene com a mutação para produzir a hemoglobina S e outro da mãe com a mesma característica, o par dos genes provocará a anemia falciforme(SS). O indivíduo também pode receber somente um gene da mutação S e um outro da hemoglobina A, assim ela terá o traço faciforme (AS). Juliana Costa ressalta que apesar de ser conhecida há muito tempo, ainda não existe um tratamento definitivo para o problema. “As crianças tomam antibióticos até os cinco anos para prevenir infecções e ácido fólico para reduzir o impacto da anemia”, explica, lembrando que a terapia com o quimioterápico hidroxiuréia, antes usada para os paciente com leucemia, vem ajudando e que o Brasil é um dos pioneiros nessa terapêutica. “Mas ainda há muitos estigmas que precisam ser superados para alcançarmos uma assistência melhor”, defende. Em Salvador, os portadores da anemia falciforme podem encontrar assistência nos Ambulatórios Especializados em Doença Falciforme do Brasil, localizados no Multicentro Vale das Pedrinhas e no Centro de Atendimento Especializado(CAE), na Avenida Carlos Gomes(Centro).
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