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'Queria ter ouvido isso'

Duquesa impacta cena do Rap nacional com ousadia e empoderamento

Natural de Feira de Santana, Duquesa conquistou a cena do rap brasileiro e tem mudado perspectivas com letras ousadas e empoderadas

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Iamany Santos

02/03/2024 às 8:00 • Atualizada em 02/03/2024 às 11:40 - há XX semanas
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A compositora e rapper baiana Duquesa se estabeleceu na cena do Rap no Brasil chutando a porta com reflexões escrachadas e rimas diretas. Nascida em Feira de Santana, a cerca de 100 quilômetros de Salvador, Jeysa Ribeiro, que tem apenas 23 anos, vem derrubando barreiras na carreira e avisando a outras jovens como ela qual a lista de problemas a se priorizar nesse mundo cheio de desafios para as mulheres, em especial, as mulheres pretas.

Na carreira musical desde os 15 anos, Duquesa começou cantando Boom bap e R&B, mas achava que o ritmo a prendia em uma lógica de sofrimento da mulher negra.

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"Fiz um EP inteiro em R&B, mas sentia que tinha mais coisas para falar e acho que [o ritmo] me colocava num lugar onde [acredito que] o público queria, que é o da mulher preta falando de suas dores, sofrendo", conta a artista, em entrevista ao iBahia.

A virada de chave para ela foi a criação do álbum "Taurus", lançado em 2023, onde ela mistura ritmos como Rap, Boom bap e Trap. Com a música "99 problemas", a mais ouvida da artista no Spotify, Duquesa apresentou uma nova forma de falar de seus sentimentos e reflexões, fugindo do padrão esperado.

"Sabe que eu sou novinha visionária, por isso não fod* com ele no pelo. Sei que 'cê gosta de uma preta riquinha. Mas não é de mim que 'cê vai ter herdeiro", canta a artista.

"Eu penso que tudo na vida a gente tem várias formas de dizer a mesma coisa. A gente pode escolher a melhor forma para dizer algo, a pior ou a mais escrachada, a mais direta. Acho que "99 problemas" [é assim]. Muitas mulheres falam da mesma forma, mas eu escolhi a mais escrachada", comenta ela sobre o processo de idealização da letra.

Pensada como um alerta, a música fala das prioridades na vida de uma jovem mulher negra e confronta estruturas machistas, como a maternidade compulsória e subserviência das mulheres em relacionamentos.


				
					Duquesa impacta cena do Rap nacional com ousadia e empoderamento
Natural de Feira de Santana, Duquesa vem derrubando barreiras em sua carreira e conquistando espaço na cena do Rap Nacional. Foto: Divulgação

"Eu poderia escolher a forma mais sutil de dizer: 'ai, eu não vou colocar você como prioridade, meu sonhos, minhas metas e meu trabalho acima de tudo, eu vou cuidar do meu dinheiro"... mas, eu já disse isso! Muitas vezes! [Então], eu pensei, vamos fazer isso da maneira mais escrachada? Vamos acordar e chamar atenção para isso?", pontuou ela, que acredita que esta mensagem é essencial para mulheres mais jovens que vem tentando se livrar das imposições machistas.

"Eu queria ter ouvido isso quando eu tinha meus 16 anos. Queria ter começado a pensar sobre relacionamentos e prioridades muito antes dos traumas, por exemplo", pontua a artista.

'Não existe tirar minha baianidade', diz Duquesa


				
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Duquesa enfrentou dificuldades ao se mudar de Feira de Santana para São Paulo, com o objetivo de investir na carreira musical. Foto: Divulgação

Construir uma carreira no Rap é uma grande dificuldade para os artistas no Brasil, mas isso se intensifica quando se é um artista nordestino. Para além das dificuldades com os preconceitos ao ver uma mulher fazendo trap, uma vez que este meio ainda é majoritariamente masculino, sair de Feira de Santana e buscar espaço no mercado musical em São Paulo foi um dos grandes desafios para a carreira de Duquesa.

Com os festivais Cena e Rap Game, além de eventos como o Carnaval de São Paulo em sua trajetória, a baiana precisou passar por uma série de obstáculos até chegar onde está. Entre a solidão, a ansiedade, a depressão e as dificuldades financeiras, Duquesa conquistou seu espaço no cenário musical de São Paulo e hoje é reconhecida em todo o país.

"Eu não era valorizada no meu estado, não consegui emprego na minha cidade. Eu precisava comer, trabalhar, pagar conta. O Rap não estava me dando dinheiro, me ajudando em casa, ele estava mastigando meu sonho, minha perspectiva de vida", relatou a artista, sobre o que a levou a ir para o estado sudestino.


				
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Duquesa foi destaque pela Billboard Brasil em dezembro de 2023. Foto: Reprodução/Redes sociais

A mudança salvou o sonho da baiana, ainda que tenha gerado comentários negativos de conterrâneos, que questionaram a mudança.

"Eu sou a favor de você fazer o que tiver que fazer para manter seu sonho vivo, é isso o que importa. Não existe 'trair' o estado, se você nasceu em um lugar, você é deste lugar. Não existe alguém tirar minha baianidade, eu sou feirense até morrer. Em todo lugar que eu vou, faço questão de falar dos artistas de Feira, de lembrar que Feira de Santana existe", enfatiza ela.

Para Duquesa, o poder para mudar a realidade dos artistas na Bahia, e no nordeste, está na mão dos produtores culturais, que poderiam ampliar as curadorias dos eventos e incluir mais artistas da cena baiana nos festivais.


				
					Duquesa impacta cena do Rap nacional com ousadia e empoderamento
Duquesa já participou dos festivais Cena, em São Paulo, e Rap Game, em Salvador. Foto: Reprodução/Redes sociais

"Eu sei que contratantes tem um impasse entre popularidade, gasto e lucro, e que eles tem que dar conta disso. Eu compreendo isso. Mas existe uma responsabilidade social de incluir [esses artistas]. Se é mesmo pela cultura, se o discurso é esse, é preciso ter responsabilidade e perceber que há pessoas fazendo pela cultura e elas precisam estar [nos eventos]", afirma.

Taurus Vol.2

O ano de 2024 marcará o nascimento do volume 2 do álbum Taurus. Cheia de planos para este primeiro semestre, Duquesa pretende lançar a nova edição de seu maior sucesso ainda neste início de ano.

"Este ano tem Taurus Volume 2, no primeiro semestre. Estou muito feliz e empolgada, temos muitos projetos vindo em paralelo e eu espero muito que aconteçam shows em Salvador e [outros lugares] da Bahia", disse a artista.


				
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Foto: Reprodução/Redes sociais

Em janeiro, Duquesa participou do projeto Set Ajc Vol 2, lançado pela rapper Ajuliacosta, em parceria com outras artistas. "Foi uma produção inteira feita por mulheres, desde a produção audiovisual, [até as] beatmakers, tudo", conta ela, orgulhosa da iniciativa.

Cuidando da saúde, a artista está fazendo uma pausa, mas revela que a agenda de shows volta em março.

"Estou com saudades da rotina de shows, mas estou cuidando dessa máquina para poder dar conta desse ano que vai ser incrível, com certeza", finaliza.

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