Salvador recebe o festival internacional AFROPUNK pela segunda vez neste ano, mas o evento é pensando e produzido para acontecer na cidade desde 2019. Atrás dos palcos e dos espaços frequentados pelo público, estão profissionais negros conscientes de seus papéis e da importância social da festa para o movimento. É o que contam a diretora de comunicação Ana Amélia Nunes e o produtor artístico Ismael Fagundes.
Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, os profissionais, que nasceram na capital baiana e estão no cenário artístico há mais de 8 anos, falaram do orgulho que sentem em integrar a equipe do festival, que surgiu nos Estados Unidos e chegou no estado como AFROPUNK Bahia.
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"Acho que é uma oportunidade incrível para mim assim, quanto produtor, estar coordenando uma operação como essa. Dividindo uma experiência como essa. É incrível. Fico feliz de estar vivendo isso na minha cidade. Acho que é importante também reforçar que eu estou vivendo essa experiência de estar trabalhando em um evento como esse na minha cidade, em Salvador. Na cidade mais negra fora do continente africano. Isso é de extrema importância", contou Ismael.
Ana ressalta também os problemas enfrentados durante o processo de organização do evento. "Para mim, é, acima de tudo, uma honra. Eu aprendo muito com as pessoas que estão envolvidas. São grandes parceiros de vida que a gente vai desenvolvendo. Eu vejo como uma grande honra mesmo, assim, de participar dessa construção, e um grande orgulho, sabe. Quando eu olho pro time assim e vejo a construção que a gente traz com todas as dificuldades que um projeto desse exige, com todas as dificuldades de qualquer coisa quando a gente está envolvendo a pauta racial".
A diretora de comunicação conta que a apresentação do movimento ao Brasil aconteceu primeiro em São Paulo, com um evento para convidados. De lá, o projeto seguiu para o carnaval de Salvador, com um trio que “arrastou” uma multidão no circuito Barra-Ondina em 2020. O plano era que a primeira edição do festival acontecesse ainda naquele ano, contudo chegou a pandemia.
"O AFROPUNK já vem chegando no Brasil há um tempo. Então, a gente já tem aí algumas ações da acontecendo desde 2019. Houve um lançamento do AFROPUNK em São Paulo, rolou o carnaval em um trio da AFROPUNK com uma galera massa, e a intenção era de que o festival viesse logo depois, e veio a pandemia. Então, pegou todo mundo de surpresa", falou Ana Amélia.
Em 2021, diante da retomada da realização de eventos na Bahia, surgiu o momento de experimentar com o festival como um evento independente e para mais pessoas. Ainda com muitas restrições, a festa foi realizada no Centro de Convenções e deu um show. A adesão e a representatividade surpreenderam inclusive quem estava na organização, e o resultado foi transformado em documentário. Confira abaixo:
"Quando a gente fez a edição do ano passado, uma das coisas que a gente ouviu é que o festival foi o maior evento de moda para a população negra do país, porque era uma coisa absurda, era lindo de ver. Então, uma das coisas que é muito importante que todo mundo saiba é que o AFROPUNK vai além de um show. Não é só um show, não é só reunir esses artistas. É um movimento e é um grande movimento das pessoas que entram nessa roda e se enxergam nesse festival", falou Ana Amélia.
A escolha da capital baiana para abrigar o festival foi estratégica. Para Ana e Ismael, Salvador é o melhor lugar para que seja realizado o evento, já que a cidade é reconhecida como a mais negra fora do continente africano.
"Quando um festival internacional com esse porte, com toda a missão e com todo cuidado que o AFROPUNK tem, ele chega muito nesse processo de escuta, ouvindo as pessoas, ouvindo a cultura do local. Então, foram convidadas várias pessoas, várias potências negras para conversar, para sentar em uma roda, discutir o que seria mais interessante de trazer para o projeto no Brasil. E aí, a partir daí, algumas ações foram acontecendo, mas o grande desejo era fazer esse grande festival na cidade mais negra fora da África", conta Ana.
Segundo a diretora de comunicação do festival, a mudança do eixo Rio de Janeiro-São Paulo também foi levada em consideração no momento de tomar a decisão.
"A escolha de Salvador não poderia ser diferente por mais que às vezes a gente tenha que explicar, desenhar e repetir. Mas é uma coisa que é muito óbvia. Não poderia ser em outro lugar, sabe? É onde tudo nasceu, é onde tudo acontece, onde a gente tem toda essa população negra, toda essa potência de criatividade e, principalmente, uma das ideias do projeto é tirar o foco do eixo Rio-São Paulo, né? A gente tem tantos grandes festivais acontecendo no país inteiro e muitos dos olhares se voltam sempre para os festivais São Paulo e Rio de Janeiro. E, aí, a ideia de trazer o projeto para cá também é parte desse desejo do festival de ser plataforma para profissionais negros, de ser plataforma para empreendedores negros", completou Ana.
