A dinâmica do crime que matou a ialorixá Mãe Bernadete, no dia 17 de agosto, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, foi detalhada na manhã desta quinta-feira (16) pela Polícia Civil durante coletiva na sede do Ministério Público da Bahia, no Centro Administrativo da Bahia (CAB).
Conforme a delegada geral Eloisa Brito, cinco homens participaram diretamente do homicídio, sendo dois mandantes, dois executores e um informante, todos vinculados a uma facção criminosa responsável pelo tráfico de drogas na região. Um sexto homem foi indiciado em um inquérito separado por ter recebido as armas após o crime e ajudado a fuga de um dos executores.
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O inquérito policial foi finalizado após três meses de investigação. A morte da ialorixá teria sido motivada por sua defesa veemente do território. Dias antes de ser executada, Mãe Bernadete se posicionou publicamente contra a construção de um bar na região do colombo, espaço que, segundo a polícia, seria utilizado pelos criminosos como ponto de comercialização de drogas.
“Na investigação ficou claro e inequívoco que Mãe Bernadete morreu porque lutava contra o tráfico de drogas na região onde ela morava. Ela tinha uma legitimidade popular muito grande. Seus conselhos, orientações eram ouvidas pela comunidade. Isso está fartamente comprovado na investigação através de depoimentos de testemunhas, da extração de áudios de telefones apreendidos, interceptações telefônicas”, afirmou Luis Neto, coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco-BA), que participou das investigações.
Foram denunciados à Justiça pelo homicídio Arielson da Conceição Santos, 24 anos; Josevan Dionísio dos Santos, 26; Marílio dos Santos, 34; Ydney Carlos dos Santos de Jesus, 28; e Sérgio Ferreira de Jesus, 45. Eles irão responder pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe e recurso que impossibilita a defesa da vítima.
No dia do crime, conforme relata o inquérito, Arielson e Josevan, a mando de Marílio e Sydney, chegaram a pé na residência de mãe Bernadete. Informações sobre a rotina da vítima e a melhor forma de adentrar a residência foram passadas por Sérgio, que conhecia Mãe Bernadete. Na residência, a vítima estava acompanhada de três netos, dois deles menores. Mãe Bernadete foi executada na sala de casa com 25 tiros.
O sexto envolvido, identificado como Carlos Guionai, foi denunciado por porte ilegal de arma de fogo e por auxiliar na fuga de um dos executores. Guionai foi responsável por receber as duas pistolas após o crime e por conduzir a fuga de Arielson da Conceição até a cidade de Araças, no interior da Bahia, onde foi preso no dia 1º de setembro.
Dos seis envolvidos, três estão presos - Arielson da Conceição, Sérgio Ferreira e Carlos Guiodai. Os demais estão foragidos.
Áudios de celulares ajudaram a polícia
Áudios trocados pelos criminosos em aplicativos de mensagem ajudaram a polícia a detalhar a motivação do crime. Ouça aqui:
“Fiquei sabendo no quilombo que Bernadete falou que no dia da festa vai cercar tudo de polícia, vai pegar todo mundo aí. Ela está mandando um carro preto aí cheio de polícia para tirar foto das barracas. Ela disse que vai dar risada quando tiver todo mundo na cadeia. Fica ligado aí. Avisa a Café [Ydney Carlos]. Fica ligado no carro preto aí. Vai pegar todo mundo na moita", diz Sérgio a uma pessoa próxima aos líderes de facção apontados como mandantes do crime.
Após o crime, Sérgio, que tinha uma bar na área do quilombo e convivia com Mãe Bernadete, enviou outra mensagem aos comparsas. A orientação era para que retirassem o chip dos aparelhos celulares para evitar que fossem rastreados. Ouça aqui:
Mãe Bernadete fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do Governo Federal. A sede do quilombo Pitanga dos Palmares, onde ela vivia, era monitorada por sete câmeras de segurança. No dia do crime, apenas quatro estavam funcionando.
Mari Leal
Mari Leal
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