Aos 23 anos, a estudante Ilary Reis está prestes a concretizar dois grandes marcos neste mês. O primeiro é iniciar o tão sonhado curso de medicina e o outro é se tornar a primeira da família a ingressar no ensino superior. As conquistas vieram depois de muita dedicação - fator que garantiu à baiana a aprovação simultânea em 42 universidades.
A preparação começou ainda na adolescência, depois que a jovem passou a intensificar a leitura e os estudos nas horas vagas. O desejo de se tornar médica ela sempre teve. Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, Ilary revelou que considera a profissão bonita e que a escolheu porque quer ajudar outras pessoas.
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"Eu sempre quis ser médica, eu sempre quis ajudar as pessoas, sempre achei bonito. Então, eu tinha muita vontade".
Ainda processando a conquista, a baiana contou que está realizada. "Minha família sempre me apoiou, sempre esteve do meu lado. Eu sempre tive todo o apoio. Eles sabem que foi algo muito bom. Ficou todo mundo muito feliz pela repercussão positiva. E eu fiquei muito feliz também".
No entanto, Ilary não considera o feito especial. Para a editoria, ela revelou que enxerga as aprovações como resultado dos estudos que teve ao longo dos últimos anos.
"Eu não me acho superdotada, não me acho uma pessoa fora da curva, não me acho uma pessoa extraordinária. Eu me acho uma pessoa que se esforçou bastante, focou e obteve um resultado. Essas coisas vêm aos poucos. Eu sei o quanto eu estudei, o quanto eu batalhei, o quanto eu errei para conseguir um resultado. Na hora do glamour é muito fácil".
"O 42 é só um número. Se eu estivesse fazendo 42 faculdades ao mesmo tempo, aí não... mas não. Só estou fazendo uma. Não se apeguem aos números. Se apeguem ao processo", completou.
Antes de ser aprovada nesta fase do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com a pontuação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante já havia tentando outras vezes. Inclusive, teve notas melhores que as desse ano nas duas edições anteriores, passando de 940 para 900 na redação. Coisas que contribuíram para que ela ficava nervosa até o resultado.
"Para mim a nota da redação foi uma queda, mas, apesar dessa queda, eu consegui passar. Eu não achava que eu iria passar. Fiquei apreensiva até o último dia".
Entre as instituições onde Ilary foi aprovada, está a Universidade Federal da Bahia (Ufba), que foi a escolhida por ela. A previsão é de que as aulas comecem ainda no dia 29 deste mês. Para a editoria, a baiana contou que está nervosa e na expectativa para saber como será a experiência.
"Estou ansiosa. Eu não sei como vai ser. Eu estou curiosa, mas eu tenho certeza que vai ser uma experiência muito boa".
Natural da cidade de Maragogipe, no recôncavo da Bahia, Ilary foi criada pelos avós e tios maternos. Na época, a mãe dela morava em Salvador, onde trabalhava para ajudar a pagar as contas. Foi no avô que a baiana encontrou maior apoio e incentivo, principalmente depois que a avó morreu, quando ela tinha 6 anos.
Diante da realidade financeira, que limitava o acesso a determinados tecnologias, como celular e internet, e com uma criação conservadora, Ilary iniciou a leitura ainda muito nova. Além de consumir os livros da biblioteca da escola pública onde estudava, também tinha acesso a obras emprestadas por amigos.
"Eu me divertia muito nos livros. Parecia que era um conteúdo audiovisual com todos os recursos possíveis. E eu aprendi a ler rápido".
Na época, Ilary já era focada nos estudos. Ela conta que não havia uma cobrança pesada em casa por boas notas, mas que era incentivada a conquistar os resultados, e praticava ela mesma essa exigência.
"Eu sempre fui incentivada a estudar, mas eu nunca fui cobrada. Eu nunca fui pressionada. E, justamente por isso, eu me pressionava. Como não tinha ninguém pra me mandar fazer, eu fazia questão de fazer tudo certinho para não ser chamada atenção".
A primeira grande vitória da baiana aconteceu ainda aos 18 anos, quando ela foi aprovada em um concurso da Polícia Militar da Bahia e se tornou soldada. A indicação partiu de um primo, que imprimiu a apostila para que a estudante se preparasse para as provas.
Durante a entrevista, Ilary lembrou que foi uma surpresa quando saiu o resultado do concurso e que a família vibrou com a conquista. Logo em seguida, correram para que ela atendesse a todos os pré-requisitos.
"Minha família não acreditou e se desesperou, porque a gente não tinha nada. A gente não tinha dinheiro para documentação, para os exames, para a Carteira Nacional de Habilitação. Então, foi uma correria".
Foi com o dinheiro que passou a receber que comprou o primeiro celular mais moderno e instalou internet Wi-Fi em casa, podendo estudar ainda mais.
Atualmente, a baiana trabalha no Centro Integrado de Comunicações (Cicom) da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e é lotada no Comando de Operações Policiais Militares (Coppm) da Bahia. Ela se divide entre Salvador e a cidade natal, onde a família ainda vive. Porém, após o início das aulas, deve se fixar na capital.
Confiante, a estudante aproveitou a entrevista para incentivar outras jovens como ela. "Faça por você, entenda os seus processos. Estude, leia. Às vezes, você não tem referência. Nesse caso, siga pelo caminho inverso. Seja a sua referência. Se você tiver referências próximas, ótimo. Se você só tiver referências contrárias, vá para o lado oposto".
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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