Durante entrevista, os dois exaltaram o acontecimento e explicaram a importância. "É pensar que o AFROPUNK não são só os artistas que estão no palco. Tem uma grande roda com profissionais no campo das artes, além do técnico, do turismo, da moda… que são beneficiadas quando um evento desse chega na nossa cidade. Salvador é uma cidade que tem aí no seu currículo o maior carnaval do mundo. Então, não seria diferente o AFROPUNK escolher Salvador. Um festival global que escolhe nossa cidade para a sua realização. Então, acho que é trazer isso, fortalecer a cidade de Salvador como uma cidade internacional, que pode acolher festivais, que a gente não precisa ir para São Paulo para o Rio", contou Ismael.
Neste ano, o AFROPUNK apresenta nos dias 26 e 27 de novembro um encontro para centenas de pessoas, no Parque de Exposições da Bahia. Entre as atrações, estão o jamaicano Masego, além dos artistas nacionais Emicida, Baco Exu do Blues, Liniker, Black Pantera, ÀTTØØXXÁ e Karol Conká, Psirico, Mart’nália com Larissa Luz convidando Nelson Rufino, A Dama com MC Carol e Nic Dias, Ministereo Público Sound System e Yan Cloud.
A escolha dos nomes desta edição e da anterior não foi por acaso, como conta Ismael. Tudo tem relação com o trabalho dos artistas, o posicionamento deles e toda a representatividade para a comunidade, para garantir que o festival cumpra com o seu propósito de celebrar e promover a cultura negra.
"A gente parte muito de uma prioridade de ritmos, né? Os artistas negros que tem ritmos diferentes. Além do posicionamento político, ali por trás da história da música daquele artista, sua trajetória. E trazer também artistas que não têm a oportunidade de pisar em Salvador. E o AFROPUNK vira essa ponte, esse elo. Então, acho que o grande ponto do pensamento do line-up é diversificar esses artistas negros e negras em gêneros musicais, gêneros pessoais. Isso gera toda uma preocupação de trazer uma pluralidade", conta Ismael.
Os organizadores esperam atrair neste ano ainda mais pessoas e fazer um festival ainda melhor que o de 2021. Além disso, eles já projetam eventos futuros e não descartam a possibilidade da presença do movimento no retorno do carnaval de Salvador em 2023, porém ainda não há nada confirmado, como conta Ana Amélia Nunes.
"A gente tem planejamentos, sonhos, vontades e desejos. Então, o festival, globalmente falando, e aí eu falo em nome de dos grandes organizadores mesmo, de quem criou o festival, a vontade é que justamente o AFROPUNK chegue para existir o ano inteiro, que a gente tenha ações rodando o ano inteiro. A gente já teve a primeira experiência do carnaval. Então, se a gente já teve essa primeira experiência no carnaval, obviamente que a gente já está mexendo nossos pauzinhos, que a gente já está planejando outras coisas e outros eventos".
E a ideia de fazer da cidade um berço para movimentos como o AFROPUNK ao longo do ano e não somente em novembro é reforçada por Ismael.
"Eu espero que a gente tenha mais eventos com essa cara e que a cidade acolha o AFROPUNK também por esse motivo, e que entenda que ele chegou para ficar, para entrar no calendário do mês de novembro, que é um mês que a gente sabe que se concentra muitos eventos, mas a gente espera que a gente tenha outras ações durante o ano, em outros meses, né? A gente sabe a importância do Novembro Negro no Brasil, principalmente na Bahia, em Salvador, mas a ideia é que a gente chegue, se consolide, que tenha ações durante o ano, nos meses que não são comemorados", ressalta o produtor artístico.
Para finalizar, Ismael ainda chamou atenção para a importância de estar presente e prestigiar o evento. "É o black money. É hora de botar o nosso dinheiro, de investir, de comprar ingresso do AFROPUNK. É um investimento muito importante para a cidade e para a causa negra. Acho que é o ingresso mais bem investido porque a gente ganha muito com tudo isso", ressalta.
Serviço
AFROPUNK Bahia 2022
Data: 26 e 27 de novembro de 2022 (sábado e domingo)
Abertura dos portões: 18h
Início dos shows: 19h
Encerramento: 5h
Local: Parque de Exposições
Endereço: Av. Luís Viana Filho, 1590 - Itapuã, Salvador - BA
Venda: https://bileto.sympla.com.br/event/74028/d/142848
Ingressos:
Arena Inteira | R$ 180,00 + taxa
Arena Meia Entrada* | R$ 90,00 + taxa
Arena Meia Social** | R$ 100,00 + taxa
LoungeInteira | R$ 450,00 + taxa
Lounge Meia Entrada* | R$ 225,00 + taxa
Lounge Meia Social** | R$ 235,00 + taxa
PassaporteArenaInteira | R$ 288,00 + taxa
Passaporte Arena Meia Entrada* | R$ 128,00 + taxa
Passaporte Arena Meia Social** | R$ 164,00 + taxa
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