Um tratamento oferecido numa clínica de reprodução assistida na Grécia permitiu que ao menos duas mulheres na transição para a menopausa engravidassem usando os próprios óvulos, num feito pioneiro na medicina. Segundo reportagem publicada na revista “New Scientist”, os médicos da Genesis Athens Clinic usaram supostas propriedades curativas do sangue para rejuvenescer o sistema reprodutor das pacientes e permitir a gestação.
— Eu já tinha desistido de engravidar — disse uma das pacientes, uma alemã identificada apenas como WS, que está no sexto mês de gestação. — Para mim, é um milagre.
O médico Kostantinos Sfakianoudis e sua equipe retiram um pouco de sangue da paciente e colocam numa centrífuga para isolar o plasma rico em plaquetas. Esse líquido, com alta concentração de células envolvidas da coagulação, já é utilizado para acelerar a cicatrização de lesões em esportistas, embora sua eficácia não seja comprovada. Na clínica grega, esse plasma está sendo injetado diretamente nos ovários e no útero, numa tentativa de recuperar o sistema reprodutivo.
Até o momento, mais de 180 mulheres passaram por esse tratamento experimental, a maioria pacientes com algum distúrbio que provocou danos ao revestimento do útero. Contudo, a técnica também foi testada para tentar rejuvenescer os órgãos de 27 mulheres na menopausa ou perimenopausa, com idades entre 34 e 51 anos.
— Nós tivemos pacientes que vieram até da Mongólia — disse Sfakianoudis, destacando que a maioria desejava engravidar, mas algumas apenas aliviar os sintomas da menopausa.
A clínica não sabe exatamente quantas mulheres na menopausa conseguiram engravidar, pois as pacientes retornam aos seus países de origem para realizarem o tratamento de fertilização in vitro. Porém, ao menos duas relataram o início da gestação. A alemã WS, de 40 anos, estava tentando engravidar de um segundo filho há seis anos, com seis tentativas frustradas de fertilização in vitro.
— Após o sexto tratamento, o médico me disse que eu deveria parar e considerar a doação de óvulos — contou.
Em vez disso, ela viajou para a Grécia para se tratar na Genesis Athens, retornou para a Alemanha e tentou a fertilização in vitro pela sétima vez. Com a estimulação hormonal, ela liberou três óvulos, e o de melhor qualidade foi fertilizado. O embrião foi implantado em seu útero e agora ela está no sexto mês de gestação.
— Está tudo correndo bem — disse WS. — É uma menina!
A outra mulher, uma holandesa de 39 anos, não menstruava há 4 anos e mostrava outros sinais da menopausa. Como ela desejava começar uma família, passou pelo tratamento na clínica em dezembro do ano passado. Um mês depois, voltou a menstruar. Após retornar para a Holanda, passou por um tratamento de fertilização in vitro natural, sem a estimulação hormonal. Os médicos coletam um óvulo liberado durante a ovulação, fazem a fertilização fora do corpo e depois reimplantam o embrião. O tratamento funcionou e ela chegou a engravidar, mas sofreu um aborto espontâneo neste mês
Médicos consultados pela “New Scientist” se mostraram animados com os resultados, mas recomendam cautela. Testes controlados devem ser realizados antes de se chegar a uma conclusão sobre a eficácia do tratamento, que pode ser apenas obra do acaso.
— Qualquer coisa que ajuda os ovários a reconquistarem a função seria fabuloso — disse John Randolph, da Universidade de Michigan. — Muitas pessoas apostam alto em algo assim.
FUNCIONAMENTO DESCONHECIDO
Além disso, ninguém sabe ao certo o que poderia fazer os ovários voltarem a funcionar. Uma teoria é que o plasma desperta células-tronco que estão adormecidas no ovário, encorajando a produção de novos óvulos, mas os cientistas ainda debatem se essas células realmente existem. Outra explicação seria que o próprio plasma injetado teria células-tronco.
— Nós precisamos entender como isso funciona e se é seguro — disse Randolph.
Já Claus Yding Andersen, do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, acredita que o simples fato de inserir uma agulha no ovário possa gerar os efeitos. Provocar danos no ovário pode alterar o formato dos vasos sanguíneos que abastecem o órgão, o que pode fazer com que folículos ovarianos que estavam isolados recebam sangue pela primeira vez, e liberem os óvulos.
Sfakianoudis planeja realizar testes clínicos, que vão comparar o efeito do plasma rico em plaquetas com a injeção de placebos. Até lá, é impossível constatar ou refutar a eficácia do tratamento, avalia Kutluk Oktay, do New York Medical College. Mesmo após o início da menopausa, restam alguns folículos ovarianos, então existe uma pequena chance de as mulheres engravidarem nesta fase, mesmo sem qualquer tratamento.
Andersen, da Universidade de Copenhague, alerta ainda que os riscos da gravidez aumentam com a idade:
— Eu acho ser questionável se deveríamos permitir que mulheres com 60 ou 70 anos engravidem — disse.
Os testes clínicos serão realizados na Grécia e nos EUA, mas mesmo sem os resultados, Sfakianoudis continua oferecendo o tratamento em sua clínica. Normalmente, a menopausa acontece por volta dos 50 anos, mas algumas experimentam a menopausa prematura, antes dos 40 anos. Mulheres que passam por quimioterapia também têm a menopausa adiantada, e um tratamento como esse ofereceria uma nova chance para engravidar.
— Algumas pessoas podem não encontrar um parceiro até uma fase adiantada da vida — disse Sfakianoudis. — Se existir um tratamento que possa ajudá-las, por que não usar?
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Redação iBahia
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