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SALVADOR

Começa em maio reforma em fortalezas do Porto da Barra

Carybé e Pierre Verger terão exposição permanente nos fortes de Santa Maria e São Diogo. Licitação para obras, que custarão R$ 3,5 milhões, será lançada este mês

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10/03/2015 às 9:05 • Atualizada em 27/08/2022 às 9:34 - há XX semanas
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Foto: Marina Silva/Correio*
Construídos no século XVII para proteger Salvador, então capital do Brasil, dos ataques holandeses, os fortes de Santa Maria e de São Diogo, no Porto da Barra, viraram cartões-postais da cidade pelas mãos de um argentino, que aqui desembarcou em 1938, e de um francês, que chegou oito anos depois. “Carybé desenhou e Verger fotografou. Esses dois espaços, esse recorte e o mar da baía não são estranhos à obra”, diz o antropólogo e museólogo Raul Lody, experiente curador de exposições dos dois artistas. Carybé (1911-1997), baiano nascido na Argentina, e o francês Pierre Verger, dois visitantes que aqui criaram raízes e se tornaram personagens icônicos, vão ganhar espaços culturais a partir de janeiro de 2016 nas fortalezas. Fechado à visitação desde 2012, por conta das condições físicas, o Forte de Santa Maria será restaurado para abrigar a “casa” do fotógrafo Verger. Já o Forte de São Diogo, que ainda está aberto à visitação, também passará por obras para receber um centro em homenagem ao artista plástico Carybé. Licitação “A licitação sai agora em março”, assegura o secretário municipal de Cultura e Turismo, Érico Mendonça. “Estamos colocando dentro do aniversário da cidade. A nossa expectativa é que em maio a gente assine o contrato e são seis meses de obra. Depois, mais dois meses para implantação da exposição permanente”, explica. Embora tenha objetivo turístico e cultural, o projeto de obras e restauro das duas estruturas será feito pela Secretaria Municipal de Manutenção (Seman). Os dois espaços serão inaugurados simultaneamente. Os R$ 3,5 milhões, recursos para reforma e restauro, vêm da prefeitura de Salvador. Serão R$ 2 milhões aplicados nas obras do Forte de São Diogo e mais R$ 1,5 milhão destinado às intervenções no Forte de Santa Maria.
Foto: Divulgação
Lei Rouanet Já a instalação das exposições permanentes será paga com verba da Lei Rouanet, através do projeto Fortes na Cultura — as duas mostras custarão cerca de R$ 2 milhões, segundo Mendonça. Mas, apesar de abrigar os centros culturais por pelo menos dois anos — período de cessão dos espaços pelo Exército à prefeitura —, os fortes continuarão sendo administrados pelos militares. “Os fortes não serão transformados em espaços Verger e Carybé. Eles abrigarão os espaços culturais dedicados a Verger e a Carybé, mas continuarão sendo Forte São Diogo e Forte de Santa Maria”, explica o assessor cultural do Comando da 6ª Região Militar, coronel Gurjão. Café Na prática, o que será dedicado aos trabalhos de Verger e Carybé serão os salões de exposições dos fortes. Também será instalado do lado de fora de cada uma das construções um café — em formato de quiosque sobre um tablado —, que não interfira na estrutura original das edificações. O projeto foi elaborado durante parte do ano de 2014 e aprovado pelos institutos do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) somente em janeiro deste ano. Os dois prédios são tombados. O Forte de Santa Maria, pelo Iphan, desde 24 de maio de 1938. Já o São Diogo, pelo Ipac, em 5 de novembro de 2002. Além das obras de reforma e restauro, o projeto do arquiteto Sidney Quintela prevê elevadores. No Forte de Santa Maria, construção de 1627, haverá um elevador interno. Já no Forte de São Diogo, de 1629, o elevador será externo. Hoje, o São Diogo encontra-se aberto à visitação e recebe cerca de 200 visitantes por mês. No momento, não há exposições. Os eventos culturais do Exército também foram suspensos. “Ele não é muito visitado porque é pouco conhecido, fica meio que escondido no Porto da Barra e não tem visibilidade”, diz o coronel Gurjão. Já o Forte de Santa Maria está fechado ao público desde 2012. “O pessoal sempre aparece aí, principalmente os turistas, tiram foto, perguntam o que tem dentro, porque não está aberto”, diz o ambulante José Carlos Paixão Oliveira, 55 anos, que trabalha ao lado do forte. O prédio acumula lixo nas laterais e tem vidros das janelas quebrados. Até uma placa entalhada no muro, que relata a invasão holandesa de 9 de maio de 1624, foi pichada. Atrativos Para preparar os espaços, a prefeitura firmou um convênio com a Fundação Pierre Verger, que há 27 anos trabalha com a divulgação da obra do fotógrafo francês. A curadoria das exposições será feita por Lody, antropólogo, museólogo, curador da Fundação Pierre Verger e também do Instituto Carybé. Lody conta que o trabalho de seleção das peças que serão levadas para os fortes ainda está em fase inicial. “Os dois artistas eram amigos pessoais e tinham coisas em comum: candomblé, Bahia, povo daqui, cultura”, explica. Os dois, inclusive, vieram à Bahia após a leitura do mesmo livro: Jubiabá, de Jorge Amado. Lody antecipa que, além das obras, objetos pessoais dos artistas estarão nas exposições. “É muito importante o público saber quem são esses intérpretes da Bahia. Vamos ter objetos pessoais. Verger não tem a obra exclusiva na Bahia, como Carybé”, afirma. contrato Segundo Mendonça, além do material sobre Verger e Carybé, os espaços também vão contar histórias dos próprios fortes — faz parte do contrato da prefeitura com o Exército. “Sob o ponto de vista da cultura, eles resgatam o patrimônio arquitetônico e histórico da cidade. E sob o ponto de vista turístico, agregam dois novos atrativos. O turismo cultural é o nosso maior diferencial sob o ponto de vista da competitividade com outros destinos”, destaca. Para a integrante da Associação dos Moradores da Barra Sonia Garrido, a revitalização é bem-vinda, embora o projeto ainda não tenha sido apresentado com detalhes aos moradores. “O turismo que a Barra tem hoje é o da cerveja. Precisamos do turismo de cultura”, diz.

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