História
Há mais de 300 anos, uma negra da Costa do Marfim, chamada Josefa Santana, veio ao Brasil, especialmente a Salvador, em busca de suas irmãs que tinham sido vendidas no mercado escravo. Chegando aqui, Josefa não encontrou ninguém e acabou comprando uma região, que dividiu lotes para vender. Nesta região, uma forte raiz africana trazida pela negra foi ganhando força. A música, a comida e os costumes iriam caracterizar, nos próximos séculos, aquele local hoje conhecido como Candeal.
Atualmente, a pequena região pertencente ao bairro de Brotas busca sua regulamentação para se tornar bairro, pois assim já é considerado pelos moradores. O Candeal é dotado de histórias marcadas por luta, música e pessoas, que há anos dedicam admiravelmente parte do seu tempo em prol da comunidade. As associações, que trabalham em ações educacionais dentro da região, são frutos de muito esforço e, mesmo marcadas por muitas conquistas, ainda enfrentam muita dificuldade.
Uma conhecida figura que é diretamente relacionada à comunidade é o cantor Carlinhos Brown. Nascido e criado no Candeal, ele, através do seu dom musical, ganhou sucesso e levou mais visibilidade ao seu lugar de origem. O músico foi o iniciador da famosa Timbalada e fundou a Associação Pracatum.
Pracatum - Em 1994, o Tá Rebocado foi o principal projeto desenvolvido pela Pracatum. As intervenções realizadas focaram melhorias em urbanização (Infra-estrutura, Habitação e Equipamento Comunitário). A associação também criou outros projetos como a Escola de Música Pracatum, que dispõe de uma estrutura apropriada para o ensino de música profissional, com estúdio de gravação, salas de aula, biblioteca, salas para práticas em grupo e sala de instrumentos. A Cooperativa de Acessório em Moda que busca valorizar e resgatar a cultura do bairro do Candeal através da produção de ítens de moda com a formação de uma cooperativa de trabalho composta por jovens da comunidade.
A diretora de Desenvolvimento Social da Pracatum, Ruth Buarque, está há cinco anos na associação e diz que o mais bonito em todo o trabalho feito pelo Tá Rebocado foi a abertura para que a comunidade também participasse. “Foi um trabalho em conjunto, as pessoas puderam opinar sobre a casa onde iriam morar, tudo foi feito para que, dentro do orçamento que poderia ser feito, essas pessoas ficassem satisfeitas. O Tá Rebocado nunca acaba, está sempre se renovando”, afirma Ruth.
Associação 9 de Outubro - Há 20 anos atrás, Graciete Batista, mais conhecida como Ciete, liderou um grupo de oito mulheres que lutaram para ocupar uma área abandonada dentro do Candeal, com o objetivo de construir suas casas. Ela conta que sofreu muita repressão e chegou a ser agredida por policiais. “Não queriam que a gente ficasse aqui. Foi muita luta. Eu apanhei, perdi dente, mas eu consegui. Eu só queria construir nossas casas. A gente não precisa lutar e correr da luta. Temos que persistir nela”, afirma Ciete.
Hoje, a rua e a associação se chamam 9 de Outubro, porque esse foi o dia em que conseguiram finalmente se fixar no local. Ciete e os outros moradores buscaram doações que ajudaram na construção das casas e na sede da associação que hoje realiza um trabalho honrado.
A 9 de Outubro possui aulas de artesanato, reforço escolar, aulas de capoeira e uma cooperativa de costureiras que criaram a própria marca de roupas, chamada Candideal. Ciete lamenta as dificuldades que ainda enfrentam, mesmo depois de tantas conquistas. A falta de apoio do governo e a pouca visibilidade ao público prejudica o trabalho que realizam. Porém, ela afirma que mesmo com os impasses, a associação segue em frente realizando seu trabalho na comunidade através das doações que recebem.
Associação Defesa e Progresso - A associação existe há mais de 30 anos. Começou com uma ideia de senhoras que decidiram adotar um lugar para se reunirem semanalmente. A partir daí, os encontros se tornaram cada vez mais frequentes e mais pessoas se agregaram, e hoje a associação é muito ativa dentro do Candeal.
