A Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) venceu o Prêmio ‘Profissionais da Música 2023’ na categoria 'Orquestras Sinfônicas'. E o título indica que o estado possui a melhor orquestra sinfônica do país neste ano. Quem está à frente do grupo, desde 2011, é o maestro Carlos Prazeres.
Atualmente, ele é considerado um dos mais requisitados maestros brasileiros de sua geração. E por tamanha representatividade e importância para os baianos, o iBahia entrevistou o músico oboísta e também diretor da Orquestra Sinfônica de Campinas.
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O currículo desse carioca, que possui o título de cidadão baiano honorário desde 2015 e título de cidadão soteropolitano em 2021, é de impressionar. Ele, por oito anos seguidos, foi regente assistente na Orquestra Petrobras Sinfônica do Rio de Janeiro. Já dividiu o palco com artistas como Antonio Meneses, Nelson Freire, Hélène Grimaud, entre outros.
Como maestro convidado, tem dirigido importantes conjuntos sinfônicos, tais como a Orchestre National des Pays de la Loire e a Sinfônica de Roma. Estudou regência com Isaac Karabtchevsky, é graduado em oboé na UNI-Rio sob a orientação de Luis Carlos Justin. E foi ainda bolsista da Fundação VITAE durante seus estudos de pós-graduação na Academia da Orquestra Filarmônica de Berlim/Fundação Karajan, sob a orientação de Andreas Wittmann.
Mas, a simplicidade e sabedoria do músico exala sem que ele mesmo perceba. Quando questionado sobre quem é Carlos Prazeres fora dos palcos, ele disse: "Sou um cara apaixonado por música, amante dos botecos. Uma pessoa que é simples e vive da música e para a música".
Ser fio condutor de música clássica, no Brasil, não é fácil. Um país com tantas diversidades e diferenças culturais, restringe - e muito - as possibilidades. Mas, Carlos comprou a ideia desse ‘amar musical’ desde muito novo. Poucos sabem, mas a música é algo hereditário da família do maestro. A mãe dele era cantora lírica, o pai é maestro e o irmão também seguiu o mesmo caminho, tornando-se maestro. Diante de tantas influências, perguntamos quando ele se enxergou regente.
"Meu pai, o maestro Armando Prazeres, já tinha me influenciado bastante, mas eu era apenas um oboísta. E quando cheguei da Alemanha, tudo começou a fazer sentido para mim, de que eu poderia me utilizar de uma arma maior do que o oboé somente. Muito embora, o oboé seja importantíssimo, mas é preciso uma arma maior para mudar uma sociedade. Eu nunca quis só me conectar com música, eu sempre quis me conectar com a mudança social através da cultura. E a regência me permite isso, me permite pensar em projetos que mudam a sociedade. Então foi através disso que eu pensei que poderia ser maestro, já tinha influência do meu pai, maestro Armando Prazeres, hoje eu tenho um irmão que seguiu esse mesmo caminho...Então, somos uma família de maestros. São três maestros apenas num núcleo".
Emocionado com o prêmio, que valida os esforços e quebra de padrões musicais, Carlos Prazedres relata que está muito contente com o envolvimento de todos e que a Bahia vem dado ‘régua e compasso’ para esse novo momento da música da OSBA.
"Eu não tenho palavras para descrever minha felicidade ao receber esse prêmio, porque eu sei que esse prêmio não é só da Orquestra Sinfônica da Bahia. Esse prêmio é também da sociedade baiana. Esse prêmio é do nosso público crush, porque nós somos uma simbiose. E justamente por pensarmos nessa simbiose, pensarmos num acordo firmado entre orquestra e público, que a OSBA hoje revoluciona a música de concerto. E, claro por assim fazer, ela acaba recebendo as críticas advindas do ego de outras de outras entidades e outros gestores. Mas, eu acho que ela tem que continuar nesse caminho, o caminho da vanguarda, porque a Bahia é vanguarda, a Bahia é farol e a Orquestra Sinfônica da Bahia não deixa de ser Bahia. Ela está sempre sendo Bahia, independente da natureza de onde eu vim, de onde muitos músicos vieram. A Orquestra Sinfônica da Bahia é Bahia, ela é e representa a sociedade baiana", disse Prazeres.
