O Malê Debalê comemora 45 anos de resistência no mês de março, e, para celebrar esse importante marco, o bloco afro realiza neste sábado (23) uma grande festa, com uma homenagem a 15 personalidades. O evento é gratuito e acontecerá na sede da entidade, no bairro de Itapuã, em Salvador, a partir das 18h.
Em entrevista ao iBahia, para a editoria Preta Bahia, o presidente do Malê Debalê, Cláudio Araújo, festejou o aniversário e recordou o início da relação com o bloco. Em atividade no cargo desde 2014, o representante é filho de Josélio de Araújo, que fundou a entidade em 1979, quando ele ainda tinha 3 anos de idade.
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"Nasci em 1976 e via toda preocupação da minha família em prol do ideal de resistência e militância dentro do movimento negro. Desde então, cresci e amadureci dentro desta perspectiva de igualdade para o povo negro, sobrevivente das mazelas desta sociedade, desde tempos antigos", pontuou.
Como uma das peças importantes para construção de parte do legado do Malê, Cláudio conhece de perto a importância da entidade para a comunidade, para o movimento e para ele, e faz questão de ressaltar isso. O presidente classifica o bloco como o "maior balé afro do mundo".
"Na minha vida, além da minha família, dos meus pais e dos meus filhos, ele [Malê Debalê] é o alicerce da minha caminhada. Crescemos juntos. Contribuí arduamente para o crescimento dele e ele para o meu. Somos hoje uma estrutura forte, resistente, resiliente e com muita esperança de dias melhores à nossa comunidade".
Malê Debalê comemora 45 anos
Assim como outros blocos afro da cidade, o Malê Debalê busca muito mais do que reconhecimento. O acesso a oportunidades para a entidade e a comunidade onde está inserida também é uma pauta, conforme pontua Cláudio Araújo.
"Todo pensamento enquanto Presidente e da minha Diretoria é pensar o futuro com muita esperança. Esperamos ser vistos, ouvidos e atendidos nas nossas demandas. Nosso povo precisa de voz e buscamos, com as atividades sociais que realizamos, atender ao maior número de famílias, e criar uma ambiência de empoderamento à juventude que está crescendo neste mundo. Precisamos fortalecer nossas bases, financiar estudos, crescimento pessoal e profissional para todos. Precisamos de oportunidades e o Malê está aqui para busca-las e realiza-las".
Uma construção feita não só de futuro. Cláudio não deixa de homenagear e reafirmar o papel dos ancestrais nesse movimento, como o próprio pai, que completou 71 anos em fevereiro de 2024, mês do Carnaval. Por isso, parte dos homenageados nesta noite com o "Troféu Abraço Negro" é formada por membros importantes da comunidade de Itapuã, que contribuíram para a história do bloco.
"Para falar de futuro, precisamos reverenciar o nosso passado. Precisamos honrar quem veio antes. Precisamos homenagear quem fez tudo isso acontecer e foi pensando nisso que escolhemos as figuras mais marcantes de Itapuã, que, direta ou indiretamente, fizeram momentos importantes acontecerem", disse. Cláudio Araújo presidente do Malê Debalê
"Muitos deles ajudaram o Malê desde a sua fundação, quando não tínhamos sede, quando não tínhamos palco, som, nenhuma estrutura. Procuramos selecionar alguns dos nomes que estiveram conosco desde o começo, mas, como são muitos, extraímos aqueles que, desde 1979, sabem o que é descer de Malê pelas ruas e avenidas desta cidade".
Uma consciência que Cláudio leva para a vida, além do papel que já desenvolve no Malê Debalê. "Somos referência no nosso bairro e adjacências. Somos resistências. Temos outros blocos agora neste mesmo caminho, nossos irmãos de luta e igualdade de objetivos, mas é aqui, no Malê Debalê, onde realizo minha vida, fortaleço meus irmãos, ensino meus filhos o poder da igualdade e honro meus pais e mais velhos por tudo que me proporcionaram para eu chegar até aqui".
Representatividade transformadora
O rei e a rainha deste ano do Malê Debalê são exemplo do legado que vem sendo construído pelo bloco e por Cláudio Araújo. Escolhidos pouco antes do Carnaval, eles representam a entidade até o início do ano que vem, quando os sucessores serão escolhidos em Itapuã. Mas, para além do reinado, serão lembrados pelo marco do aniversário de 45 anos.
"Eu garanto que lá na frente, quando tiverem os novos reis, eles vão lembrar de mim. Quem foi o rei de 2024, dos 45 anos do Malê? Então, para mim está sendo uma alegria imensa, uma realização imensa. Eu, preto, candomblecista, homossexual, estar levantando essa bandeira. A bandeira do povo preto, do povo que luta, do povo que existe e persiste por um mundo melhor", pontuou Jefesson Reis, também em entrevista para a editoria.
Morador do bairro de São Caetano, o enfermeiro que hoje tem 25 anos conheceu o Malê Debalê ainda na infância, por meio da relação da família com o bloco afro. Quando criança, ele viu um primo concorrer ao título que atualmente carrega, ao lado da advogada Camila Morena. Um incentivo para tentar depois de adulto.
"Toda aquela cultura dos blocos afros sempre me deixou encantado, desde criança, e meu tio, que hoje é falecido, foi um associado do Malê. Então, tinha ciência da importância do bloco. Tinha aquela sensação de: 'Poxa, eu posso estar ali'. Isso me motivou a concorrer a ser rei".
Antes da vitória deste ano, Jefesson chegou a ficar em segundo lugar, em 2023. O fato de chegar perto da conquista o motivou a estudar e se preparar mais para buscar o título de novo, e conseguiu.
"Não tive o êxito da vitória, mas tendo uma vitória, por estar tendo aquele momento com todos e de ver que um amigo meu me representou. Foi um momento de pensar que eu poderia, que eu cheguei perto", disse.
Diante da conquista e de todas as experiências que tem tido desde então, o enfermeiro tem muitos agradecimentos a fazer, pontuando também a ancestralidade. "Eu agradeço primeiramente aos meus orixás, depois a toda a minha família, que me incentivou muito, às minhas amigas, meu etilista, meu namorado, minha mãe... foram pessoas fundamentais no meu legado", pontuou.
"É para além de uma afirmação de legado. Eu digo que hoje, eu sendo rei do Malê, é estar dando continuidade ao legado daqueles que já existiram, da minha ancestralidade. Os negros que vieram, que foram reis e rainhas. Então, eu sou a continuidade do legado deles. É muito além" Jefesson Reis rei do Malê
Homenageados com o Troféu Abraço Negro
- Ângela Guimarães - Secretária da Sepromi
- Adriana Oliveira - Jornalista da Rede Bahia
- Albert Nogueira de Sousa - Major do 15° CIPM de Itapuã
- André Biriba - Mestre de Capoeira de Itapuã
- Beto Pena - Cantor e músico do Malê Debalê
- Cara de Cobra - Produtor musical e Percussionista
- Gilsoney de Oliveira - Presidente do Afoxé Filhos de Gandhy
- Ivete Sacramento - Secretária SEMUR e Reitora da UNEB
- Jairo da Mata - Secretário COMCAR
- Lasinho do Banjo - Sambista
- Maria das Graças Cerqueira (Gracinha) - Empreendedora de Itapuã
- Reginaldo Souza - Músico e Diretor do Espaço Cultural Rumo do Vento
- Rogério Bambeia - Sambista
- Sra. Edite - Moradora de Itapuã e colaboradora do Malê Debalê
- Sérgio Carlos Santos (Serjão) - Coord. de ala de dança do bloco afro
Alan Oliveira
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