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SAÚDE

Jogo de empurra: estado culpa município pela lotação de emergências

Secretaria Municipal de Saúde confirma que a assistência atende apenas 17% da população

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18/02/2011 às 14:22 • Atualizada em 28/08/2022 às 7:57 - há XX semanas
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Era cedo quando dona Iva França, aposentada de 69 anos, acordou com fortes dores de cabeça. Pela idade e pelo histórico da idosa, os familiares suspeitaram que ela passava por um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Prontamente os filhos chamaram um táxi e a levaram para o 5º centro de atendimento de emergência, que fica no Vale dos Barris. Começava então a maratona para conseguir um atendimento na rede pública de saúde. O médico que atendeu a idosa alegou que naquela unidade não havia aparelhos suficientes para fazer o procedimento necessário e solicitou que a família a levasse para o Hospital Geral do Estado (HGE). “Quando chegamos aqui (HGE), o médico não queria atender. Disse que era para ter ficado lá no 5º Centro, pois não tinha vaga para ela. Foi preciso insistir muito, ameacei que ia levar ela para outro lugar e foi aí que ele resolveu atender, mas com na condição que ela esperasse os todos que estavam na frente. Graças a Deus, não precisou e quando ela entrou foi logo atendida”, conta Lucimara França, 26 anos, filha de dona Iva. Ela lembra também que quando chegou ao hospital foi direto para a recepção preencher a ficha de atendimento, sem mesmo passar por uma triagem, procedimento em que são avaliados os riscos de morte em cada problema. Casos como o de dona Iva são frequentes e fazem parte das centenas de situações que chegam aos hospitais da cidade de Salvador, diariamente. Lucimara pode não saber, mas para otimizar os atendimentos está sendo implantando na rede estadual o Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) para dar prioridade aos casos mais graves, já que não há espaço de sobra. O que ela chama de triagem e que não foi realizado era um dos principais passos no atendimento da paciente, que se esperasse por todos os outros atendimentos poderia ficar com alguma sequela.
E quanto aos outros pacientes que aguardavam na emergência? Será que estavam deitados em macas suspensas com pré-atendimento de enfermeiras e técnicos? Com certeza não. De acordo com o diretor de gestão da rede própria da Secretaria de Saúde do Estado, José Walter Jr., em Salvador a demanda nas unidades de saúde estaduais faz com que os leitos destinados, principalmente, aos casos que advém do atendimento pré-hospitalar móvel ou de transferências sejam preenchidos por enfermidades que poderiam ser tratadas ou prevenidas em Postos de Saúde da Família (PFS). Quase 50% das internações na capital e, praticamente, 100% das internações de urgência/emergência são realizadas em hospitais estaduais, fato que aumenta ainda mais o déficit de leitos, como explica José Walter: “A deficiência nos serviços do município de Salvador, que apresentam baixa cobertura e resolutividade na atenção básica, baixa capacidade instalada para os serviços de urgência e emergência, dentre outros, há impacto direto no quadro assistencial do município, e consequentemente acarretam o grande aumento de demanda nas unidades de saúde estaduais. Desta forma, há uma superlotação das nossas unidades estaduais”.
Além da superlotação das emergências de Salvador, o que incomoda a população é o tempo para atendimento. Há dois anos, a aposentada Elenézia Santos, 66 anos, tratava uma ferida exposta na perna causada por bactéria. Por diversas vezes, foi levada para hospitais da cidade, mas era mandada de volta para casa para tratar com repouso e antibióticos em postos de saúde. Só que a bactéria não foi bem tratada e quando todos imaginavam que havia curado, a ferida reabriu e a aposentada teve que ir para emergência do Hospital Roberto Santos conter a hemorragia. Segundo a família, ela deu entrada na unidade às 16h, foi atendida às 21h e dormiu em uma cadeira plástica, no corredor do hospital. Pela manhã, foi colocada em um leito onde ainda se recuperava. O diretor da rede própria da Sesab justifica tais situações com o grau de complexidade de cada caso. “Recebemos muitos pacientes em estado avançado de suas enfermidades, muitos crônicos, agudizados. São atendimentos complexos, que demandam tempo maior. Além daqueles casos mais simples que também se dirigem às unidades hospitalares. Ambas situações são agravadas pelo fato da rede básica em Salvador possuir baixa cobertura”, explica. José Walter enfatiza, ainda, que a assistência dada à população, por