“Nós, mulheres negras, somos guerreiras e não devemos nunca abaixar a cabeça para ninguém”. A afirmação da designer de moda Najara Black, 32 anos, exalta o poder das mulheres que acreditam na sua beleza. Atitude e empreendedorismo marcam uma geração que não se deixa abater pelas dificuldades e supera os desafios com criatividade.
Criadora da marca N Black, Najara conta que a necessidade de afirmação a motivou a produzir moda em Salvador. “Todo mundo quer dizer que é lindo e que se aceita do jeito que é. Mas antes era algo escondido, resguardado. Isso mudou há pouco tempo e as minhas criações valorizam o meu povo de origem”, assegura. Ela é plus size e decidiu estrelar fotos da próxima campanha publicitária de sua marca, como uma afirmação não só da cor, mas também das formas.
AFIRMAÇÃOOutro exemplo de afirmação é a Marcha do Empoderamento Crespo, realizada no início do mês - 41 anos depois de uma caminhada histórica que se aconteceu no Carnaval de Salvador, em 1974. O intuito foi conscientizar a juventude negra sobre sua beleza, quebrando paradigmas que ainda existem na sociedade. “Há várias belezas e estéticas e a negra é uma delas. Algo que foi negado por anos e precisava ir para as ruas. Usar o cabelo crespo natural neste contexto racista é um ato político”, afirma Naira Gomes, antropóloga e uma das organizadoras da marcha.
A marca Mukunã Dreadlocks também vai na contramão dos padrões ao valorizar o negro. A equipe de empreendedores, que atua há três anos na capital baiana, tem como objetivo empoderar o povo negro através da representatividade dos dreads. A ideia surgiu quando o casal Ana Vitória Almeida e Cláudio Argolo ficou desempregado e passou a pensar em alternativas para empreender.
“Isso aconteceu em 2012, no mesmo ano que fizemos nossos dreadlocks. Após os dreads, todas as portas se fecharam. Foi aí que tomamos fôlego para trabalhar somente com nossa afirmação e lutar contra o preconceito, fazendo ainda mais cabeças pela cidade”, conta Ana.
REPRESENTATIVIDADEA fotógrafa, artista visual e modelo Helen Mozão é outra inquieta quando o assunto é empoderamento. No Afro Fashion Day Salvador, pintou o rosto do público com motivos inspirados nas antigas tribos africanas. “É uma forma de dizer que o negro se reconhece, que reconhece sua origem”, explica. Outra iniciativa que criou é o projeto fotográfico Preta Gorda, que registra imagens de mulheres reais. “O ensaio surge com a ideia de mostrar quem não é retratada na mídia, que é fora dos padrões impostos pela sociedade, mostrando seu lado delicado, mas também seu lado forte, a mulher no mais íntimo”, garante a fotógrafa.
Para Luma Nascimento, 23, pesquisadora da área de educação e relações étnico- raciais, o grande aumento de negros com representatividade étnica e ideológica aponta para novas configurações sociais. “O empoderamento negro vem contar a história do novo brasileiro, contribuindo nas diversas relações que proporcionam os protagonismos e desconstruções do racismo”, diz. Luma também é designer de objetos e acessórios e estilista da marca Dresscoração e usa sua imagem para reforçar a estética que observa em suas pesquisas. A seguir, confira as histórias de três dessas mulheres negras poderosas.
NajaraNajara Black assumiu suas curvas e é a estrela da nova campanha da marca de roupas que criou, a N Black (Fotos: Divulgação) |
“Além de sofrer com o preconceito por ser mulher, negra e empreendedora, já sofri com o descaso de pessoas que não acreditavam no meu talento”. É o que diz Najara Black, enquanto lembra o início de sua carreira como designer de moda, há 13 anos. Hoje, com 32 anos, ela colocou nas ruas seu trabalho e é referência em criações inspiradas na cultura negra. Nascida em Cruz das Almas (BA), ela conta que sua maior inspiração é a mãe, que criou três filhos sozinha. “Minha guerreira é o meu exemplo. Sem a presença de um pai, conseguiu nos educar sem deixar de lutar todos os dias pelos nossos direitos”, conta.
Sua marca possui loja na rua Carlos Gomes, no centro de Salvador, e seu maior sonho é expandir franquias em todo país. “Querer é poder e sou do tamanho dos meus sonhos. Acredito que, quando a gente coloca verdade no que faz, vira sucesso e exemplo para os que estão ao nosso redor”.
LumaLuma Nascimento é pesquisadora de relações étnico-raciais, produtora cultural e criadora da marca de roupas Dresscoração |
Mãe professora, pai produtor cultural e irmã de Loo Nascimento, mulher influenciadora e criativa na área da moda. Essa é a família de Luma Nascimento, que vive desde pequena em meio a discussões sobre educação, questões sociais e valorização da identidade e cultura. “Cresci e vi que as minhas influências familiares tornaram-me a pessoa que sou hoje. Com eles construí minha essência, aprendi a quebrar padrões, a lutar e almejar meu espaço. Aprendi a ser negra, brasileira pertencente e conhecedora da minha cultura”, assegura a estudante de Pedagogia e pesquisadora na área de educação e relações étnico-raciais, produtora cultural e criadora da Dresscoração em parceria com a irmã. A marca de roupas e acessórios participou do Afro Fashion Day Salvador, com direito a Luma na passarela fazendo as vezes de modelo.
Ana VitóriaAna Vitória criou o estúdio Mukunã Dreadlocks no ano de 2012 (Foto: Kelvin Yule/Divulgação) |
Criada no bairro de Pernambués, Ana Vitória Almeida começou a fazer dreads de lã no cabelo aos 16 anos nela mesma e nas amigas da escola, sem cobrar nada. Em 2012, viajou para um encontro de estudantes em Teresina, Piauí, e lá começou a oferecer serviços de dreads de lã para quem participava do evento. O intuito era conseguir dinheiro para bancar os gastos da viagem. “Quando voltei para Salvador, criei junto com meu marido o conceito do negócio e depois a marca Mukunã Dreadlocks, com a ajuda de um amigo designer”, diz Ana. Hoje, o casal tem uma filha de cinco meses e planos de criar um espaço de atendimento que também seja uma galeria de arte. “Queremos ampliar nossa oferta de xampus e acessórios, além de ter um espaço para que outros afroempreendedores possam expor o seu trabalho, sejam roupas ou fotografias”, ressalta.
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