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‘A gente precisa se ver nos espaços’, diz Tarsila Alvarindo sobre representatividade

Em entrevista, repórter da TV Bahia refletiu ainda sobre racismo, desafios da profissão e negritude

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Lucas Sales

26/08/2023 às 9:00 • Atualizada em 26/08/2023 às 17:19 - há XX semanas
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					‘A gente precisa se ver nos espaços’, diz Tarsila Alvarindo sobre representatividade
Foto: Reprodução / Redes sociais

Natural de Ilhéus, no sul da Bahia, a jornalista Tarsila Alvarindo vive o melhor momento da carreira. Hoje, com 40 anos, a comunicadora reflete os principais últimos acontecimentos da trajetória, inspiração para outras mulheres e também dos desafios da profissão no Preta Bahia desta semana.

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Repórter há seis anos, a profissional conversa com o público de casa com uma proximidade real, como se fossem amigos dividindo assuntos leves ou mais densos. O estilo adquirido com o tempo e experiência "bebe"de fontes preciosas como Glória Maria, Zé Raimundo, Zileide Silva, Heraldo Pereira e outros comunicadores. Pessoas que abriram caminhos para que ela e outros pudessem aparecer.

"Estou no caminho da maturidade profissional. Estamos em processo contínuo de evolução. Hoje estou na melhor fase e acredito que pode ser ainda melhor daqui pra frente. Estou no local que durante muito tempo não sabia que seria para mim. A gente sabe o quanto é difícil ocupar determinados lugares. Eu achava que esse espaço era somente para uma única pessoa, uma em cada ponto. Tínhamos sim representações como a Glória [Maria], Heraldo [Pereira], Zileide [Silva] [...]".

Por trás da plenitude diante das câmeras existe arte circense, contato diário com amigos, "cervejinha" nos fins de semana, entre outras válvulas de escape para se manter no equilíbrio. A diversidade contribui para o desenvolvimento e que oportunidades apareçam. Para Tarsila, a presença de Glória Maria foi fundamental para ela estar onde está.

"A grande referência sempre foi a Glória. Quando eu era criança ela já estava ali e eu dizia que queria fazer aquilo que ela fazia. Eu cresci vendo ela. E o que mais me impressionou nela foi toda a versatilidade. Ela foi perfeita em tudo aquilo que fez. Fez 'Fantástico' com excelência, apresentou o 'Globo Repórter' com perfeição. Ela era incrível. Apresentava tudo com proximidade, seja matérias pesadas ou leves como por exemplo da vez que ela fumou maconha, Zé Raimundo também tinha essa coisa de trazer a gente próximo. Eles não trazem uma proximidade forçada, é com limites, respeitosa. Você se via nessas reportagens".


				
					‘A gente precisa se ver nos espaços’, diz Tarsila Alvarindo sobre representatividade
Foto: Reprodução / Redes sociais

Além de viver diferentes notícias diariamente, a repórter expressa com talento e estilo único assuntos emblemáticos e o dia a dia da capital baiana. Tarsila tem total noção do quanto a imagem dela é importante e inspiradora para outras meninas, por isso busca ocupar a tela com propriedade de cada assunto.

"Eu tenho muita noção do que é esse papel que eu ocupo. Me lembro da primeira vez que tive contato com crianças e elas me disseram o quanto se viam em mim. Quantas vezes eu quis ser a Glória? Nunca serei ela, mas hoje sou a Tarsilla Alvarindo e eu preciso mostrar para essas meninas que elas também podem. A gente só está aqui por uma série de coisas. Principalmente pessoas que abriram os caminhos, os incentivos dos nossos pais, a dedicação dos nossos pais, as políticas públicas que são importantíssimas".

A seguir, os melhores trechos da entrevista:

Dor e delícia de ser repórter

"A dor é lidar com muitas dores, lidar com a miséria, e eu acabo me envolvendo e sofrendo junto com aquelas histórias. Para mim é muito difícil manter aquele distanciamento, ser fria [...] Já a delícia é a magia da comunicação. A magia de você estar em diversos ambientes, de levar boas notícias, e no nosso caso, sendo pessoa preta é massa mostrar que a gente está evoluindo e que o mundo é nosso, que a gente pode continuar seguindo".


				
					‘A gente precisa se ver nos espaços’, diz Tarsila Alvarindo sobre representatividade
Foto: Lucas Sales/iBahia

Reportagem emblemática

"Teve um desabamento de umas casas e eu sei o quanto é difícil para aquelas pessoas comprarem um sofá, geladeira, uma televisão, um fogão [...] tinha um senhor do meu lado que chorava copiosamente. E ele me dizia que levantava quatro manhã para trabalhar e dar o que tinha de melhor para a esposa e os filhos. Eu me lembro como hoje do que eu falei na época: 'isso não é apenas parede, isso é história, são horas de vida'. Ele tinha visto mais de 30 anos de vida dele ali no chão. Tudo desmoronado".

Agressão durante trabalho

"Aquela própria agressão que eu sofri, se fosse uma pessoa branca tudo seria diferente. Quando aqueles rapazes me agrediram eles achavam que aquele corpo preto vale menos, eles viram pessoas como eles, como se pensassem que 'a gente não vale nada para a sociedade, eles também não valem'. Esse episódio ainda reverbera em mim de uma maneira muito negativa".

Vídeo: Reprodução/ Redes sociais

Racismo

"A gente avançou muito por que cobramos muito, mas os olhares para a população preta ainda são como se a gente fosse um ser menor, inferior, a gente não é, mas muita gente nos trata assim. Dói quando a gente vai fazer uma entrevista e a pessoa pergunta: 'cadê o repórter?'. A gente precisa se ver nos espaços. Acho que tantos rostos pretos na tela se deve a cobrança da sociedade, do povo preto. Fomos vistos como consumidor. Foi nesse momento que as portas se abriram".

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