Quando sem tratamento, a maioria das crianças infectadas com o HIV não sobrevive por mais que dois anos, mas um pequeno grupo, que varia entre 5% e 10% do total de casos, possui um mecanismo que impede o avanço da doença. Chamadas como pacientes não progressores pediátricos (PNP, na sigla em inglês), elas podem viver normalmente e, por vezes, a presença do vírus nem é percebida. A compreensão desse mecanismo pode levar a novos tratamentos mais eficazes contra a doença. Entre adultos, a resistência à progressão do HIV também é encontrada, mas em percentual de 0,3% dos infectados. Estudos apontam que a forma como esses raros adultos controlam a infecção é pela montagem de uma resposta imunológica particularmente forte contra o vírus. Contudo, na maioria dos casos, essa forte resposta imunológica contribui para a progressão acelerada de outras doenças. — Com a terapia antirretroviral (ART) a infecção pelo HIV pode ser impedida de se desenvolver para a Aids. Entretanto, até mesmo os que têm a ART bem-sucedida continuam tendo um risco aumentado para outras doenças normalmente ligadas ao avanço da idade, incluindo doenças cardiovasculares, cânceres e demência. A raiz para o problema é que a ativação do sistema imunológico nunca retorna ao normal — disse Philip Goulder, professor da Universidade de Oxford e líder do estudo publicado no periódico “Science Translational Medicine”. — Entretanto, quando olhamos o modo como essas crianças estão resistindo ao HIV, nós descobrimos que eles conseguem de forma diferente dos adultos. Os pesquisadores descobriram que o mecanismo que impede a progressão do HIV nas crianças mostra similaridades com a defesa de primatas africanos contra o SIV — equivalente símio ao HIV. Cerca de 40 espécies carregam o SIV, com alta carga viral no sangue (viremia), mas não apresentam aumento da atividade imunológica nem desenvolvem doença. Entre as crianças resistentes à progressão do HIV, os cientistas também encontraram alta viremia e baixa ativação imunológica, como nos macacos com o SIV. O estudo foi realizado com o sangue de 170 crianças da África do Sul, infectadas pelo HIV, mas que nunca passaram por terapias retrovirais ou desenvolveram Aids. Elas possuíam dezenas de milhares de vírus em cada mililitro de sangue. Normalmente, isso provocaria uma elevação da atividade imunológica, na tentativa de lutar contra a infecção, ou simplesmente deixá-las doentes, mas nada aconteceu. — Essencialmente, o sistema imunológico delas está ignorando o vírus — disse Goulder. — Iniciar uma guerra contra o vírus, na maioria dos casos, é o que não deve ser feito. Por mais que pareça estranho, não atacar o vírus parece salvar o sistema imunológico. O HIV mata os glóbulos brancos, os “soldados” do sistema imunológico. E quando as defesas do corpo entram exaustão, ainda mais glóbulos brancos podem ser mortos, levando à níveis crônicos de inflamação. — Novas pesquisas são necessárias para estabelecer o exato mecanismo nas crianças — disse Goulder. — Isso vai nos dar mais informações sobre como a doença co HIV se desenvolve e pode nos dar novas abordagens de tratamento além da ART, que bloqueiem o caminho entre a infecção por HIV e a Aids.
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Redação iBahia
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