Marcada para acontecer na tarde desta quarta-feira (31), a primeira audiência do caso Davi Fiúza, que desapareceu em 2014 durante uma abordagem policial no bairro de São Cristóvão, em Salvador, foi adiada pela Justiça e uma nova sessão só deve acontecer no dia 7 de outubro.
De acordo com a Anistia Internacional, que acompanha o caso, a mudança aconteceu porque a principal testemunha, que viu Davi sendo levado por pelos policiais militares, não estava presente. A pessoa está no Sistema Nacional de Assistência a Vítimas e Testemunhas e a Justiça alegou não ter tido tempo suficiente para levá-la ao local com escolta armada.
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A sessão, que havia sido marcada em abril, estava prevista para 13h30 desta quarta. Até a noite, suspeitos e testemunhas deveriam ser ouvidos na Vara de Audiência Militar, que fica no bairro do Bonfim. Familiares do garoto também compareceram ao local para acompanhar as oitivas. Entre elas, a mãe de Davi.
Antes do início da audiência, Rute Fiúza se emocionou e falou com a TV Bahia sobre a importância do primeiro passo para dar um fim ao caso, que completa 8 anos no dia 24 de outubro. A família segue indignada.
"O meu coração da mãe é um misto de indignação e esperança. Eu preciso 'esperançar', como toda mãe. Hoje é o primeiro passo para que a gente tenha vitória sobre isso, e a minha principal vitória não é raiva, não é ódio, é poder dar um funeral ao meu filho. São quase oito anos. Está chegando aniversário de vida e de morte dele, em outubro. Eu preciso disso. Eu preciso disso para acalmar a alma. É muito difícil, porque o meu filho não teve direito de ir e vir. São oito anos que eu espero por ele, mas eu sei que ele não volta mais. De qualquer forma, ele está vivo dentro de mim, e vai continuar vivo até o fim da minha vida".
A audiência foi marcada para 13h30 e não havia previsão de quando seria encerrada. Ao todo, são seis testemunhas de acusação - entre elas, pessoas que afirmam ter visto o jovem ser levado pelos PMs. Além da Anistia, a Organizações das Nações Unidas acompanha o caso. A diretora de programas da Anistia, Alexandra Montgomery, participou da sessão.
"Trata-se de um desaparecimento forçado, que é quando as autoridades se negam a dizer o paradeiro de uma pessoa com a qual elas mesmo desapareceram. Consta dos autos algumas testemunhas, que são oculares, e viram desaparecimento do Davi, quando ele foi abordado e colocado dentro de um veículo. Ele foi abordado inicialmente por policiais à paisana, mais nesse grupo de policiais haviam duas viaturas e outros policiais fardados", falou.
Caso
Quando Davi Fiúza sumiu ele tinha 16 anos. A situação aconteceu no dia 24 de outubro de 2014. Na época, o adolescente estava conversando com uma amiga, na comunidade Vila Verde, quando policiais militares chegaram na região.
A família denunciou que ele foi encapuzado com a própria roupa, teve mãos e pés amarrados e foi colocado no porta mala de um dos carros dos policiais, que não tinha plotagem. Os agentes seriam do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) e Rondas Especiais (Rondesp).
Apesar do inquérito policial ter indiciado os 17 PMs que participaram da abordagem, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) ofereceu denúncia contra sete deles, por sequestro e cárcere privado, em 2018, 4 anos após o crime.
No mesmo ano, a Polícia Militar instaurou um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta dos PMs indiciados. Até então, não foi divulgado um resultado dessa apuração.
Desde o dia do desaparecimento do filho, a mãe de Davi conta que já percorreu delegacias, Instituto Médico Legal e até locais de "desova" de corpos para tentar encontrar indícios dele, mas nunca teve pistas do garoto.
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Redação iBahia
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