icone de busca
iBahia Portal de notícias
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
SALVADOR

Bandidos impedem que agentes façam prevenção da dengue em bairros

A violência provoca um efeito colateral em Salvador: o aumento dos casos de dengue. Isso porque agentes são impedidos de fazer a prevenção em muitos bairros.

foto autor

28/06/2012 às 8:08 • Atualizada em 03/09/2022 às 9:35 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News
“Enquanto estamos conversando um agente de endemias está sendo abordado agora de alguma forma. A intimidação é uma constância nesse trabalho”. A declaração do coordenador de comunicação do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Endemias (Sindac-BA), André Melo, reflete os problemas enfrentados em Salvador quando é preciso fazer a prevenção e controle da dengue nos bairros com maior Índice de Infestação Predial (IIP). O índice computa o número de larvas do mosquito transmissor da doença nos imóveis. Segundo ele, quase todos os 2.233 servidores que trabalham com endemias na cidade já sofreram algum tipo de retaliação ao chegar em bairros considerados violentos. A diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria estadual de Saúde (Sesab), Maria Aparecida Araújo, chega a atribuir ao tráfico e a criminalidade a maior barreira para a eficácia da prevenção. “A dengue é uma doença muito complexa, pois depende de cada um fazer a sua parte, além de ter chegado ao estado o tipo 4 da doença, o qual a população não está imune. Além disso, tem as questões da coleta inadequada de lixo e falta de saneamento básico. Mas, nas cidades maiores, a violência também aparece como um fator preponderante. O tráfico não deixa o agente de endemias entrar em alguns locais. Barram mesmo”, diz. Números De acordo com a Sesab, até o dia 26 foram notificados 52.215 casos de dengue, enquanto em todo o ano passado foram 55.460. Salvador lidera a lista dos dez municípios com maior número de casos no estado com 5.730 e o IPP da cidade está em 4,2% - ou seja, a cada 100 imóveis visitados, quatro apresentam larvas do mosquito. De acordo com a classificação de risco do Ministério da Saúde, o índice maior que 3,9% significa alto risco de epidemia. Para o coordenador do Sindac-Ba, os números refletem a limitação do trabalho dos agentes. “Não conseguimos cobrir toda a área e fazer a política de prevenção, orientação e controle da doença. Isso interfere no índice de infestação. Há outros fatores que contribuem, mas essa é a nossa realidade. Aí a sociedade cobra da prefeitura e a prefeitura cobra dos agentes. O que podemos fazer? Nem a polícia podemos chamar porque como estamos todos os dias na rua, isso representaria uma ameaça à vida dos agentes”. O gerente do CCZ, Marcelo Almeida relata que cerca de 70% dos agentes atuam onde moram para facilitar o acesso aos locais mais perigosos. “No entanto, nem sempre isso é possível ou teríamos bairros sem agentes”, explica. Quando é preciso ir a uma área desconhecida, os agentes dizem que o medo toma conta. “Certa vez, estava na Baixa Fria, na Boca do Rio, com dois colegas. Um deles era morador local, mas se afastou para adiantar o serviço. Eu e outro agente batemos numa casa e o cara achou que a gente era policial à paisana. Ele nos mandou tirar a roupa e revistou nosso material de trabalho. Ficamos nus e, depois, ele nos acompanhou até a saída do bairro e ameaçou muito até irmos embora”, relata o agente Robson de Jesus, de 34 anos.
