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'Não tem como ficar indiferente'

Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'

Repórter da TV Bahia, Müller Nunes, falou sobre os desafios da cobertura jornalística e detalhou como conheceu a esposa no quadro Preta Bahia

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Iamany Santos

08/06/2024 às 6:00 - há XX semanas
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Nem sempre o caminho profissional a seguir é claro e, para muitas pessoas negras, o sonho pode ser atravessado por diversas questões sociais. A sensação de que talvez "aquele não seja seu lugar" ou que algo é "impossível para você", infelizmente, tende a ser comum na vida das pessoas negras devido ao racismo. O repórter da TV Bahia, Müller Nunes, relata, em entrevista ao iBahia, que muitas vezes esse sentimento o acompanhou.


				
					Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'
Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'. Foto: Reprodução/Redes sociais

Hoje uma das referências do jornalismo baiano, Müller não se imaginava na televisão e foi descobrindo a paixão pelo jornalismo ao longo da trajetória profissional. "Isso é uma coisa que o racismo faz, que é muito cruel com a gente, principalmente quando somos crianças. A gente não se vê em espaços de vitrine como a televisão, então eu nunca me imaginei", conta ele.

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Natural da cidade de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, foi através da escola que ele percebeu que tinha inclinação para a comunicação. Egresso da escola pública, Müller escrevia crônicas sobre os colegas atletas e, durante a graduação, teve a oportunidade de fazer uma matéria audiovisual.

"Um dia faltou um repórter. Eu estava estagiando em uma emissora universitária, na TV UESB, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e peguei o microfone para fazer uma matéria. Narrei ao bem poético [...] sobre um projeto social de futebol e as pessoas gostaram e começaram a elogiar", relata.

A partir desse momento, entre uma folga e outra do repórter, Müller foi se encontrando na profissão. "Eu comecei a me encantar por aquele espaço porque, de alguma forma, o que eu fazia e narrava ajudava a transformar a realidade das pessoas", afirma. Com uma carreira cheia de experiências, o eunapolitano passou pela TV Oeste, filiada da TV Bahia em Luís Eduardo Magalhães, foi para a TV Subaé, em Feira de Santana, e, agora, atua como repórter, e, às vezes, apresentador na TV Bahia, em Salvador.


				
					Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'
Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'. Foto: Reprodução/Redes sociais

A estreia na televisão foi impactante para muitas pessoas que, assim como ele, não se enxergavam na televisão. Deste dia em diante, Müller passou a receber ligações e mensagens de outras pessoas negras o encorajando e enfatizando a força de sua presença neste espaço.

"Eu recebi um acolhimento que, até quando eu errava, as pessoas me mandavam mensagem. Era algo de torcida e não de fã. Era algo das pessoas se verem em você pensando 'você parece meu filho, parece meu neto' na torcida por você. Isso me fez entender a responsabilidade que eu tinha e procurar entender mais sobre as questões raciais [...] para poder influenciar para o bem".

Müller Nunes fala dos desafios da cobertura

Os desafios do trabalho jornalístico são diversos. Para Müller, entender a importância do papel do jornalista é essencial para exercer corretamente a profissão. Inicialmente, o impacto da cobertura foi um desafio e Müller precisou refletir mais sobre como se colocar nas situações.

"Eu pensava em voltar para o interior, pois pensava: 'parece que só tem isso'. Era muito difícil lidar com as dores dos outros e meus problemas pessoais", revela ele, que destacou a importância de um acompanhamento profissional para lidar com a situação. A sensibilidade e a empatia foram as chaves para que ele enfrentasse esse desconforto e, dessa forma, lidasse com as situações diárias.


				
					Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'
Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'. Foto: Aline Gama/ iBahia

"Hoje eu tento ter sensibilidade e empatia sempre. Não consigo me distanciar das histórias [...] quando chego na reportagem muitas vezes [apareço] sem equipamento para entender aquela história e contar melhor para o telespectador. Por trás dos números da violência existem famílias e entes queridos", diz Müller .

"Apesar de estarmos em busca da imparcialidade, não tem como você ser indiferente", enfatiza.

Coincidência do destino?

Em meio a tantas coberturas diversas, Müller Nunes acabou conhecendo a atual esposa em uma lotérica. O repórter, que chegou a contar o caso através das redes sociais, falou como o momento foi uma coincidência, mas que achava que o destino conectou os dois.

"Eu entrevistei ela em 2016 e eu estava praticamente casado, ela solteira. Eu só entrevistei como uma pessoa comum, dois anos depois [a encontrei] no Carnaval e [...] ela me disse que não ficava com ninguém em festa. Na quarta-feira de cinzas, o destino reapresentou a gente pela terceira vez", conta ele.


				
					Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'
Müller Nunes fala da importância de ocupar espaços de 'vitrine'. Foto: Reprodução/Redes sociais

O casal, junto há seis anos, está à espera de Amália e se prepara para começar uma nova fase na vida a dois.

"Amália significa trabalhadora e faz referência à minha avó. Eu tive um sonho com ela antes de saber que [minha esposa] estava grávida. Ela não ligou muito, mas depois fez o teste e descobriu que estava grávida. De certa forma, era Deus avisando que tinha um presente chegando", celebra ele.

Assista à entrevista com Muller Nunes completa abaixo

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