Criado em 2011, o projeto 'Nordeste eu Sou' (NES) é um portal comunitário independente, fundado no Complexo do Nordeste de Amaralina, bairro periférico de Salvador. O portal apresenta ao público uma visão sobre a favela que muitas vezes passa despercebida. É um local que traz a fala da comunidade sobre si mesma e não com o olhar de terceiros.
O projeto foi fundado pelo publicitário e empreendedor social Jefferson Borges, dono de uma mente criativa e inquieta que revoluciona em prol da transformação social do povo da favela. Em entrevista ao Preta Bahia da semana, o jovem relembrou o início o projeto, falou sobre oportunidades, além de toda a mobilização que o NES traz para a comunidade residente no bairro.
Leia também:
A história de Jefferson é exceção. As estatísticas apontavam que as chances de conclusão de um curso do ensino superior, por exemplo, seriam mínimas. Preto, periférico e candomblecista... Quem diria que um rapaz desse porte se tornaria não apenas publicitário, mas um dos potentes mobilizadores sociais da capital baiana? Tudo isso, aos 32 anos.
A inquietude do jovem, necessidade de mudança e a inspiração em Rene Silva - criador do Voz da Comunidade -, foram fatores determinantes para o NES se tornar o que é. A admirável jornada de Jeff teve início quando ele assistiu o fundador do Voz, no antigo "Caldeirão do Huck", programa exibido na TV Globo.
"Começamos com uma brincadeira na laje e ele tomou uma proporção que a gente jamais imaginou. Somos conhecidos nacionalmente, já participamos de diversos fóruns, TEDs, já temos 12 anos de atuação. Em 2024 tem um evento grandioso que eu vou estar. Vou passar 30 dias fora do país", disse ele.
Em 12 anos de atuação, o NES se tornou para além de um portal, uma ONG que auxilia a comunidade do Nordeste de Amaralina com atividades esportivas, cursos profissionalizantes, mutirões de saúde, distribuição de alimentos entre várias outras atividades.
Ele também trouxe um potente relato do quão o NES pode mobilizar vidas e até mesmo tirar uma delas de dentro do universo do tráfico.
Luanderson Ferreira foi preso por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. A avó e a mãe do jovem morreram e ele não conseguiu liberação na Justiça para presenciar os respectivos enterros. Após pedir ajuda a Jefferson, ele se tornou fotógrafo profissional e atua diretamente na equipe do Nordeste eu Sou e logo em breve concluirá um curso na área de comunicação.
"Ele me disse que queria trabalhar, que estava em busca de oportunidade e que não gostaria de voltar para o crime. Conseguimos uma oportunidade e hoje ele já fala em fazer faculdade, estudar, trabalha com a gente no NES. Ver histórias como a do Luanderson é o que me faz continuar. É ver de perto o nosso impacto refletir na sociedade".
"Hoje atendemos as demandas da comunidade, desde um enterro até formação de pessoas. Durante a pandemia a gente ajudou 400 mães doando cestas básicas em parceria com a Gerando Falcões e a CUFA durante seis meses e não paramos aí. Na casa NES estamos montando também um estúdio de podcast para toda a comunidade, além de uma redação para que todos os nossos colaboradores trabalhem com o suporte que eles precisem. É na casa Nes que a gente exerce todas as atividades do grupo".
Quanto mais forças agem contra as pautas sociais e raciais, mais Jeffersons e Renes surgem junto no movimento. O jovem tem consciência da potência do trabalho que tem desenvolvido juntamente com toda a equipe.
"A gente utiliza a comunicação comunitária para mudar a vida das pessoas. Hoje não mudamos apenas a vida do [complexo de] Nordeste de Amaralina, mas como o do [bairro] Luis Anselmo. Até 2028, existe uma rede de portais comunitários que a gente pretende lançar. Queremos expandir o projeto para portais nos bairros de Calabar, Boca do Rio, Bairro da Paz, Liberdade, além do Nordeste [de Amaralina] e Luis Anselmo", finalizou ele.
Lucas Sales
Lucas Sales
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!