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O poder da música

'Precisamos do respeito', diz maestrina Adriana Portela da Didá

Primeira mulher a reger uma banda feminina de samba-reggae no mundo, baiana fala sobre descaso de empresários com os blocos afro de Salvador

Lucas Sales • 06/04/2023 às 19:00 • Atualizada em 07/04/2023 às 22:57 - há XX semanas

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					'Precisamos do respeito', diz maestrina Adriana Portela da Didá
Fotos: Reprodução / Redes sociais

A primeira mulher a reger uma banda exclusivamente feminina de samba-reggae no mundo tem nome, sobrenome e sangue baiano: Adriana Portela. Dona de uma voz e postura serena, em 1992 ela teve o insight de questionar a ausência de mulheres no meio percussivo baiano. É a partir daí que a história da maestrina se entrelaça com a Didá Banda Feminina.

Embora a palavra percussão seja substantivo feminino, por muitos e muitos anos a mulherada teve de lutar para mostrar seu valor numa época onde imperava o machismo. A "Didá" que, em Iorubá, significa "o poder da criação", nasceu para quebrar paradigmas. Assim foi e assim é.

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O grupo inaugurado em 13 de dezembro de 1993 pelo mestre de bateria Antônio Luís Alves de Souza, mais conhecido como Neguinho do Samba (1945-2009) - também criador do Olodum e um dos primeiros mestres do Ilê Aiyê -, abriu portas para meninas e mulheres bailarem com tambores nas ruas não só de Salvador, mas do mundo.

O cantor Paul Simon também foi de grande valia para que a iniciativa desse certo, afinal, foi após uma conversa com o americano que Neguinho tirou o projeto do papel e mostrou ao país "um quartel-general de mulheres percussionistas".

Como em todo o quartel existe uma general, na Didá não é diferente. É Adriana Portela quem comanda ao menos 80 componentes. Nem ela própria acreditava que, anos depois do questionamento feito em 1992, estaria à frente do grupo. Ela é maestrina da Didá desde a fundação. Uma responsabilidade dada pelo próprio Neguinho.

"Eu comecei a minha vida na arte através da dança afro. Eu fui eleita a 'mulher Olodum' naquele ano e vi apenas três meninas naquele meio de homens, e isso me chamou a atenção. Eu questionei ao maestro e ele me disse que era por causa do perfil. Mulheres com tambores na cintura, instrumentos intitulados [na época] masculinos. Foi impactante. Faz sentido essa oportunidade que o Neguinho nos deu. Ele foi visionário. É uma felicidade por ter essa iniciativa", recordou ela em entrevista ao Preta Bahia.


				
					'Precisamos do respeito', diz maestrina Adriana Portela da Didá
Fotos: Reprodução / Redes sociais

Um grupo diferenciado

A Didá traz consigo o protagonismo feminino na percussão. Na banda, a mulher não só leva toda a expressão cultural, mas também respeita o próprio corpo. É um grupo "diferenciado" e que abre portas para novas culturas. Uma verdadeira referência para novas e novos musicistas.

"A Didá é diferente. Nós tocamos e bailamos com os tambores. Justamente essa junção da dança com a percussão, e ficou muito lindo. Isso serviu e serve de referência para todas as mulheres. Hoje você vai nos quatro cantos do mundo e vê mulher tocando o tambor. É um bloco muito poderoso e humano. Nós damos a oportunidade para mulheres, donas de casa, mães de família, aquelas que são autônomas, a Didá tem um protagonismo muito importante", pontuou Portela.

30 anos de existência e resistência 

A Didá está presente em trabalhos de cantores como Marília Mendonça, Anitta, Claudia Leitte, Shakira, Carlinhos Brown, Margareth Menezes e diversas outras estrelas musicais. A primeira aparição nacional do grupo, por exemplo, foi em uma turnê de Gilberto Gil, Caetano Veloso e da saudosa Gal Costa, que morreu em novembro de 2022.

Mesmo com todo um histórico de importância e representatividade, a banda passa dificuldades devido à falta de verba. Adriana Portela destacou, durante o bate-papo, que é preciso um olhar de grandes empresário não só para a Didá, mas os blocos afro como um todo.

"O machismo estrutural existe, maquiado, mas a gente percebe. Ainda falta reconhecimento, apoio, patrocínio, nós só temos o Ouro Negro [Edital do Governo do Estado]. É muito difícil conseguir um apoio de uma empresa privada. Precisamos do respeito. Nós é quem trazemos os turistas para cá, eles vêm ver o Ilê Aiyê, o Olodum, os Filhos de Gandhy, O Malê [Debalê]. Eles querem ver essa beleza cultural da Bahia e esse reconhecimento à cultura, aos blocos afro, está faltando", disse.

Lado Pessoal

Adriana Portela é uma pessoa resiliente, calma e também cheia de si. Ela sabe de onde veio e o local que deseja chegar. Curiosa, seu hobby favorito é estudar, uma dádiva que carrega consigo desde a infância, quando morava em Águas Claras, bairro do subúrbio de Salvador.

"Eu sou muito caseira. Fico muito em casa quando não estou trabalhando. Eu sou muito curiosa, gosto de estudar, de ler, não sou muito de ficar em mídia, em redes sociais. TikTok e Instagram não são um passatempo. Elas são ferramentas poderosas e nós precisamos saber usá-las", contou a filha de Dona Mary Portela.


				
					'Precisamos do respeito', diz maestrina Adriana Portela da Didá
Fotos: Reprodução / Redes sociais

'É preciso escrever narrativas para o futuro a partir de agora'

Adriana ainda usou o espaço para mandar um recado para meninas e mulheres que sonham em seguir na na música. Para ela, é preciso ter persistência para alçar voos cada vez maiores.

"Mulher toca tambor sim, mulher faz o que ela quiser, onde ela quiser, nós temos esse direito. E é preciso acreditar em si, no seu potencial e atravessar os perrengues. Tem que pesquisar, não estar por estar e sim porque você quer estar. Aprender para ser uma referência a partir do momento em que a gente assume uma [alta] posição. É preciso acreditar em si e ver que é capaz de realizar aquilo".

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