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PRETA BAHIA

Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'

Aposentado dos campos há seis anos, Adaílton Filho se tornou empreendedor social e tem contribuído na mudança de vidas afetadas pela desigualdade

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Alan Oliveira

28/01/2023 às 8:00 - há XX semanas
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					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
Foto: Divulgação

				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'

O ex-jogador de futebol Adaílton Filho trocou totalmente os campos de gramado por um outro ambiente desde que se aposentou da profissão, 6 anos atrás. Sócio de uma empresa do setor imobiliário e empreendedor social, o baiano criou e tem investido em uma associação que ajuda uma comunidade quilombola na Bahia.

A ação tem como objetivo melhorar a vida e dignidade dessas pessoas, além de fomentar o protagonismo preto, com qualidade de moradia, alimentação, saúde e educação. Esse último que é um pilar imprescindível para o projeto, segundo explicou Adaílton em entrevista ao Preta Bahia desta semana.

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"No momento em que a educação entrar nas periferias, nós vamos ter vários pretos, várias pretas, sabendo que o seu nariz é lindo, que a sua beleza é bela, que o seu cabelo é lindo. Eu não preciso alisar, eu não preciso afinar, eu não preciso retirar, e nem melhorar absolutamente nada", disse.


				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
Foto: Divulgação

Nascido no bairro da Liberdade e criado em outras duas comunidades de Salvador - São Tomé de Paripe e Garcia -, o baiano encontrou a vocação para o social ainda no começo da adolescência. Na época, ele fazia parte de um projeto que distribuía sopa e outros alimentos para pessoas em situação de rua e vulnerabilidade no centro da capital.

"Desde os 11 anos, quando eu ingressei no futebol, eu estava em uma escola que tinha a sopa solidária, e aquilo ali despertou um desejo grande de fazer algo em prol do social".

Ao longo dos anos, com as oportunidades que conquistou com o futebol, a vontade, a condição e as possibilidades de ajudar outras pessoas aumentaram. E foi dessa proximidade com as ações que surgiu o primeiro contato com a Olaria - comunidade que fica localizada na cidade de Entre Rios, no litoral norte da Bahia.


				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
Foto: Divulgação

O ex-jogador contou que sempre era convidado para ajudar os moradores por um primo, que vivia na região e já tinha um contato com o local, e sempre contribuía com cestas. No entanto, quando conheceu a comunidade, os problemas encontrados fizeram o baiano pensar maior e tentar ajudar de uma forma diferente e potencializada.

"Eu me sinto como um cumpridor de um dever. Se a gente parar para analisar a vida do ponto de vista um pouco mais holístico, não é possível que Deus nos criou somente para a gente acordar, tomar café, correr, trabalhar, ganhar dinheiro, gastar e dormir. Isso é vida fisiológica. Tem que ter um porquê para a gente estar vivo. Esse porquê eu acredito que seja para que a gente possa, de forma coletiva, contribuir para o bem coletivo. Enquanto tiver uma pessoa sofrendo de fome, a humanidade não vai ser feliz".

Foi desse desejo que nasceu a Associação Superação há 11 anos. Quando o projeto chegou ao local, as casas eram de barro, havia a proliferação de doenças como chagas, os moradores não tinham água potável para beber, tomavam banho em um rio poluído, e a educação era ruim, como lembra Adaílton.


				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
Foto: Divulgação

"No momento em que eu entrei em Olaria, realmente o impacto que aquela comunidade causou na minha vida foi tremendo, porque a pobreza se instalava ali da forma mais cruel, onde a mãe perdia o filho achando que estava caindo um pedaço de pano no chão, em que em uma semana a criança estava ali e na outra ela morria. Não tinha uma causa aparente".

Atualmente, o projeto contempla 60 crianças e 15 jovens de 45 famílias. Na unidade, elas dispõe de salas equipadas com quadro, mesas, cadeiras, retroprojetor e som. Lá, as crianças têm aulas de reforço e contato com ações culturais no contraturno escolar. Além disso, há outro espaço onde acontecem aulas de jiu-jitsu. Ainda está em fase de acabamento uma cozinha industrial, que servirá para capacitar os pais de alunos.

