A recente visita de Beyoncé a Salvador "parou" a cidade e mexeu com o coração dos fãs. Grande parte deles estava na festa encomendada pela cantora para marcar a pré-estreia do filme "Renaissance: A Film by Beyoncé" na cidade.
A capital baiana foi o único lugar visitado no Brasil pela artista, que não trouxe a turnê retratada no documentário para o país. Para a comunidade LGBTQIAPN+ e, sobretudo, negra, esse foi um marco, e todos queriam estar no evento, mesmo sem saber se ela iria aparecer.
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Por isso, toda a construção da festa foi pensada para recepcionar da melhor forma as pessoas. Uma exigência da própria produção de Beyoncé. É o que contou Val Benvindo, em entrevista ao iBahia para a edição desta semana do videocast Preta Bahia.
"A produção dela tinha um direcionamento que era: 'A gente quer atingir o público dela, o público que talvez não consiga pagar passagem para vê-la em qualquer lugar do mundo, mas que esteja aqui e que faça desse momento inesquecível'". Val Benvindo
Segundo a jornalista, que participou da organização do evento, apesar da magnitude da celebração, com um peso internacional, não foi feito nenhum pedido incomum ou grandioso, como os curiosos costumam imaginar.
"Acho que essa produção é uma produção luxuosa, independente de pensarmos no que a produção dela pediu ou não pediu. Não me pareceu nada absurdo. Mas foi uma produção pensada também no público, para além da artista".
Nisso, até Beyoncé serviu de exemplo, quando, mesmo sem se apresentar para os fãs, compareceu ao evento e discursou para eles. Na ocasião, a musa estava com uma bandeira da Bahia.
"Gente, ela foi para tanto lugar cantar. Ela veio aqui dizer: 'Brasil, eu sinto muito por não ter vindo'. Ela podia ter mandado um vídeo, sabe". Val Benvindo
Nos bastidores quando Beyoncé conheceu a produção da festa, Val Benvindo quase ficou sem o cumprimento da artista, que é ídola dela. A jornalista estava emocionada no momento do encontro e chegou a chorar.
"Eu olhei para ela e eu comecei a chorar, porque eu nunca sonhei encontrar essa mulher, porque eu nunca achei que fosse possível. Eu fui criada para realizar, mas eu achei que nunca fosse possível".
"Ela não ia pegar na minha e eu fiquei desesperada. Aí alguém falou: 'Você não pegou na mão dela'. Aí ela: 'Sorry'. Eu falei: 'Não, de boa'". Val Benvindo
Por mais eventos como o de Beyoncé
Criada no Ilê Aiyê, berço de inúmeros espetáculos que impulsionam a negritude em Salvador, Val Benvindo aprendeu desde cedo a importância desses eventos para a coletividade. Não é à toa, que, da produção do primeiro bloco afro do Brasil, do qual é uma das herdeiras, ela partiu também para outros grandes desafios.
Entre essas realizações, estão ainda o AFROPUNK, que escolheu Salvador como casa no Brasil desde 2021, quando estreou na cidade; e o Festival Humor Negro, criado por Val e se tornou produção para a Globoplay e Multishow.
Mas, mais que apenas eventos, essas produções estão para a jornalista como ideais. Durante a entrevista, Val Benvindo comentou a participação ativa nos projetos e defendeu o surgimento de novas atitudes.
"Eu acho que outros eventos precisam existir. Eu fui criada para não ser preta única. O Ilê me fez entender que dá para a gente existir com outros irmãos e a gente vai criar uma grande comunidade". Val Benvindo
Quando o AFROPUNK Bahia aconteceu pela primeira vez, a estrutura era pequena, por ainda ser o período da pandemia de Covid-19, quando os eventos ainda estavam voltando a acontecer. Neste ano, ele chega à 4ª edição, com proporções muito maiores.
Um crescimento que já era esperado por Val Benvindo desde o início, conforme contou durante a entrevista. Para ela, o festival tem tudo para crescer cada vez mais e nunca chegar ao fim, sobretudo pela movimentação do público, que é atraído de várias partes do país.
"Isso me deixa muito feliz e me faz ter ainda mais certeza de que essa equipe é uma equipe entregue e o público necessita, almeja, por eventos como o AFROPUNK", contou.
"É muito bom estar envolvida em um evento que pensa o entretenimento para o povo preto, e pensa isso no 360°. Não só por trazer artistas pretos para se apresentarem, mas também na recepção desse público". Val Benvindo
Sem entrar em detalhes, Val entregou que, assim como nas últimas duas edições, o AFROPUNK Bahia 2024 vai ter uma atração internacional. Mas a jornalista ressalta a importância de dar oportunidades a artistas nacionais também.
"Claro que, obviamente, vem atração internacional. Mas, eu acho que mais do que celebrar... eu acho que é massa a gente trazer, como o AFROPUNK trouxe Masego, Victoria Monét, isso é incrível, a gente fica muito feliz... mas eu acho importante a gente valorizar as pratas da casa. Porque é um festival internacional e está todo mundo ali de igual para igual", refletiu.
"Esse ano a gente vai ter Silvano Salles, que é um fenômeno do arrocha há muito tempo, e sempre que a gente vê ele se apresentando em grandes shows tem sempre um teor de como se fosse um pouco menor, de colocar no palco 2. E não, gente, tem muito cacife para arrastar um público grande". Val Benvindo
Val Benvindo como referência
Até hoje se inspirando em grandes nomes, para além da família, como Zileide Silva e Conceição Evaristo, Val Benvindo também se tornou referência para outras jovens pretas, que acompanham a atuação dela, seja nesses grandes eventos, como enquanto apresentadora, influenciadora e produtora.
Ao iBahia, a jornalista contou como se sente estando neste lugar. "Até ontem eu estava me inspirando em muita gente e tentando chegar, no caminho. E aí, depois que fui trabalhar com televisão, e até mesmo antes disso, quando eu fazia produção, muita gente me dizia que se inspirava e que me conhecia. É muito legal você tem esse feedback, mas é também uma grande responsabilidade".
"Cair na real de que, de fato, hoje, muita gente vai olhar pra mim e vai se reconhecer, vai se inspirar, vai saber que é possível. Eu acho que o que eu faço essa roda girar. O que eu estou fazendo é muito importante, mas eu não inventei essa roda". Val Benvindo
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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