A presidente da associação, Arinalva Arcanjo, a Tita, conta que o trabalho que realizam é muito procurado por jovens meninas da comunidade. “ Temos aula de vários tipos de dança, e isso atrai muito as jovens daqui, montamos coreografias e apresentações”. Além da dança, a Defesa e Progresso possui aulas de reforço escolar e terapia.
ALAS – Lactomia Ação Social (ALAS) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que foi iniciada pelo atual presidente Jair Rezende. A associação nasceu nos anos 90, a partir do encantamento de Jair pelo som da extinta banda Vai que Vem, de Carlinhos Brown, ainda quando tinha nove anos.
A sede física da ALAS só foi construída em 2008, porém, durante todos os anos, Jair realizou junto aos meninos da comunidade um trabalho voltado para a música. A principal característica do grupo é a utilização de materiais reaproveitados do lixo, e a transformação destes em instrumentos de percussão, figurino e cenário.
Ao longo dos anos foi se criando um leque e a ALAS adotou novas atividades como teoria musical - violino, flauta -, reforço escolar e informática. Seu forte é música e educação. A associação chega a atender mais de 200 pessoas, porém, por falta de recursos, muitas vezes algumas aulas precisam ser feitas em regime alternado, acontecendo menos vezes por semana do que o habitual. A Groovelandia é um grupo formado pela associação, que realiza apresentações e ensaiam nos finais de semana nas ruas do Candeal. É um bonito trabalho refletido no som produzido pelos jovens.
Localização
<br /></p> <p><small><span class="c21867"><a href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=embed&hl=pt-BR&geocode=&q=Candeal,+Salvador+-+Bahia&aq=0&sll=-14.239424,-53.186502&sspn=38.162799,77.519531&ie=UTF8&hq=&hnear=Candeal,+Salvador+-+Bahia&t=h&ll=-12.993937,-38.481073&spn=0.02509,0.059996&z=14&iwloc=A" data-htmlarea-external="1" rtekeep="1">Exibir mapa ampliado</a></span></small><br />
PersonagemCarlinhos Brown teve uma infância pobre no Candeal. Porém, sua ligação forte com a música o aproximou das questões sociais. O músico criou vários projetos, programas e grupos musicais que modificam a vida de crianças e jovens carentes. Seus primeiros instrumentos, que marcariam toda sua carreira, foram os de percussão.
Nos anos 90, Brown se projetou nacionalmente como líder da Timbalada. O grupo reuniu mais de 100 percussionistas e cantores, chamados de "timbaleiros", a maioria jovens do Candeal. Brown também é responsável pela criação de outros projetos na área cultural. Em 2007, o músico arrendou o casarão do antigo Mercado do Ouro, no bairro do Comércio, em Salvador, com o objetivo de transformá-lo em um centro cultural, hoje conhecido como Museu du Ritmo.
Dentro do Candeal, Brown fundou a Associação Pracatum, que realiza um trabalho de desenvolvimento social no local. Tudo é desenvolvido através da participação comunitária. Além disso, as ações são atreladas a parcerias governamentais.
Carlinhos é considerado atualmente um dos melhores músicos do Brasil. Seu trabalho já foi consagrado internacionalmente, e na Espanha, é conhecido como Carlito Marrom.
Curiosidades
Os líderes comunitários Jair, Ciete e Tita contam que toda a ajuda que receberam até hoje veio de fora do país. Em 2004, o espanhol Fernando Trueba produziu o documentário O milagre do Candeal, e com isso, a comunidade ganhou uma grande visibilidade no exterior. Encantados com o trabalho realizado, a Cooperativa Espanhola financiou a construção da sede das associações Lactomia e 9 de Outubro. A associação Defesa e Progresso foi construída através de bingos, eventos dançantes, rifas e ajuda de amigos. Porém, no ano de 2008 recebeu recursos da Cooperativa para que pudesse dar continuidade à projetos.
Os moradores locais viveram momentos de celebridade ao atuarem como protagonistas de suas próprias histórias no documentário. Ciete e Tita viajaram para Barcelona, a convite de Trueba, e participaram do Fórum Universal das Culturas – evento internacional, realizado com o objetivo de contribuir para uma aproximação efetiva entre as culturas.
Foram convidadas a ministrar palestras sobre suas práticas dentro do Candeal. “ Acho que eram mais de 30 mil pessoas. Falamos sobre o nosso trabalho e fomos aplaudidas de pé, foi muito emocionante”, conta Ciete.
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