Por que a Pombagira é tão demonizada pela sociedade? Foi após esse questionamento que a cantora, atriz, jornalista e, agora, escritora, Ana Mametto resolveu mergulhar no universo da literatura e escrever a obra "Pombagira - A Entidade Silenciada".
O livro expõe questões como preconceito, estereótipos, valores, liberdade de crença, perseguição e intolerância religiosa, através da história da entidade que surgiu no século XX e é cultuada por religiões de matriz africana até os dias atuais.
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Em entrevista ao vídeocast Preta Bahia, do iBahia, a artista abriu o coração para falar da entidade, temida por aqueles que não conhecem a fundo a origem e defendeu que todos deveriam, senão cultuar, conhecer a verdadeira natureza da deusa que ela considera uma "grande conselheira".
"A Pombagira sempre foi muito presente na minha vida e quando eu me dei conta dessa presença eu aproveitei e acolhi ela. Falar de Pombagira é falar sobre mim, sobre mulheres. Eu não estou falando sobre entidade, estou falando de uma mulher. Na visão cristã a 'pomba' é espírito, paz, amor, desejo e a 'gira' é movimento, roda da fortuna, ciclo sucessivo de vida e morte. Pombagira é amor em movimento, desejo e movimento", diz ela.
O livro "A Entidade Silenciada" é fruto do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo de Mametto, e nasceu principalmente da dificuldade dela para encontrar materiais sobre o assunto enquanto construía a monografia.
Gargalhadas, batons escuros e liberdade de expressão corporal são algumas das características que fazem a Pombagira ser quem é. A soteropolitana ainda destacou que um dos principais desejos é que a obra sirva de referência para todas as pessoas que queiram sanar dúvidas sobre a entidade.
"Eu quero que [a obra] desmistifique a ideia que criaram sobre ela [a Pombagira]. Não tem nada maior que combata a intolerância e a ignorância que o conhecimento. A partir da leitura vocês vão poder ter armas, armas no sentido de se proteger, do saber. É um livro para dar luz e ter poder de decisão", pontua Mametto.
Adepta da Umbanda há 15 anos, Ana Mametto também declara o quanto a presença espiritual da entidade é fundamental para ela exercer diferentes ofícios na música, no teatro, audiovisual, ramo empresarial e, agora, na literatura.
"Ela é a nossa sombra. Ela chega através de um arrepio, uma voz, um sonho, via um pensamento. É só deixar fluir. Ela traz o amor de volta, o amor-próprio. Ela cuida de você, é uma conexão de dentro para fora. Pombagira hoje representa força, ela é dona do seu corpo, destino, sexualidade, ela é uma mulher da atualidade".
Daniela Mercury 'fez chave' de Ana Mametto virar; entenda
Ana Mametto nem sempre se reconheceu como uma mulher preta. Ainda na entrevista, ela revela que Daniela Mercury foi peça fundamental para enxergar a verdadeira essência do empoderamento negro e quebra de padrões.
Na época, a cantora tinha muitos contatos com músicos e cantores majoritariamente brancos, no entanto, a voz de "O Canto da Cidade" trabalhava apenas com pessoas pretas e isso fez a chave de Ana Mametto virar.
"No meu primeiro trabalho com Daniela [Mercury], que tinha uma equipe toda preta, aquilo foi me empoderando, fui me enxergando daquela forma, aí a chave virou, meu cabelo deixou de ser alisado [...] passei por muitas coisas veladas também [racismo]. Como não ficar com o trabalho porque eu era preta e escolhiam meninas brancas", revela ela.
Mametto defende a própria verdade com unhas e dentes e não vê problemas em entrar em embates contra o racismo, intolerância religiosa e mais. "É uma luta diária e eu não tenho nenhum problema nessa batalha. Não tenho problema de falar sobre racismo, de falar de religião, de falar de Pombagira", completou a artista.
Veja o vídeocast com Ana Mametto abaixo:
Lucas Sales
Lucas Sales
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