O uso de anti-inflamatórios pode reduzir os riscos de ataques cardíacos e derrames, independentemente dos níveis de colesterol, aponta estudo apresentado durante o fim de semana no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia. Segundo os autores, a descoberta abre portas para novas terapias e promete a maior revolução no tratamento de doenças cardiovasculares desde o surgimento da estatina.
— Nós descobrimos que em pacientes de alto risco uma droga que reduz a inflamação, mas não tem efeito sobre o colesterol, reduziu os riscos de grandes eventos cardiovasculares — celebrou Paul Ridker, diretor do Centro para Doenças Cardiovasculares do Hospital Brigham, em Boston, e autor principal da pesquisa. — Durante a minha vida, vi três grandes eras da cardiologia preventiva. Primeiro, nós reconhecemos a importância da dieta, dos exercícios e do abandono do cigarro. Depois, vimos o valor de drogas que reduzem os lipídios, como as estatinas. Agora, estamos abrindo as portas para a terceira era. Isso é muito empolgante.
O estudo foi realizado com 10.061 pacientes que já tiveram um ataque cardíaco e apresentavam altos níveis da proteína C-reativa, um marcador para inflamação. Todos receberam o tratamento convencional, que inclui altas doses de estatina, droga usada para o controle do colesterol, e foram divididos em grupos que receberam 50, 150 ou 300 miligramas do anti-inflamatório canakinumab, ou placebos. As doses foram dadas a cada três meses, e os pacientes foram acompanhados ao longo de quatro anos.
Os pacientes que receberam as injeções de canakinumab apresentaram redução de 15% no risco de um evento cardiovascular, que inclui ataques cardíacos fatais e não fatais, e derrames. Além disso, a necessidade de procedimentos médicos, como pontes de safena e colocação de stents, foi reduzida em mais de 30%. Contudo, não houve alterações significativas na taxa de mortalidade, nem redução nos níveis de colesterol.
Como um todo, a droga foi considerada segura, apesar de apresentar risco de infecção severa em um a cada mil pacientes. Essa taxa foi compensada por uma inesperada redução no número de mortes por câncer, sobretudo o câncer de pulmão, que apresentou redução de 75% no número de casos por motivos ainda desconhecidos. Estudos futuros irão avaliar os efeitos do canakinumab contra o câncer.
— Os dados sobre as taxas de câncer apontam para a possibilidade de desaceleração da progressão em alguns casos, mas esses são achados exploratórios que precisam ser replicados — comentou Ridker.
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Redação iBahia
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