Conhecida pelas opiniões fortes e as 'verdades' escancaradas, a jornalista e apresentadora Rita Batista se consagrou como um dos grandes nomes da TV Globo ao assumir o comando do "É de Casa". Entre os comentários sobre "palmitagem" e o excesso de cobranças, a comunicadora, que compõe a nova bancada do "Saia Justa", não se deixa abalar pelas críticas na web.
"Eu sempre disse coisas que eu não gostaria de fazer, sempre disse às pessoas, aos chefes, superiores, e, talvez, porque sempre fiz isso, tenham me colocado neste lugar do 'Rita Batista fala na cara, é insubordinada, indisciplinada'", comenta a jornalista, em entrevista ao vídeocast Preta Bahia, do iBahia, sobre os momentos em que precisou se levantar contra o racismo na carreira.
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Com 21 anos de experiência profissional, a conclusão de Rita é que não há arrependimentos. Seja na carreira ou na vida pessoal, a comunicadora sempre buscou se libertar das amarras do racismo e das expectativas do público.
As pressões sob uma pessoa preta de vida pública são atravessadas pelo racismo e possuem um tom determinante sobre como ela toca a vida. Recorrentemente, Rita precisa lidar com questionamentos das próprias escolhas que, para muitas pessoas, estão em suposto "contraste" às pautas que defende.
O que vestir, como usar o cabelo e, até mesmo, se os parceiros amorosos devem ser brancos ou negros é tema de debate. Nas redes sociais, Rita, que fala muito das temáticas voltadas para a negritude, tensiona - com a própria personalidade - a suposta necessidade de que a pessoa preta precisa seguir um modelo de vida específico.
"As pessoas são invasivas, então, você precisa saber como lidar. [Elas] não acreditam em milhares de coisas. Não acreditam que os homens pretos têm medo de mim! Porque só pode ser medo, né (...) Continuo no sindicato da palmitagem", brincou ela.
'Não sou obrigada', afirma Rita Batista sobre cobrança para comentar casos de racismo
Enquanto pessoa preta que representa e discute pautas ligadas à negritude, há também uma pressão social para uma eterna vigilância dos casos de violência contra a pessoa negra. Assim como outras cobranças feitas ao negro, ser sempre excelente, consciente e militante sobre o racismo está na lista.
Bem como outras personalidades negras de destaque, Rita Batista precisa viver com estes questionamentos. No início da carreira, quando ainda era locutora na Rádio Metrópole, em Salvador, Rita assumiu esse papel de militância constante, porque se via nessa posição enquanto única mulher negra no ambiente.
Atualmente, a jornalista entende que, além de injusta, essa cobrança já não pesa a consciência. "Já sofri muito [com isso], no passado. Porque ninguém falava e eu me via na obrigação de fazer [isso] e fiz muito na TV e no rádio", afirma ela. "[As pessoas perguntam] 'Porque você não comenta o caso de racismo número 50.230?', porque eu não quero!", enfatiza Rita.
"De uns tempos para cá, essa Wiki Preta, essa coisa de ter que a cada momento falar, essa urgência [...] A noção de que você tem que falar sobre tudo porque você é preta, nordestina, de Salvador, tem sardas, usa trança e é 'palmiteira'... Eu não 'tenho que' nada, meu amor!", finalizou ela diante das expectativas do público.
Rita pontua, porém, que isso não quer dizer que ela está alienada a essas questões e, na verdade, aprendeu a lidar com a situação. "Isso não quer dizer que eu estou alienada, que não estou acompanhando as coisas que estão acontecendo. É porque sou pessoa com as minhas complexidades, alguns assuntos me atingem muito como ser humano, como mulher, como preta e como mãe", afirma.
Além disso, ela enfatiza a necessidade de colocar as ações de combate ao racismo em prática, por meio das ferramentas existentes para lutar contra essa violência. "É importante saber quais são as ferramentas para combater essas, e outras, discriminações. [Saber] quais os órgãos que estão aí [...] e não ficar de garganta, de papinho, porque aí não vai rolar", pontua.
Letramento racial e consciência em casa
Sempre em Salvador, Rita destaca a importância da cidade, da família e da educação que recebeu em casa, para chegar onde está hoje. Única pessoa negra nos ambientes em que viveu, ela conta que os embates raciais fazem parte da vida desde cedo.
Para a jornalista, lembrar dos avós, das orientações que recebeu no núcleo familiar, andar pelas ruas de Salvador e participar do fluxo da cidade, são caminhos para o reencontro constante com a própria história.
"[Sempre volto] para me lembrar, para não esquecer. É preciso que a gente entenda quem [nós somos]. Eu sou uma comunicadora popular, então, eu preciso estar perto disso, preciso ver os fluxos na Avenida Sete de Setembro, na Feira de São Joaquim, na Sete Portas... O pertencimento e o territorialismo para mim são importantes, porque me fundiram", diz ela.
Iamany Santos
Iamany Santos
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