A ação é mantida pela empresa que Adaílton administra, por meio de um acordo que determina que obrigatoriamente 50% da arrecadação vá para a associação. Além disso, a iniciativa também recebe doações, que podem ser feitas com donativos ou dinheiro, voluntariado, e outros meios, como o projeto Faça Florescer.


				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
Foto: Divulgação

Por meio dessa última iniciativa, é feito um apadrinhamento para garantir alimentação, educação, atividades no contraturno escolar e assistência familiar a bolsistas de até 18 anos. Com o projeto, um padrinho faz uma contribuição mensal de R$ 250, com o prazo mínimo de um ano.

"Hoje em dia a gente implantou várias coisas positivas, desde água potável, melhoria das casas, construção de outras casas, construímos um centro educacional… mas ainda é muito pouco. A gente já está vendo alguns resultados, que são muito poucos, muito pequenos perto do que a gente quer implantar", contou.

Outra parceria que a associação tem tido é com o sistema Sesi/Senai, que garante os cursos para os jovens nos horários contrários aos das aulas convencionais. Uma oportunidade que o ex-jogador de futebol ressalta e pretende reforçar.


				
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"Nem todas as crianças da periferia conseguem entrar em uma instituição por uma questão de limite físico. Nosso intuito é levar o professor, com a metodologia, para as comunidades, e construir escolas que venham nascidas desse conhecimento que eles têm de fazer a educação possível para essas comunidades carentes".

"O nosso desejo é que a educação saia do polo educacional que é menos acessível, para que ele vá para o polo que necessita dessa educação muito mais", completou o baiano, que aprendeu sobre a importância do conhecimento e dedicação em casa.

Sempre apoiado pela família, Adaílton tinha no pai a base do incentivo para o desenvolvimento, principalmente no futebol. Se não fosse esses estimulo, que o próprio pai não encontrou no avó do baiano, ele não teria alcançado as vitórias que conquistou com o esporte.


				
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Durante a entrevista, o ex-jogador contou que o pai chegou a sonhar e iniciou carreira na mesma profissão que ele, chegando a jogar no Esporte Clube Bahia por um período, mas acabou abrindo mão do sonho e investiu em uma faculdade de medicina, aliado ao trabalho como taxista, para sustentar a família. "Naquela época, jogador de futebol era considerado sem futuro", lembrou.

Dessa convivência e com os ensinamentos passados pelo pai, Adaílton acabou se profissionalizando aos 16 anos, e aos 21 seguiu para clubes fora do estado, chegando à Seleção Brasileira. A aposentadoria veio aos 33 anos. No entanto, o legado do futebol foi eternizado, como relevou o atleta. "A disciplina foi, talvez, a maior herança que eu peguei no futebol".

Mas nenhuma dessas conquistas tornou Adaílton imune ao preconceito. O baiano conta que já foi e costuma ser vítima de racismo no dia a dia, principalmente diante do local de poder que ocupa enquanto empresário. Ao Preta Bahia, o baiano lembrou de situações em que foi diminuído por ser negro até em reuniões do trabalho.


				
					Ex-jogador de futebol cria e investe em associação para ajudar comunidade quilombola na Bahia: 'Fomento ao protagonismo preto'
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"Eu não fui vítima de racismo. Eu sou vítima do racismo. Até porque a nossa empresa vende apartamentos para pessoas que têm uma condição social elevada. Muitas vezes, quando eu entro em uma sala de reunião, e a pessoa pergunta para mim como se eu estivesse entrando ali para servir e não para decidir se ele vai comprar ou não uma unidade na minha empresa. E quantas vezes eu vou entrar no empresarial com meu sócio, que é branco, e eu estou dirigindo, e as pessoas perguntam se eu vou sair do carro, como se eu fosse o motorista dele", contou.

Diante do abalo, Adaílton tem encontrado forças para desenvolver as atividades da associação e combater o racismo. "Toda essa questão do racismo que vem até mim hoje, ela transforma isso em uma força motriz, que me direciona para a criação de novas possibilidades de fomento ao protagonismo preto".

Tudo baseado em educação. "Visando muito mais a questão da autoestima, porque 90% deles são pretos, e da capacitação das pessoas para enfrentar uma sociedade que naturalmente não quer o pratagonismo preto. A gente atua principalmente na autoestima das pessoas, para que entendam que através da ferramenta da educação eles conseguirão adquirir um protagonismo", finalizou.


				
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