Com mais de 120 projetos de arquitetura e design realizados pelo Brasil e mais de 600 alunos mentorados, João Gabriel, 27 anos, carrega em sua trajetória a força da representatividade negra em um mercado que ainda carece de diversidade. Filho de feirantes, o arquiteto e urbanista nasceu no distrito de Fazenda Velha, zona rural de Jequié, na região sudoeste da Bahia.
João foi convidado para expor no Casa Cor Bahia 2024, que acontece entre esta terça-feira (17) e 6 de novembro, em Salvador, onde vai prestar uma homenagem a Gilberto Gil com ambientes que exploram a ancestralidade da Bahia e as referências da cultura afro-brasileira. Além disso, o seu projeto "Sala Preta" vem ganhando destaque por oferecer mentoria gratuita para arquitetos negros que buscam se inserir no mercado de trabalho.
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Este ano, o profissional também foi destaque na revista "Pequenas Empresas & Grandes Negócios", da Editora Globo.
Do caminho de terra ao sonho concreto: como arquiteto que cresceu em assentamento se tornou referência na Bahia
O arquiteto conta que cresceu em um assentamento. "Meus pais moravam em uma terra cedida pelo governo e desde criança convivi com os desafios de superar a falta de oportunidades. Lembro que todos os dias caminhava 40 minutos para ir à escola. Cada degrau até o reconhecimento que tenho hoje foi um degrau solitário", afirma em entrevista ao iBahia.
João Gabriel é filho de feirantes e desde cedo aprendeu a conviver com os desafios causados pela falta de oportunidades. Sua história carrega marcas de uma realidade socioeconômica que hoje serve como incentivo para o seu propósito profissional.
Nas redes sociais, o baiano ganhou destaque a medida em que ia expondo os seus projetos ao mesmo tempo em que revisitava pautas sociais aplicadas ao universo da arquitetura. Além disso, suas postagens também refletiam as vivências e dificuldades enfrentadas como homem negro e gay.
"Desde jovem, sempre senti falta de referências negras em meu contexto social e acadêmico. Durante a minha formação em arquitetura eu estudei em uma faculdade com maioria de alunos brancos e isso me fazia questionar sobre o quão raro era ver pessoas como eu nesse ambiente, já que o curso, muitas vezes inacessível para pessoas negras, reflete também as desigualdades socioeconômicas", complementa.
A medida em que seu discurso se projetava nas plataformas, o número de seguidores consequentemente aumentava. No X, antigo Twitter, por exemplo, o arquiteto alcançou 71 mil seguidores. Nas outras redes sociais, ele já conta com mais de 30 mil seguidores.
"A arquitetura é mais do que projetos e construções; é um campo de oportunidade, onde hoje luto para abrir caminhos para que mais pessoas negras possam se ver representadas", afirma o baiano.
"Canto do Gil": arquiteto de Jequié homenageia Gilberto Gil e cria ambientes inspirados na ancestralidade baiana
Este ano, João Gabriel foi convidado para expor na mostra Casa Cor Bahia 2024, um dos eventos referência no campo do design e da arquitetura no Brasil. Tendo como inspiração a ancestralidade de Gilberto Gil, João apresenta o espaço "O Canto de Gil", uma experiência imersiva nas raízes culturais negras do Brasil.
"Gilberto Gil, um dos maiores ícones culturais da Bahia e do país, foi a referência principal para essa homenagem, especialmente por sua conexão com a ancestralidade afro-brasileira. A concepção do ambiente foi inspirada pela música “Baba Alapalá” e pela trilogia de álbuns "Refazenda", "Refavela" e "Realce", que formam o espírito do projeto", explica o arquiteto.
Ao entrar no espaço "O Canto de Gil", os visitantes são recebidos por tons de barro que evocam uma conexão profunda com as raízes da cultura negra. A ancestralidade de Gil é retratada em imagens e símbolos que refletem sua herança cultural e familiar.
Uma árvore, presente no hall de entrada, simboliza essas raízes, enquanto as esculturas e os objetos artesanais brasileiros reforçam a ligação com a terra, “A escravidão interrompeu a história negra, retirando pessoas de suas terras e alterando suas identidades. Como podemos construir o futuro sem conhecer o passado?” reflete João Gabriel. Com essa obra, ele busca ressaltar a importância de olhar para nossas origens para moldar o futuro, alinhando-se ao tema da Casa Cor 2024, "De presente, o agora".
"Sala Preta": arquiteto baiano cria mentoria gratuita para ajudar profissionais negros a se inserirem no mercado de trabalho
A Mentoria Sala Preta surgiu como um projeto voltado para arquitetos negros, com o objetivo de capacitá-los em áreas fundamentais da profissão, como posicionamento de mercado, gestão de escritórios e captação de clientes. A mentoria é gratuita e, de acordo com João Gabriel, idealizador do curso, as aulas se estendem por três meses.
"A gratuidade da mentoria é um aspecto essencial, uma vez que muitos jovens arquitetos negros enfrentam barreiras econômicas para acessar recursos profissionais", afirma o idealizador.
Com 25 alunos já confirmados para a primeira turma, o objetivo é promover a inclusão e diversidade no campo da arquitetura. O arquiteto está em busca de marcas e parceiros para apoiar financeiramente o projeto, ampliando seu alcance a jovens arquitetos de todo o Brasil.
Santiago Neto
Santiago Neto
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