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Afroempreendedorismo

'Os negócios de pessoas pretas que vão fazer a mudança', diz presidente da AJE sobre empreendedorismo baiano

Alana Sales, presidente da Associação de Jovens Empreendedores, conversou com o iBahia sobre afroempreendedorismo e participação no Agenda Bahia

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Nathália Amorim

11/08/2023 às 7:48 • Atualizada em 11/08/2023 às 9:44 - há XX semanas
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					'Os negócios de pessoas pretas que vão fazer a mudança', diz presidente da AJE sobre empreendedorismo baiano
Foto: Acervo Pessoal

"São os negócios de pessoas pretas que vão fazer a mudança em Salvador". É o que defende e propaga a presidente da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE), Alana Sales, que palestra nesta sexta-feira (11) no evento Agenda Bahia. Mulher preta, baiana e empresária, ela vê no afroeempreendorismo a possibilidade de mudança e de fazer a diferença em um campo que é marcado pelo machismo e o racismo estrutural.

Ao iBahia, a cofundadora da Dumato e sócia da Moderniza falou sobre como os negócios de pessoas pretas tem a capacidade de mudar Salvador e movimentar a economia da cidade, a partir de diferentes eixos.

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"Se a gente não olhar para o afroempreendedor, se a gente não olhar pra o negócio de pessoas pretas, a gente vai continuar no mesmo lugar. [...] É o que movimenta Salvador, é o que pode fazer Salvador crescer. O empreendedorismo da comunidade, o empreendedorismo da periferia, o empreededorismo do Centro Histórico. Acho que Salvador só cresce economicamente se a gente olhar pra esse pilar principal, que é a dos negócios negros da cidade", avalia a empresária.

Mas, para chegar a esse nível de consciência, Alana passou por um processo de autodescoberta e conhecimento. Formada em Engenharia Química, o desejo de empreender foi despertado com os desafios do mercado de trabalho após concluir a faculdade. Se hoje usa sua voz para empoderar e potencializar mulheres e futuros empreendedores, no começo, ela se via trabalhando no polo petroquímico como concursada ou em empresas privadas.

"O meu encontrar, me encontrar dentro do empreendedorismo, ele vem de dentro da minha própria história de autoconhecimento e entendimento das minhas potencialidades. [...] Sempre fui uma pessoa com muitas habilidades, de bons relacionamentos, mas não tinha esse entendimento que isso poderia ser um talento meu e que eu poderia crescer na vida utilizando eles.", relembra.

Essa foi a primeira virada de chave. A maior veio em seguida, depois de conseguir o primeiro trainee e migrar de supervisora de vendas para especialista em recursos humanos. Passou a trabalhar diretamente com pessoas, ganhando alcance, expandindo sua voz e dando os primeiros passos no empreendedorismo.

"Foi aí que a engenheira, que não gostava só de números, podia desenvolver e cuidar de gente. Foi onde eu pude dar treinamentos, dar palestras e entender que minha voz era potente e que tocava as pessoas.", explicou ao iBahia.

Desde então, em um período de oito anos, tudo mudou. Iniciou a carreira como empreendedora fazendo workshops, dando treinamentos e como coach. Em 2017, pediu demissão do trabalho em que estava por falta de identificação com o modelo e passou a focar 100% nos projetos pessoais. Ao lado da mãe, ela se tornou sócia da Moderniza, empresa familiar que está há mais de 30 anos no mercado. E, em 20 de novembro de 2021, Dia da Consciência Negra, fundou com o noivo a Dumato. Com foco na responsabilidade social e ambiental, a empresa tem como propósito a venda de cosméticos naturais e ancestrais.

"Hoje eu atuo ainda como palestrante, como mentora, sempre trabalhando nessa perspectiva de humanização de negócios, de negócios conscientes, de negócios com propósitos, de habilidades socioemocionais do líder, do empresário, tudo que eu falo sobre empreendedorismo é nessa perspectiva de humanização. De que negócios que vão dar certo hoje são negócios humanizados, que olham pra o indivíduo antes de olhar pra o lucro. O lucro é uma consequência, mas não pode ser o único foco do empreendedor.", pondera.

Negócio humanizado

Para Alana, falar sobre empreendedorismo é falar sobre humanização, entendendo o impacto que isso causa, tanto em relações hierárquicas quanto pessoais. Como líder, ela acredita que o primeiro pilar para um bom negócio é discutir sobre as pessoas e enxergá-las.

"Falar de empreendedorismo hoje sem falar de humanização é quase impossível. O primeiro pilar que a gente precisa falar é sobre pessoas. E quando eu falo sobre pessoas, não é necessariamente o outro, é sobre a gente também", explica a palestrante.

Esse trabalho é ainda maior com as mulheres. Ela destaca que hoje elas representam mais de 50% dos negócios do Brasil. Isso devido ao reconhecimento de que o empreendedorismo pode ser uma fonte de liberdade financeira e emocional. No entanto, o fato não está desassociado de desafios, pelo contrário.

