"Dois de fevereiro é dia de Iemanjá, levo-te oferendas para lhe ofertar". A canção 'Canto Ao Pescador', composição de Pierre Onassis e Jauperi, traduz bem uma das tradições de todo dia dois de fevereiro: o presente entregue nas águas como forma de agradecimento à Rainha do Mar.
Entre as oferendas deixadas para o orixá estão as flores, a vela, muita alfazema e axé. No entanto, há quem capriche um pouco mais no presente para Iemanjá, que é conhecida pela vaidade e por estar ligada ao universo feminino.
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Em entrevista ao iBahia, Pai Davi de Oxóssi, de 57 anos, reforçou a narrativa de que a Rainha do Mar também é sinônimo de vaidade. Além das flores e do perfume, que foi derrubado no balaio para evitar que o vidro fosse para o mar, Davi deixou alguns outros itens para Iemanjá.
"Estou batons, brincos, calcinhas, porque ela é uma mulher vaidosa e gosta de boniteza (sic)", contou.
O pescador Manoel Santana, de 49 anos, que há vinte anos faz questão de trabalhar na festa de Iemanjá, levando fiéis para a entrega do presente em alto mar, conta que ao longo do tempo em que faz o transporte, já viu de tudo um pouco.
"Já levei uma celebridade para dar o presente, e por aqui o pessoal já trouxe de oferenda caixa de chocolate, perfume importado. É a fé de cada um, as vezes levam corrente de ouro, pente, vai do mais simples ao mais luxuoso. A gente também contribui com os balaios que estão aqui em cima, na Colônia de Pescadores", afirma.
É possível encontrar também quem faça alguns sacrifícios pela Rainha, como foi o caso de Lucimar de Souza, 47 anos, vendedor ambulante, que vendeu o celular para presentear Iemanjá.
"Eu vendi um celular para comprar um presente para Iemanjá. Nunca vi ela, mas diz que ela tem um cabelão maravilhoso, ela é minha vida."
Na Casa de Iemanjá, localizada no Rio Vermelho, é possível ver uma variedade ainda maior de presentes. Em sua grande parte, as oferendas são ligadas ao cuidado com o corpo, creme hidratante, perfume, muito sabonete, pentes.
É possível encontrar ainda bonecas, desde a tradicional Barbie as bonecas de bebê. "Mudou muito, porque a gente colocava frasco de perfume, muitos brincos, muitas joias, bonecas. Agora estamos colocando mais flores, por causa dos peixinhos", afirmou a ialorixá Mãe Hilda de Coutos, de 83 anos.
"Nesses trinta anos a gente já viu foi coisa. Tinha muita champanhe francesa, pulseira de ouro, muitas joias. Amanhã, no mergulhar, a gente tira muita champanhe, e joias preciosas", relata Getúlio Santana, de 67 anos.
O empresário, proprietário do Postudo, no Rio Vermelho, que auxilia na organização e coordenação da Casa de Iemanjá, conta que apesar de identificar os presentes diferentões, há alguns anos é possível perceber uma conduta mais ecológica dos devotos.
"Aqui na Casa de Iemanjá, por exemplo, a gente sempre orienta o pessoal a deixar o presente sem o plástico. Se vai dar sabonete, que tire da embalagem, a Alfazema pode jogar nas flores. No próximo ano a gente vai intensificar essa ação com os órgãos do meio ambiente."
Limpeza do Mar para Iemanjá
No último dia 30 de janeiro, voluntários se uniram em uma ação de educação ambiental na praia da Paciência, em Salvador, para limpar o mar antes da festa. A ação irá se repetir no pós 2 de fevereiro.
O empresário afirma que pescadores farão a limpeza para recolher itens de difícil decomposição, para evitar a poluição do mar.
"Faremos a limpeza do mar para Iemanjá, é uma ação da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) em conjunto com os pescadores aqui da colônia. Sete horas da manhã estaremos mergulhando para fazer a limpeza do mar. Há alguns anos percebo que as pessoas estão se esforçando para ser mais sustentáveis, trazendo pente de madeira, alfazema jogada no balaio, e é uma preocupação que a gente tem que espalhar."
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AUTOR
Bianca Andrade
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