Uma apicultora da cidade de Esplanada, no Litoral Norte da Bahia, se tornou a primeira mulher baiana apta a fazer inseminação instrumental de abelhas no estado. Líder de uma associação na comunidade quilombola de Piaçava, ela aprendeu a técnica para melhorar a produção das colmeias que cuidam.
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Pequena no tamanho, mas gigante na importância para a polinização de frutas, legumes e grãos, as abelhas entraram na vida de Janete Neves em 2021, com a criação de espécies com ferrão na Associação dos Jovens Remanescentes Quilombolas da Bahia (Ajarquiba).
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Na época, a apicultora e as colegas “não tinha os conhecimentos necessários” para desempenhar a atividade como desejava, como a baiana explica. Por isso, ela buscou se qualificar para adquirir as técnicas e melhorar a produção das colmeias.
Um dos treinamentos foi o de inseminação instrumental de abelhas-rainhas, que pode ser usada em abelhas com ferrão. Realizado em Ilhéus, no sul do estado, o curso teve a participação de oito produtores. Apenas Janete era baiana - o que fez com que ela se tornasse a primeira mulher no estado apta para a atividade.
"Para mim, foi inovador ser a primeira mulher aqui na Bahia a participar de um curso desse. E sem contar que, a partir de agora, isso, dentro do meu empreendimento, isso vai ter uma mudança no sentido da genética das abelhas".
Segundo o professor Ediney Magalhães, da DVM Consultoria Apícola, que ministrou o curso, a inseminação instrumental de abelhas é um procedimento demorado, muito delicado e difícil de ser realizado, porque depende de equipamentos modernos e de alto custo.
A técnica consiste em depositar a abelha-princesa em uma lâmina, anestesiá-la com dióxido de carbono (CO2), abrir sua vulva com pinças e injetar cinco microlitros de sêmen para fecundá-la antes de devolver à colmeia.
A técnica permite que o apicultor tenha matrizes de alta qualidade para o desenvolvimento de colmeias mais produtivas e com crias livres de doenças. As abelhas usadas para a inseminação, tanto fêmeas quanto machos, são escolhidas considerando a origem e qualidade das colmeias.
Janete caracteriza o aprendizado como a abertura de um grande leque para a atividade, porque dá maior autonomia no desenvolvimento das abelhas. A apicultora comemora também o fato de poder ajudar não só a atividade na associação dela, como em outras na região onde mora.
"Eu me sinto muito honrada, por poder ter o privilédio de participar e trazer isso para a minha comunidade e poder ajuda também associações vizinhas. Porque a nossa dificuldade era ter boas rainhas. E agora a gente vai ter", falou.
Conheça associação liderada pela quilombola, onde é feita a inseminação de abelhas
A criação de abelhas tem sido uma fonte de renda para os membros da Ajarquiba. No local, são desenvolvidos produtos à base de mel e derivados, como hidromel, biscoitos, pimenta com mel, licuri caramelizado, cerveja, própolis, pólen e cera.
Além disso, de acordo com Janete, a atividade tem despertado um interesse cada vez maior em mulheres empreendedoras da comunidade, que estão se especializando na apicultura (abelhas com ferrão), na meliponicultura (abelhas sem ferrão) e na comercialização dos derivados.
Ao todo, a associação tem 25 apicultores, sendo 14 mulheres. Dessas, 10 atuam também na meliponicultura, inclusive a própria Janete, a partir da cultura da espécie uruçu nordestina.
As atividades contam com o apoio técnico da Bracell, por meio das ações do projeto "Polinizadores" e do "Programa Fomento a Negócio de Impacto", desenvolvidos pela empresa em comunidades situadas em sua área de influência.
As iniciativas têm contribuído com o aprimoramento da produção e a geração de renda em comunidades como a de Piaçava, a partir de distribuição de abelhas-rainhas, fornecimento de capacitações, assistência técnica, além de suporte para o aprimoramento, regularização de produtos, prospecção de oportunidades de escoamento e comercialização, atuando também na interlocução com o Governo da Bahia e outras instituições.
"Essa qualificação ajuda a melhorar a atividade e beneficia especialmente as mulheres da comunidade. Muitas delas têm uma vida difícil e, com o trabalho coletivo, elas se sentem mais acolhidas", destaca ela, anunciando que, "para ampliar a ação na comunidade, iniciaremos trabalhos nas escolas para mostrar a importância das abelhas e orientar sobre a importância de preservar a natureza", pontua Janete.
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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