O rosto está coberto. A máscara, uma espécie de pano preto enrolado na face, não deixa que nada além dos olhos seja visto. Eles estão prontos para a própria guerra. Vestidos de preto, estão munidos de pedras, estilingues, pedaços de madeira, latas de spray e coquetéis molotovs. Mascarados e rebeldes, são apontados como responsáveis por muitos dos quebra-quebras nas manifestações no país, em meio aos protestos pacíficos. A influência para as atitudes desses grupos é a ideologia anarquista do Black Bloc (em português, Bloco Negro). O termo, até então, pouco conhecido dos brasileiros, despontou nos noticiários nas últimas semanas. Desde seu surgimento, na década de 1980, o BB se espalhou por manifestações ao redor do mundo ao defender táticas violentas para protestar. Em São Paulo, na semana passada, manifestantes picharam bancos, postes e muros. Na última quarta-feira, no Rio de Janeiro, grupos destruíram agências, prédios públicos e residenciais e saquearam estabelecimentos.
Por aqui, o Black Bloc ainda não tem tanta visibilidade. A primeira vez que apareceu em Salvador foi no dia 22 de junho, quando um panfleto que incitava a violência contra o governador Jaques Wagner, o prefeito ACM Neto e a presidente Dilma Rousseff foi apreendido em uma manifestação por policiais da 7ª Delegacia (Rio Vermelho). Os baianos do BB, porém, negam ter escrito o texto. CurtidasQuatro dias depois de o folheto ter sido encontrado pela PM, foi criada a página Black Bloc BA no Facebook. Hoje, o perfil conta com 474 “curtidas”. Na descrição, citam o escritor americano Jack Kerouac, autor de On The Road — livro que se tornou ícone da geração beat, que inspirou o movimento hippie. As mesmas referências a Kerouac foram usadas na campanha publicitária Think Different (Pense Diferente, em inglês), lançada em 1997 pela empresa Apple. Já a página Black Bloc SSA, aberta no último dia 13, tem 18 curtidas. Em contrapartida, mais de 11 mil pessoas curtiram a principal página do BB carioca. O grupo do BB baiano é composto por cerca de 130 membros ativos, de acordo com o administrador da página. “Mas os que participam de todas as reuniões e estão nos acompanhando desde os primeiros protestos, de forma organizada, são uma média de 40”, escreveu ele, em resposta ao CORREIO. O administrador da Black Bloc SSA diz que eles não fazem reuniões. “Através do Facebook, divulgamos formas de comportamentos em protesto, táticas de autodefesa e antirrepressão dos policiais”. Os dois administradores confirmaram que o Black Bloc baiano estava presente em todas as manifestações em Salvador. No protesto do dia 20 de junho, que contou com mais de 20 mil pessoas, o responsável pela página da Bahia diz que os BBs baianos seguiram até a Arena Fonte Nova. Para o administrador da Black Bloc SSA, os protestos foram o começo. “Estávamos nas ruas, em pouco número ainda, agindo e aprendendo na prática a nos organizar melhor contra as forças desproporcionais e opressoras da PM”. RojõesPara enfrentar a polícia, o administrador da Black Bloc BA diz que eles usam táticas com a intenção de amedrontar. “São armas que sabemos onde jogar ou onde atirar, como coquetéis molotovs, estilingues e rojões. Mas com cautela e organização, pois, como já falamos, não atacamos as pessoas, só os espaços opressores”. Segundo ele, as “instituições opressoras” incluem bancos, governos, empresas e o agronegócio. No perfil, o grupo compartilha postagens como as instruções para fazer um coquetel molotov. Mas eles não promovem nenhum tipo de ato, segundo o administrador da Black Bloc SSA. “Ficamos de olho nas manifestações que estão acontecendo, individualmente ou em pequenos grupos. Nos deslocamos para as manifestações, preparados para reagir contra os abusos cometidos pela polícia e defender os cidadãos”. Através da assessoria, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que não se posicionaria acerca do Black Bloc na Bahia. A assessoria do órgão também afirmou que a Superintendência de Inteligência da SSP monitora possíveis ameaças à segurança do estado, incluindo grupos anarquistas. No entanto, a SSP informou que não divulgaria detalhes sobre o trabalho. Colaborou Alexandre Lyrio Para adeptos do BB, Estado é responsável pela violênciaO Black Bloc não é um grupo, nem uma organização, segundo Jeffrey Juris, professor do Departamento de Antropologia e Sociologia da Northeastearn University, em Boston, nos Estados Unidos. “É um conjunto de táticas. Alguns grupos têm ideologias específicas, mas o principal é que eles têm um sentimento geral de ressentimento contra o sistema e a ideia de que o Estado é o responsável pela violência. Eles sentem que o sistema é injusto e violento com a população, e querem responder da mesma forma”. O mais comum é que atuem em pequenos grupos, pontua Juris. “Geralmente, até 15 pessoas, que quebram janelas, depredam prédios institucionais ou picham muros”. Ainda assim, para o professor, não se deve generalizar, quanto ao perfil dos adeptos do BB. “A maioria é jovem, mas o nível de escolaridade e a classe social variam muito”. Táticas se espalharam após protesto em Seattle, diz professorAinda é difícil precisar quando os primeiros simpatizantes do Black Bloc começaram a surgir na Bahia e no resto do país. De acordo com o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) Sílvio Benevides é provável que as táticas tenham começado a chegar por aqui depois de 1999, quando manifestantes do Black Bloc protestaram durante a reunião anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Seattle, nos Estados Unidos. “Se você observar, por exemplo, algumas fotos da Revolta do Buzu, de 2003, em Salvador, já poderá ver alguns jovens com seus rostos cobertos, como aconteceu nas manifestações do último mês de junho. Seriam eles adeptos do BB?”. De acordo com ele, o Bloco Negro está presente no mundo todo. “Vivemos na era da informação. Sendo assim, não tem como o BB não se espalhar mundo afora”. CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR
Matéria original: Correio 24h Black Bloc: a linha de frente de protestos contra bancos e governo
No Rio, grupo mascarado apresenta cartazes com símbolo anarquista e iniciais do movimento |
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