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PRETA BAHIA

Inclusão e representatividade: baiana lidera startup afrodiversa com interpretação e curso de Libras

Neta de uma das mais importantes lideranças religiosas do recôncavo da Bahia, Eurides Nascimento leva no trabalho a ancestralidade e o Candomblé

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Alan Oliveira

10/12/2022 às 8:00 • Atualizada em 17/12/2022 às 1:37 - há XX semanas
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					Inclusão e representatividade: baiana lidera startup afrodiversa com interpretação e curso de Libras
Foto: Divulgação

				
					Inclusão e representatividade: baiana lidera startup afrodiversa com interpretação e curso de Libras

Quando Eurides Nascimento começou a empreender com Libras, o foco do trabalho era oferecer cursos de imersão na língua de sinais, mas logo o propósito se expandiu. A demanda crescente na área da interpretação e a falta de empresas para dar conta da procura atraíram a afroempreendedora para o setor.

Atualmente, a startup criada e administrada pela baiana, a Libra +, é referência pela afrodiversidade, e atua ainda com a consultoria em acessibilidade. Entre os trabalhos no currículo do empreendimento, estão as duas edições do AFROPUNK Bahia, que é considerado um dos maiores festivais de cultura negra do mundo, e a Feira Preta, que é referência na América Latina.

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"A startup nasce com uma necessidade mercadológica de verdade. Não existiam cursos no mercado e nem tantas consultorias para dar conta dessa demanda, que é a questão da inserção. A gente nasce pensando que tem tudo, mas cadê essas pessoas? Onde elas estão? Cadê os profissionais para atender essa demanda? E aí a gente foi se desenvolvendo. E isso é mais de uma pessoa só. Então, eu fui me desenvolvendo. E o empreendimento vai crescendo a partir do momento em que seus criadores vão se desenvolvendo junto com ele".

A imersão na área e o modo de atuação com que trabalha, Eurides construiu ao longo da criação e da formação acadêmica, como contou em entrevista ao Preta Bahia desta semana. Nascida na cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, a baiana se mudou para Salvador aos 7 anos, depois que a avó morreu e a mãe acabou indo para a capital para estudar.


				
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Foto: Reprodução/Instagram

Na época, ela já era a mais velha de cinco irmãos. A família morava no bairro de Bom Juá e chegou a enfrentar dificuldades enquanto se estabelecia na cidade. Uma realidade diferente da que viviam no interior, onde a avó da afroempreendedora liderava um terreiro de Candomblé.

"Minha mãe deixou o Axé todo lá e veio cuidar da vida e aí ela experimentou junto com a gente a escassez. Com muita alegria também, mas eram ovos fritos na farinha para a gente comer. Era o que era possível".

Conhecida como Iyá Perina, a yalorixá é considerada uma das maiores lideranças religiosas da região. Ela tinha o mesmo nome da neta e também inspirou princípios, personalidade e religião, em uma expressão de pura ancestralidade, como relatou Eurides.

Uma série de conhecimentos que a baiana também absorveu da mãe, que é professora há décadas. E foi por isso que Eurides resolveu cursar licenciatura em Letras e acabou conhecendo o mundo de Libras. O contato inicial aconteceu com um curso de extensão, se repetiu no curso que já fazia e dele partiu para especializações.


				
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Foto: Divulgação

"Eu me sinto muito honrada, agraciada e agradecida, principalmente a minha avó, porque muita coisa que eu faço hoje a gente tem que entender que a primeira infância, o caráter, a personalidade, são forjadas no primeiros anos da infância e é por isso que eu honro muito minha avó quando eu falo, honro também minha mãe, honro essa família que me acolheu. E eu sou grata também às pessoas que acreditaram em mim".

Mas foi ainda durante o aprendizado que o dom de ensinar e interpretar a língua de sinais já se manifestava. Quando estava na extensão, a matéria ainda não havia sido dada na licenciatura. Então, ela passava o conhecimento para alguns colegas de turma, para eles absorverem o assunto que iria ser ensinado depois.

Somente em 2013 que a baiana começou a empreender de fato na área. Ao longo dos anos, ela acompanhou as mudanças e adequações, como a tradução de músicas em Libras e a inserção de movimentos dançantes durante as interpretações.

"Quando a gente falava de tradução de música para surdos lá atrás, muitas pessoas eram contra, porque diziam que música não é para surdo. Então, enquanto eu fazia esse movimento com outros amigos, que a gente dizia que era possível, a gente recebia retaliação. Hoje, as pessoas perguntam porque eu me movimento tanto e eu respondo que enquanto eu estiver me movimentando eu estou como um ato político".


				
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Foto: Divulgação

São quase 20 anos de atuação em uma área que, para Eurides, deveria ser introduzida ainda no Ensino Médio, durante a formação inicial. "Eu vejo que a gente precisa fomentar a formação, principalmente para meninos que estão aí no ensino médio, para ele entender que ter a libras como segunda língua não é só sobre tradução e interpretação. A gente precisa que todos os profissionais tenham a libras como língua, para atender as pessoas surdas", disse a afroempreendedora.

"O mercado precisa entender que a pessoa com deficiência é um consumidor. Eu acredito que as grandes marcas estão perdendo mercado, estão perdendo essa fatia", completou.

A baiana ressalta ainda que falta inclusão e que as pessoas ignoram Libras como uma língua, priorizando outras. "Para além de uma questão financeira, era uma questão de crença. Compreender que a libras é uma língua. E a gente percebe que algumas pessoas ainda têm um preconceito com relação às línguas. Muita gente quer aprender uma língua de prestígio maior. Um inglês, um espanhol, mas não a libras"

Para o futuro, a afroempreendedora espera mudanças positivas e também sonha em ser conhecida como referência nessa atuação. "Quero ter um portal de acessibilidade. Um lugar onde as pessoas cheguem e digam: 'Eurides entrega acessibilidade'".


				
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