Um casal de candomblecistas denuncia ter sido vítima de intolerância religiosa, depois de ser expulso do apartamento onde moravam de aluguel, no bairro do Garcia, em Salvador.
Tudo aconteceu depois do Carnaval de 2024, quando teriam concordado em ceder um dos quartos do imóvel para que a dona alugasse por temporada para outras pessoas.
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Conforme relatos de Diego Caldeira e Jessica Rabêlo, houve uma confusão durante o período envolvendo a dona do imóvel, e, durante a tentativa de diálogo com a mulher, ela teria cometido o crime.
Entre as gravações em áudio feitas pelo casal e entregues à polícia, a dona do imóvel disse: "Estou com as fotos das 'macumbas' que vocês têm aí dentro do quarto. Vocês intimidaram o pessoal aí. Vai ter todo mundo como testemunha", se referindo a imagens de orixás que o casal tinha em um dos quartos do imóvel.
A equipe de reportagem da TV Bahia entrou em contato com a dona do apartamento, que não autorizou que a conversa fosse gravada e nem que o conteúdo fosse divulgado. Ela também disse que não tinha motivo para informar o telefone do advogado dela.
Além da investigação da Polícia Civil (PC), a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) também acompanha os desdobramentos do caso.
Casal denuncia intolerância religiosa
Durante entrevista à TV Bahia, Diego e Jessica contaram que moraram no apartamento por 9 meses, até que, em dezembro de 2023, a designer de moda e o cozinheiro receberam uma proposta da mãe da dona do imóvel, falando sobre o período do Carnaval.
Na ocasião, a mulher teria justificado o pedido alegando que estava passando por dificuldades e precisava de dinheiro. Ela também teria dito que apenas três pessoas ficariam no cômodo.
Então, o casal aceitou o pedido, mas foi surpreendido no dia 10 de fevereiro, sábado de Carnaval, quando nove pessoas entraram no apartamento.
"Eu não sei como aquelas pessoas viam a gente dentro do apartamento. Eu não sei se eles pensavam se nós alugamos para o carnaval. [...] Eles foram entrando e já tendo acesso a tudo", relembrou Diego Caldeira.
Com as nove pessoas no imóvel, o casal conta que entrou em contato com a dona do apartamento para saber quem eram os inquilinos temporários.
Como resposta, a mulher disse que as pessoas faziam parte da família dela e que se eles não gostassem da presença, que poderiam arrumar os pertences e deixar o local naquele exato momento. Em seguida, a mulher ordenou que Diego e Jéssica saíssem do apartamento já que o imóvel era dela.
"Eu vou passar uma mensagem para a portaria para vocês não entrarem no prédio. Então vocês têm 24 horas para tirar as coisas de vocês e saírem, tá certo?", disse a dona do apartamento através de uma mensagem de áudio.
Em seguida, o casal saiu do local para pedir ajuda policial e, ao retornar, foi impedido de entrar no imóvel. Após o impedimento, o casal contou que recebeu de volta o aluguel que já havia sido pago com antecedência.
Sem poder entrar no local para retirar os objetos, Diego e Jessica disseram que foi preciso recorrer à Defensoria Pública da Bahia (DPE). Só dessa maneira a designer de moda e o cozinheiro conseguiram recolher os pertences dentro do apartamento e, desde então, os objetos estão em um pequeno depósito do prédio. Desde 11 de fevereiro, eles estão morando provisoriamente na casa de uma vizinha.
A designer de moda trabalhava no apartamento, e por causa disso, a máquina de costura está parada há quase duas semanas. Ela precisou recusar trabalho de um ateliê por não ter como atender a demanda.
O que dizem as autoridades sobre a intolerância religiosa
Ao ficar ciente do caso, o síndico repudiou a intolerância religiosa cometida pela dona do apartamento e convocou uma reunião com os moradores.
Em nota, a polícia informou que o caso é investigado pela Delegacia dos Barris. Disse ainda que a Coordenação Especializada de Repressão aos crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid) já tem conhecimento do fato e vai intimar a suspeita.
Já a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) informou que o casal recebeu acolhimento, orientação jurídica e apoio social e psicológico. A Sepromi também está em contato com as instituições que apuram os crimes.
"Há um somatório de tantas violações como quebra de contrato entre inquilina e locatário, agressões verbais, ameaças, intimidações, racismo religioso, difamação e calúnia na vizinhança, impacto econômico no trabalho da vítima porque ela trabalhava em casa. Nós esperamos que a Justiça considere todos esses fatos e de fato designe uma pena", disse Ângela Guimarães, secretária da Sepromi.
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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