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SAÚDE

Pesquisador alerta para o risco de infecções por superbactérias

OMS divulgou uma lista com 12 famílias de bactérias resistentes a antibióticos que ameaçam os sistemas de saúde de todo o mundo

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Redação iBahia

01/03/2017 às 15:07 • Atualizada em 31/08/2022 às 21:55 - há XX semanas
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Na segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou uma lista com 12 famílias de bactérias resistentes a antibióticos — conhecidas como superbactérias — que ameaçam os sistemas de saúde de todo o mundo, inclusive do Brasil. A entidade ranqueou os micro-organismos em três grupos de acordo com a prioridade, seguindo critérios técnicos como a letalidade das infecções provocadas, a frequência em que são identificadas cepas resistentes e quantas opções de tratamento existem.

"Infelizmente, bactérias dos três níveis de prioridade já foram detectados no Brasil", afirma Nilton Lincopan, professor da USP especialista em resistência bacteriana e alternativas terapêuticas. — Algumas espécies listadas como prioridade crítica e alta têm adquirido um caráter de endemicidade em estabelecimentos hospitalares de diversos estados.

No topo da lista da OMS estão a Acinetobacter baumannii e a Pseudomonas aeruginosa, além do grupo Enterobacteriaceae, que inclui a Klebsiella, a E. coli, a Serratia, e a Proteus. Essas bactérias já desenvolveram resistência a antibióticos da classe carbapenema, considerados um dos últimos recursos terapêuticos, indicados exatamente para tratar infecções por micro-organismos multirresistentes.

As outras duas categorias contêm bactérias que provocam doenças mais comuns, como gonorreia e intoxicação alimentar pela salmonela. Até pouco tempo atrás, a preocupação com infecções provocadas por micro-organismos resistentes praticamente se restringia ao ambiente hospitalar. Hoje, bactérias, parasitas e vírus imunes a antibióticos estão espalhados por todo o mundo.

Contudo, Lincopan destaca que a lista da OMS aponta apenas a resistência para classes específicas de antibacterianos, não para à totalidade de antibióticos disponíveis comercialmente.

"Porém, pesquisas nacionais e internacionais têm documentado o surgimento, dentro das espécies citadas como prioridade crítica e alta, de micro-organismos que exibem uma versatilidade genética que lhes permite adquirir genes de resistência que poderiam contribuir para que uma destas espécies bacteriana seja resistente à totalidade ou quase totalidade das drogas disponíveis", disse o especialista.

Para as bactérias citadas pela OMS, ainda existem tratamentos alternativos, seja pelo uso de antibióticos pertencentes a outras classes ou pelo uso combinado de duas ou mais drogas. Esse procedimento, entretanto, eleva a complexidade do tratamento. A OMS estima que uma infecção provocada por um micro-organismo resistente apresenta risco de morte entre duas e três vezes maior na comparação com uma infecção pela mesma bactéria sem resistência. E os custos do tratamento são cinco vezes maiores.

"É importante deixar claro que a evolução de uma infecção depende não só do tipo de agente bacteriano e a sua resistência específica, mas também do tipo de paciente e de seu sistema imunológico", disse Lincopan. "Por isto, muitos destes agentes bacterianos listados têm repercussão sobretudo ao nível hospitalar, onde de forma oportunista produzem infecções hospitalares."

COMO SURGE A RESISTÊNCIA


O especialista explica que a resistência bacteriana segue o princípio Darwiniano de sobrevivência do mais adaptado, pelo qual a espécie bacteriana tem uma versatilidade genética intrínseca de adquirir genes e incorporá-los para seu benefício. Num ambiente hospitalar, por exemplo, com grande presença de agentes antimicrobianos, as bactérias precisam driblar esse obstáculo para sobreviver. Com o tempo, os micróbios sobreviventes passam às próximas gerações características genéticas de resistência.

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Esse processo acontece não apenas em clínicas e hospitais, mas também na casa das pessoas, pelo uso inadequado de antibióticos. Quando um paciente interrompe um tratamento, ou faz aplicação desnecessária de uma droga, os micróbios sobreviventes podem se tornar resistentes. O mesmo acontece com o uso de compostos químicos na agropecuária.

"É preciso o uso racional, que implica uma prescrição adequada pelo profissional, baseada em um laudo laboratorial que confirma o processo infeccioso por um agente bacteriano que é suscetível ao antibiótico que será prescrito", recomendou o pesquisador. "Uso correto do tratamento por parte do paciente, respeitando horário, duração e dosagem pescritos. Também é importante a educação constante para a população e para estudantes e profissionais que fazem parte de diversas áreas da medicina humana e veterinária, para que pratiquem o uso racional de antibacterianos."

Para Lincopan, o alerta da OMS se faz necessário porque é urgente a atenção de toda a comunidade internacional para a questão. Segundo o pesquisador, o “número de infecções por bactérias resistentes aumenta cada ano de forma alarmante e isto reflete na morbimortalidade de pacientes”. A estimativa é que, se nada for feito, em 2050 os micro-organismos resistentes serão responsáveis pela morte de 10 milhões de pessoas todos os anos.

"De fato, em muitas revistas científicas especializadas se faz menção à possibilidade inevitável de um retorno a uma era pré-antibiótica, onde muitas infecções tinham um desenlace fatal perante a ausência de antibióticos", alertou Linconpan.

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