Assalto Havia dois dias que o agente de endemias José* tinha começado a atuar em São Marcos quando foi abordado por quatro homens armados. “Fizeram questão de mostrar as armas e queriam saber o que eu estava fazendo ali. Expliquei que era um agente da dengue, mas não adiantou. Roubaram meu celular e mandaram desaparecer do lugar”. Lúcio*, 32, é agente há quatro anos e por pouco não morreu enquanto trabalhava no Alto do Peru. “Um traficante achou que era informante da polícia e atirou. Por sorte a arma não disparou por algum problema e consegui fugir”, relata. Olhando para os lados e falando baixo, Mário*, 45, que trabalha no distrito Valéria e São Caetano, diz que é preciso habilidade para o ofício. “Hoje (ontem), fiz um mutirão na Fonte da Bica, em São Caetano, para não incomodar o traficante. Quando vamos até essas áreas de tráfico mais pesado evitamos bater na casa dos bandidos. Porque vagabundo quando quer agir, não quer saber se somos moradores da área ou não”, diz. Apesar dos relatos, Almeida diz que a maioria das abordagens não é violenta. “Quando os agentes chegam no bairro há muitos relatos de que pessoas armadas aparecem perguntando quem são eles, o que querem no local e se chamaram a polícia". Segundo ele, após conseguirem a informação os bandidos deixam o trabalho ser feito. Para minimizarmos isso, geralmente pedimos ao coordenador da equipe do CCZ na área que entre em contato com um líder comunitário. Mas, tem dias que a gente não entra mesmo. Em fevereiro, ficamos quase um mês sem entrar no Bairro da Paz”. A coordenadora de combate à dengue da Secretaria Municipal de Saúde, Eliaci Costa, diz que em abordagens hostis ou não a orientação é uma só: “Sentiu perigo ou teve alguma dificuldade o agente não deve pensar duas vezes. Ele suspende o trabalho e deixa o local”, afirma. Bairros violentos têm alta infestaçãoDos oito bairros apontados pelo Centro de Controle de Zoonoses como os mais inseguros, seis têm índices de infestação de alto risco. Os dados são do Lira de maio de 2012. Apenas Engomadeira e Bairro da Paz estão classificados como de médio risco. Valéria, que tem a localidade do Cajueiro apontada como uma das mais perigosas, dispara em primeiro lugar com 15,7% de infestação. A cada 100 imóveis investigados foram encontradas larvas em 16. Já é considerado de alto risco, índices acima de 3,9%. Devido à extensão , a SMS divide o bairro em dois trechos. No segundo, o índice de infestação é de 7,5%, também de alto risco. O comandante da 31ª CIPM, o tenente coronel Roberto Pinto, destaca que é preciso que os agentes de endemia relatem as dificuldades. “Se achar que o local é perigoso, eles têm que procurar a companhia para que a gente dê o apoio necessário. Não temos recebido chamados”. Questionada sobre a insegurança dos agentes, a PM informou que o policiamento nestas localidades é feito “diariamente por radiopatrulhamento, duplas a pé, motociclistas, além da distribuição do efetivo de acordo com a mancha criminal”. Um líder comunitário do complexo do Nordeste de Amaralina acredita que há um exagero na insegurança, mas admite que até outros órgãos já tiveram dificuldade. “A gente já teve com a entrada do Samu, mas já resolvemos e hoje todo mundo entra normalmente”.
Mutirões só depois de negociações com liderança Para poder realizar um “faxinaço da dengue” nos 11 bairros de Salvador com maior Índice de Infestação Predial, o Comitê Estadual de Mobilização Social de Prevenção e Controle da Dengue – executado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) e operacionalizado pela Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem)– precisou em alguns locais estabelecer “senhas” para que a entrada do grupo na comunidade fosse permitida. “Em Tancredo Neves, Fazenda Coutos, Curuzu e Periperi foi preciso acordar senhas, palavras para os agentes da Sesab, Flem e CCZ pudessem realizar esse mutirão. Em Tancredo Neves, as lideranças proibiram a entrada da polícia e nós concordamos porque nosso principal objetivo é a saúde”, diz a coordenadora do Grupo de Trabalho da Flem, Cristina Motta. Ela explica que os bairros foram contatados um ano antes. “Nosso foco maior é ter o envolvimento da população no controle do mosquito. Como existe a dificuldade das prefeituras alcançarem as áreas mais perigosas, nosso projeto visa entrar em contato com lideranças locais, capacitá-los no trabalho e descobrir quem tem mais articulação na região para que eles expliquem a nossa intenção”. Com informações do repórter Anderson Sotero

Leia também:

Foto do autor
AUTOR

AUTOR

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em Salvador