A Anistia Internacional, ONG de defesa dos direitos humanos, vai denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) o caso do adolescente Davi Fiúza, desaparecido no dia 24 de outubro, no bairro de São Cristóvão, após a ação de policiais, segundo a mãe do garoto, Rute Fiúza. Ela e pais de outros adolescentes baianos desaparecidos foram recebidos, ontem, no escritório da AI, no Rio de Janeiro.
“No caso do Davi, há um grupo de trabalho das Nações Unidas sobre desaparecidos que já nos procurou para apresentar esse caso formalmente. A gente está falando com a mãe do Davi e vamos levar esse caso para a ONU. Em alguns casos, quando não há uma solução, também podemos apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos [da Organização dos Estados Americanos - OEA ], e a ideia é esta”, explicou o assessor de Direitos Humanos da AI, Alexandre Ciconello.
Os pais e mães das vítimas foram levados ao local por intermédio dos grupos Quilombo Xis e Reaja ou Será Morto(a). Além do Caso Davi Fiúza, outras três denúncias foram apresentadas: o caso de um jovem desaparecido durante operação policial no Nordeste de Amaralina, outro caso que ocorreu em Canabrava, poucos dias após a morte de um policial no bairro, e o desaparecimento de um adolescente que estava cumprindo medida socioeducativa e, após a liberação, nunca mais foi visto.
Logo após a reunião, Ciconello já encaminhou a denúncia através do sistema Ação Urgente, que levará o caso ao conhecimento de grupos ativistas em mais de 100 países onde a AI possui escritórios — ontem mesmo, sites da Bélgica já haviam reproduzido a história. Segundo Alexandre, a iniciativa tem como objetivo exercer pressão nos órgãos governamentais.
Para ele, além da impunidade, familiares ainda enfrentam intimidações e ameaças. “Rute nos mostrou mensagens que ela tem recebido por celular, onde o emissor envia imagens de mulheres assassinadas com legendas como: ‘É isso o que fazemos com mulheres fortes’”, citou.
Apesar de não precisar o número de denúncias da Bahia, o assessor comentou que o volume de ocorrências surpreende. “O número de denúncias vindas do estado da Bahia tem crescido bastante desde o ano passado e isso nos alertou sobre os desaparecimentos forçados que têm ocorrido principalmente em ocasiões onde há presença da Polícia Militar baiana”, informou o assessor. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que todas as medidas cabíveis para identificar as causas do desaparecimento do jovem Davi Fiúza estão sendo tomadas. O caso está sob responsabilidade da Delegacia de Proteção à Pessoa e, de acordo com o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Jorge Figueiredo, várias vertentes são investigadas, inclusive, a de participação de policiais.
Para isso, os profissionais da segurança pública que estavam de plantão no dia do ocorrido estão sendo ouvidos no inquérito. O órgão ressaltou o comprometimento com as investigações, ressaltando a demissão de 104 policiais no período 2013/2014, atribuindo ao fortalecimento das corregedorias vinculadas à Secretaria. Contudo, a assessoria do DHPP informou que, até o momento, a investigação não foi encaminhada a nenhum dos delegados do departamento e aguarda a deliberação de Jorge Figueiredo.
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