parte da prefeitura chega a aproximadamente 15%, sendo que o recomendado pelo ministério é de 70% e isso sobrecarrega a rede, já que leva a maioria da população a procurar a rede hospitalar para todo tipo de atendimento. Em nota enviada ao iBahia, a prefeitura, através da Secretaria Municipal da Saúde, afirma cobrir apenas 17% da população e que a cidade tem um histórico de atrasos na saúde, sendo a penúltima capital do país a assumir a gestão plena: “O PSF só foi implantado no município apenas em 2000, seis anos depois do resto do país. Já está sendo feito levantamento de custos para reformar as unidades de saúde, principalmente aquelas que possuem grande demanda e estão com estruturas e instalações danificadas. O investimento em recursos humanos será feito através de concurso, tornando o serviço público mais atrativo e assim dispor de profissionais motivados”. Além disso, a secretaria municipal informou que há expectativas de chegar em 2012 com a cobertura do Programa de Saúde da Família em cerca de 40%. “Dessa forma, 85% dos problemas de saúde poderão ser resolvidos nas unidades básicas, diminuindo significativamente a procura pelas emergências”. Enquanto isso, as filas continuam imensas, os pacientes permanecem nos corredores aguardando vaga para serem atendidos e a população de Salvador segue, teoricamente, gozando de todos os direitos fundamentais da saúde pública como determina a Lei nº 8.080/90. Como proceder em momentos de emergência?
Você já passou por alguma dificuldade em emergências de hospitais públicos ou particulares de Salvador? Conte sua história para nós, deixando seu comentário abaixo. Participe! Internauta: Andréa Cirne "Ano passado eu estive doente e precisei de atendimento médico de emergência e tive que esperar muito tempo para que isso acontecesse. Estava a um dia e meio sentindo fraqueza, diarreia, dor de cabeça e febre, mal conseguia ficar sentada, então meus pais resolveram me levar ao médico prevendo que pudesse ser alguma doença grave, como a dengue. Fui para a emergência do Hospital Português, cheguei lá por volta das 18h, fizeram minha ficha e me deixaram na recepção sentada aguardando atendimento. Tinham algumas pessoas na minha frente e quanto mais o tempo ia passando ia chegando mais gente. Esperei por volta de 6h sentada, querendo deitar, pois estava com fraqueza e febre, para que pudesse receber atendimento. Lembro-me que tinha uma senhora chorando, que toda hora pedia a recepcionista que pelo amor de Deus a atendessem logo, lembro que com a intenção de que a moça fizesse isso por ela, a senhora tirou um chocolate da bolsa e pediu que adiantassem o processo que ela não estava aguentando mais. Horrorizada com o atendimento péssimo, ainda se tratando de um hospital particular, comentei com outras pessoas o que havia passado, todas falaram que não se surpreendiam, que isso já virou comum. Precisei de atendimento outra vez em uma ocasião parecida e passei um bom tempo novamente esperando o atendimento. Aprendi que procurar um hospital, só em último caso". Internauta: Tessia Ferrari "Chamo-me Tessia Ferrari, tenho 22 anos e sou estudante de Fisioterapia. Bom quem nunca passou por uma dificuldade em emergências de hospitais públicos ou particulares de Salvador?! Ano passado tive uma crise de gastrite, estava numa situação tão critica que tive ir as pressas ao Hospital da Cidade, minha mãe que também é da área de saúde, resolveu me levar para esse hospital pelo simples fato de ser o mais próximo da minha residência que fica em Brotas e que meu plano tem atendimento. Chegando lá, me sentei e minha mãe entregou todos os documentos necessários para atendimento de emergência, mas de emergência não teve nada, só fui ser atendida 2 horas após chegar ao Hospital. Só havia dois médicos clínicos plantonista na casa, sendo que um era apenas para atendimento pediátrico, e lá como em qualquer hospital ou centro de atendimento á saúde, a prioridade é de idosos e criança, então os demais pacientes mesmo aparentemente mais debilitamos ficavam para traz literalmente. Acho que nessas situações deve-se usar o bom censo. Sinceramente minha situação não umas das melhores, ao ponto da maioria dos pacientes que estavam aguardando atendimento ficarem incomodados por eu não ter sido atendida logo a minha chegada e há 3 pessoas irem na recepção pedir para que eu fosse logo atendida. Realmente o sistema de saúde do Brasil e principalmente da Bahia deixa a desejar, independente de ser hospitais públicos ou particulares. Espero que os profissionais que estão se formando e ingressando no mercado tenha mais humanidade e venha fazer a diferença na Saúde".

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