Música fora dos palcos
É no mínimo curioso pensar no que exatamente um grande maestro, como Carlos Prazeres, curte ou escuta nas horas de lazer. Além de ser oboísta e dirigir uma orquestra, o que o carioca soteropolitano busca para se reconectar, criar ou simplesmente relaxar?! Com muita gentileza, ele explicou:
"Minha playlist musical é muito eclética. Ela vai desde a música de Bruckner, Messiaen, Mahler - que é um dos meus compositores preferidos -, até a música de Johann Sebastian Bach, que me liga espiritualmente com algo superior. Mas, ela passa por Coldplay - que eu sou apaixonado -, Radiohead, e claro toda a MPB: Caetano Veloso e Gilberto Gil são, talvez, meus compositores preferidos. Mas, eu adoro a música mineira do Clube da Esquina, Wagner Tiso - meu querido amigo, Beto Guedes, Lô Borges, Flávio Venturini. Eu adoro samba, eu adoro Paulinho da Viola. Eu adoro pagode, eu passei a gostar de pagode e, graças a Deus, cheguei também aos bregas hoje em dia. Eu tô completamente apaixonado pela música brega, eu acho que ela representa como poucas esse nosso Brasil tão grande e, por vezes, tão desigual".
Gostar de música brega é algo surpreendente e quebra um estereótipo. Entretanto, esse gosto destaca o desejo íntimo do maestro na busca pela união musical, na expansão e simbiose trazida - aqui pra nós - nos últimos trabalhos da Osba. Esse reconhecimento por parte do público, para Carlos, é um dos maiores presentes que ele recebe pelo trabalho executado por ele e sua equipe.
"O que eu mais gosto fora dos palcos é quando eu vejo, que tô andando na rua, e de repente vem uma pessoa de um ambiente completamente aleatório como uma feira, para falar do fazer sinfônico, falar de como elas gostam da orquestra. Isso é o que me deixa muito feliz porque me conecta com uma sociedade que, sem saber, está ávida por conhecer música de concerto".
Desafios da OSBA
A OSBA foi criada em 30 de setembro de 1982. Em seus espetáculos, o grupo tem público cativo e sob a direção do maestro Carlos Prazeres, ela vem inovando e trazendo projetos diferenciados que atraem espectadores de várias idades. A OSBA já apresentou à população baiana projetos como CineConcerto, Futurível, BaileConcerto e o Sarau OSBA no MAM. E os desafios não param por aí…
"A Orquestra Sinfônica da Bahia, a partir de 2014, me colocou diante de um grande desafio. Ela acabou, por uma confluência de fatores, permanecendo com pouquíssimos músicos, praticamente nos impossibilitando de se apresentar na nossa casa - que é o Teatro Castro Alves -, nos impossibilitando de levar música como a gente queria para o público da Bahia. E foi aí que eu tive que usar criatividade, foi aí que eu percebi que uma orquestra sinfônica é uma usina de potencialidades muito maior do que simplesmente executar, de forma convincente e bacana, música de concerto. Ela pode ser muito mais do que isso. Ela pode ser um veículo condutor de cultura para todo o estado”, explicou Carlos.
Dentro dessa perspectiva, mudar uma consciência social se torna um sonho e uma expectativa de futuro para aqueles que estão neste núcleo e atraem novos amantes de música.
“Ela (a orquestra) pode mudar uma sociedade, então foi aí - através do sarau - que eu percebi que o meu maior desafio era entender uma orquestra como uma grande potencialidade e pensar na vanguarda da música de concerto, pensar no concerto de futuro. Hoje, nós temos o desafio de fazer com que esse tipo de visão, esse tipo de projeto que tantas vezes sofre críticas desmedidas pela dificuldade que a elite e o coronelismo musical tem de aceitar novas ideias, siga em frente porque essa é a missão da Osba", finalizou o maestro.
Mayra Lopes
Mayra Lopes
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