"As mulheres têm um desafio maior que é lidar com o machismo. E quando a gente fala de uma mulher preta, de lidar com o machismo e o racismo, é um trabalho dobrado. O meu trabalho com as mulheres vai muito nesse reconhecimento de que a nossa jornada, ela precisa ser muito mais de desbravar os nossos próprios medos, as nossas próprias inseguranças, e desbravar os desafios do dia a dia.", pontua Alana.

Outra questão é compreender que cada negócio tem um diferencial, mesmo tendo o mesmo segmento ou produto, além de desenvolver o olhar pessoal para os campos da saúde mental, física e emocional, para compreender as próprias competências e enxergar o próprio potencial.

"Eu acredito que o principal diferencial de um negócio é a própria história da pessoa. [...] Essa história é que vai fazer ela ser potente e conseguir se destacar no mercado. [...] Quando um cresce, todo mundo cresce, e a gente consegue trabalhar melhor os desafios", conta a cofundadora da Dumato.

Ocupando espaços

Durante a entrevista ao iBahia, Alana Sales contou que, por ter pele clara, apenas aos 26 anos passou a se declarar como mulher preta. Esse autorreconhecimento só veio com a ocupação de espaços e a percepção de vivenciar o preconceito, o machismo e o racismo estrutural dentro desses ambientes.

"Até então eu não sabia o que passava. Eu sentia que eu era inadequada, que eu era discriminada, mas eu não entendia isso como racismo. Então, todo o processo de inadequação, desqualificação e preconceito, me fizeram chegar a um lugar de me esconder", explicou a empresária sobre o processo de identificar a inseguranças.

"A gente tem um cenário absurdo de desvalorização, desqualificação, de preconceito. A maior parte dos espaços que eu vou, é raríssimo ter mulheres, e mulheres pretas é menor ainda. Muitas vezes eu sou a única mulher preta dos lugares onde ocupo. A gente precisa ter essa consciência de que a gente precisa trazer essa diversidade para todos os espaços de poder, porque só assim outras mulheres e outras pessoas pretas vão conseguir enxergar na gente uma possibilidade de crescer naquele lugar", destaca.

Alana Sales afirma também ser fundamental uma mudança de mentalidade, reconhecendo o medo, mas assumindo o desafio. Para a presidente da AJE-Bahia, é preciso ter consciência coletiva de trazer a diversidade para todos os espaços de poder, porque só assim outras mulheres e outras pessoas pretas vão conseguir enxergar a possibilidade de crescimento nesses locais.

"Eu acho que tem toda essa questão de reparação. A gente primeiro precisa dar o passo, porque quando a oportunidade vem, justamente por conta do machismo e do racismo estrutural, a gente pensa 'será que é pra mim?'. Acho que é assumir o desafio, ter esse trabalho de romper esses padrões e ter também todo um movimento de reparação, não só da gente, interno, mas também da sociedade, de quem detém o dinheiro, de políticas públicas. Ter esse letramento racial, social e de gênero e também essa autopercepção de si pra ter coragem de superar os desafios, mesmo quando acha que não vai conseguir", avalia.

Como empresária que teve como um dos propulsores para a fundação da Dumato, o auxílio financeiro de um edital promovido pela cantora Iza, Alana também reconhece o valor de políticas públicas no auxílio e expansão de negócios.

"Iniciativas públicas e privadas precisam acontecer para que a gente possa ter essa chance de ocupar esses espaços que antes não nos eram permitidos. Eu enxergo que precisa ter um movimento geral. Precisa ter um momento 360° do poder público e privado, da sociedade, mas também de cada indivíduo que faça sua parte de reconhecer que esse racismo, esse machismo existe e que você precisa realmente construir espaços, construir narrativas e dar passos para que você consiga crescer também.", disse.

Agenda Bahia

Nesta sexta-feira (11), Alana Sales participa do Agenda Bahia. Ao lado de Paulo Rogerio Nunes, empreendedor e consultor de diversidade; Linda Bezerra, editora chefe do Jornal CORREIO; e Hisan Silva, CEO e Diretor Criativo da Dendezeiro, ela debate o tema "Desafios, impactos e cases da comunidade preta no mundo empreendedor e da tecnologia". A mesa acontece às 15h15, no Senai Cimatec (Piatã).

"A minha expectativa é grandiosa. Estar ao lado dessas pessoas tão maravilhosas. É uma sensação de muita honra por ter sido chamada para compor [a mesa] com os outros painelistas que vão estar comigo, que eu admiro bastante. Eu estou muito feliz de terem me considerado, de poder levar um pouco da história da Dumato, da minha história e da minha atuação hoje na AJE para que mais pessoas conheçam a importância do afroempreededorismo, principalmente em Salvador, onde a maior parte das pessoas são negras", finalizou.

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