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PRETA BAHIA

Artista plástico descobre talento após acidente grave e usa dom para combater racismo religioso na Bahia

Antes carreteiro, Samuel Cruz inseriu a arte no dia a dia para tratar sequela dez anos atrás, e agora protagoniza exposições contra demonização de orixás

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Alan Oliveira

31/12/2022 às 8:00 - há XX semanas
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					Artista plástico descobre talento após acidente grave e usa dom para combater racismo religioso na Bahia
Foto: Arquivo pessoal

Um grave acidente que teve tudo para marcar a vida de Samuel Cruz como algo negativo, acabou se tornando o divisor de um futuro de felicidade, realização e ressignificação que ele não imaginava que viveria. De carreteiro, o baiano passou a ser também artista plástico e se encontrou na luta contra o racismo religioso.

A situação aconteceu dez anos atrás, quando Samuel acabou se ferindo depois que a carreta que dirigia tombou em uma estrada da região metropolitana de Salvador. Na época, ele perdeu o movimento da mão direita e a arte com papel surgiu como uma terapia, que passou a ser artesanato e acabou se tornando profissão.

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Foto: Arquivo pessoal

"Depois daquele momento, eu precisava fazer alguma coisa. Fiquei dois anos e meio encostado. E eu fiquei em casa, ansioso e ocioso, querendo me ocupar com alguma coisa, até que encontrei a arte de papel na internet", contou o artista em entrevista ao Preta Bahia desta semana.

Inicialmente, o baiano produzia peças que retratavam o cotidiano dele. Mas após uma encomenda passou a construir obras ligadas à cultura e religiosidade de matriz africana. Atualmente, as peças que mostram orixás dão visibilidade ao trabalho dele, enchem exposições e ajudam o baiano no que ele classifica como combate à demonização.


				
					Artista plástico descobre talento após acidente grave e usa dom para combater racismo religioso na Bahia
Foto: Arquivo pessoal

"Eu comecei a fazer os orixás e, na medida que eu vinha fazendo, eu comecei a sentir uma conexão, que existia algo ligado à minha ancestralidade. E eu fui produzindo", contou. "É trazer à memória e quebrar um pouco dessa demonização que as pessoas, principalmente os europeus, criaram, trouxeram essa imagem demonizadora dos orixás. Trazer os orixás em uma perspectiva diferente", completou.

Uma prática que o próprio Samuel teve, antes de entender a importância da valorização da identidade preta. "Eu vivi durante um período no cristianismo e eu demonizava um pouco, porque eu não tinha o conhecimento. Às vezes as pessoas demonizam, criticam, porque elas não têm esse conhecimento. Mas, a partir do momento em que elas começam a buscar e a entender do que se trata, ela já começa a quebrar um pouco daqueles paradigmas que foram implantados nas mentes delas quando não tinham o conhecimento".


				
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Foto: Arquivo pessoal

Hoje consciente, além de combater a prática, o baiano também condena. "Eu acho tão triste quando um homem negro ou uma mulher negra demonizam algo que não conhecem. E sendo algo que vem da própria ancestralidade".

Nascido e criado no bairro do Nordeste de Amaralina, na capital baiana, o artista plástico conviveu com a violência da periferia e as dificuldades de fazer parte de uma família grande. Em busca de um futuro melhor, Samuel chegou a servir na Aeronáutica. Apaixonado por corrida, ele competiu pela Corporação por 4 anos, antes de iniciar a trajetória como carreteiro.


				
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Foto: Arquivo pessoal

Hoje, o baiano se divide entre a condução de carretas, a arte e os estudos. Diante do que a vida o apresentou e querendo aprender cada vez mais, ele passou a cursar Licenciatura em Artes Visuais. O objetivo é, além da prática, ter a teoria, e crescer ainda mais na profissão.

"Não adianta você só ter a prática. A teoria é algo muito importante. E eu tenho percebido isso. Você saber um pouco do que você está fazendo de fato, como começou a arte, onde começou a arte. Tudo isso tem sido muito importante".


				
					Artista plástico descobre talento após acidente grave e usa dom para combater racismo religioso na Bahia
Foto: Arquivo pessoal

O artista que nunca imaginou um dia ocupar os espaços que tem ocupado não quer mais sair de cena. "Eu nunca me vi artista e hoje eu não quero sair dessa condição nunca mais, porque está sendo muito bom, muito bacana, e, sobretudo, a minha contribuição, mesmo que ela seja mínima. Mas, de qualquer forma, eu percebo que eu contribuo não só na questão da preservação do meio ambiente, como também desconstruindo paradigmas religiosos, e quebrando um pouco do racismo religioso".

Para o futuro, Samuel deseja reconhecimento, crescimento e novas oportunidades, para, com isso, dar mais visibilidade ao trabalho e à luta, e poder ajudar outros artistas como ele.

"O meu sonho é infinito. Todos os dias eu durmo e acordo pensando no reconhecimento, em novas oportunidades, pensando em estar com minhas obras em outros estados, outros países, sendo visitado em museus. É mostrar o meu talento para o Brasil, para o mundo".


				
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Foto: Arquivo pessoal

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