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SAÚDE

Entenda como os alimentos e micróbios ajudam a cicatrizar lesões

Alimentação equilibrada e hidratação adequada são essenciais para uma cicatrização eficiente

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Redação iBahia

21/08/2018 às 22:01 • Atualizada em 01/09/2022 às 1:04 - há XX semanas
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Comer os alimentos certos e receber a ajuda de micróbios amigáveis que vivem em nosso próprio corpo podem ser instrumentos tão poderosos quanto os bisturis dos cirurgiões na hora de tratar de lesões graves. Esses ferimentos estão cada vez mais comuns devido à violência no trânsito e à medida que a população envelhece e adoece. Marcelo Oliveira, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explicou alguns cuidados simples.

Foto: Reprodução / Pixabay


Como os micro-organismos que "habitam" a pele, a microbiota, influenciam a saúde e o processo de cicatrização?


A pele funciona como uma barreira física. Ela produz substâncias que inibem o crescimento excessivo de bactérias nocivas. A pele tem uma microbiota natural importante para a sua proteção e de vital importância contra infecções e inflamações. Existem cerca de 100 trilhões de micróbios na pele. As bactérias de nossa pele, quando o organismo está em harmonia, são equilibradas naturalmente. É que preciso evitar o uso de sabonetes bactericidas sem orientação médica, a exposição excessiva ao sol sem proteção e banhos muito quentes pra não afetar esses organismos.

Somente a microbiota da pele tem importância na cicatrização de lesões ou a de outras partes do organismo, como os intestinos, também é essencial?

A microbiota intestinal influencia diretamente a cicatrização de feridas. Interações do sistema imunológico com as bactérias que regulam o desenvolvimento da imunidade das mucosas do intestino e alteram a composição da microbiota, contribuindo para o bem-estar.

O sistema imunológico da mucosa intestinal de crianças amadurece ao longo de vários meses após o nascimento. Para se ter uma ideia, ao nascer, uma criança não tem microbiota associada, e é fundamental para ela que as mucosas sejam o mais rapidamente colonizadas pelos micro-organismos. Aparentemente, a microbiota gastrintestinal de uma criança só chega às características populacionais e funcionais de um adulto após seis meses a um ano de vida. Portanto, a fase de colonização digestiva no recém-nascido é um período crítico durante o qual a chegada de um micro-organismo potencialmente patogênico num ecossistema ainda incompleto e pouco funcional pode ser extremamente prejudicial.

Como bactérias que, em sua maioria, vivem normalmente na pele humana se tornam perigosas?

A maioria das infecções é causada por micro-organismos oportunistas, ou seja, aqueles que tipicamente compõem a microbiota normal do paciente e passam a causar doença, quando inseridos em ambientes desprotegidos como sangue e tecidos internos. Podemos citar a Escherichia coli e Candida albicans como exemplos desses organismos.

Como se pode evitar a infecção de lesões? O uso de antibióticos é sempre positivo ou existem outros cuidados importantes?

O uso de antissépticos e antibióticos tópicos nem sempre é recomendado e eficaz nas feridas, podem ser tóxicos para as células fundamentais no processo de cicatrização. O uso de técnicas assépticas, higienização das mãos do profissional de saúde, dieta balanceada rica em vitaminas e proteínas são importantes. É preciso manter a pele limpa, seca e hidratada, com cremes sem álcool.

Os idosos são mais vulneráveis? Por que?

Em pessoas com 60 anos ou mais de idade, o desequilíbrio da microbiota da pele é mais intenso. Alterações do envelhecimento (principalmente a desidratação de pele e mucosa) e doenças que favorecem a proliferação de micro-organismos nocivos. Os idosos possuem o sistema imune comprometido, retardando sua cicatrização.

Quais os tratamentos mais eficazes?

Atualmente pautamos os tratamentos para fechamento de lesões crônicas e traumáticas, principalmente nos pacientes idosos, debilitados, diabéticos e isquêmicos (déficit circulatório), com as chamadas cirurgias minimamente invasivas, diminuindo os riscos de complicações. O uso da terapia por pressão negativa (VAC) associada ao uso de matrizes dérmicas podem acelerar a cicatrização. Matrizes dérmicas são substitutas de pele, criadas por engenharia tecidual. Elas são compostas de colágeno bovino e uma substância chamada condroitina, que fazem o papel da derme (a camada mais profunda). A epiderme é substituída por uma camada de silicone que permite a troca de fluidos e impede a invasão de bactérias .

Como o VAC funciona?

O VAC é um aparelho que estimula a cicatrização da pele, o fluxo sanguíneo nos tecidos e combate bactérias. Essa técnica consiste na aplicação de uma pressão negativa (vácuo) através de uma espuma de poliuretano, que é ajustada ao tamanho e à profundidade da ferida do paciente. O aparelho ligado à espuma controla a graduação e também a frequência do vácuo. A cicatrização ocorre mais depressa e a lesão é curada em menos tempo. Tenho o caso de um ator de 65 anos que sofreu um acidente grave na Barra da Tijuca, em 16 de abril. Ele teve uma fratura exposta da tíbia, com perda de gordura, músculos, tendões e nervos do tornozelo ao joelho. A situação foi tão grave que achamos que teríamos que amputar a perna. Quatro dias após o acidente foi realizada a primeira cirurgia e iniciado o tratamento com o VAC. O avanço tem sido muito grande desde o início.

De que forma a alimentação adequada pode acelerar o processo de cicatrização?

Uma alimentação que contemple todos os grupos, como frutas, legumes, raízes e tubérculos, entre outros, além de uma hidratação adequada, são necessárias para que a cicatrização seja eficiente. Estudos demonstram que a deficiência de proteínas prejudica o processo de cicatrização, favorecendo maior risco de infecções. Uma nutrição adequada é muito importante, pois está relacionada tanto ao desenvolvimento do ferimento como à sua cicatrização, além de desempenhar um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida e na diminuição do tempo de internação do paciente. Por isso, para a boa cicatrização, é necessário que a dieta seja balanceada com proteínas, ácidos graxos, arginina, carboidratos, vitaminas A e C e zinco.

NUTRIENTES LIGADOS À SAÚDE DA PELE

Proteínas: componentes básicos das células, sua deficiência retarda a cicatrização de feridas. São essenciais durante o processo de proliferação de fibroblastos (células da pele), angiogênese (formação de vasos sanguíneos), maturação de linfócitos (células de defesa), síntese de colágeno e remodelamento da ferida.

Arginina: esse aminoácido atua fortemente na cicatrização. Proporciona a melhora da ferida, estimula a resposta imune local através dos linfócitos e, como precursora do óxido nítrico, é um potente vasodilatador com propriedades antibacterianas e angiogênicas. Também estimula o aumento na secreção do hormônio de crescimento favorecendo a cicatrização.

Ácidos graxos (ácido linoleico e ácido araquidônico):
são de grande importância na cicatrização, pois atuam na constituição da membrana celular e nas funções metabólicas e inflamatórias de diferentes células.

Carboidratos: principal fonte energética utilizada na cicatrização, sendo importante para o metabolismo de diversos tipos celulares, tais como leucócitos, fibroblastos, células epiteliais e endoteliais. A ativação de enzimas na cicatrização é dependente de carboidratos, assim como a adesão, a proliferação e a migração celular.

Vitamina A: Necessária para a manutenção da epiderme normal. Ela estimula a deposição de colágeno pelos fibroblastos, acelera a cicatrização e a restauração da camada superficial da pele.

Vitamina C: Atua na cicatrização das feridas por participar do processo de formação do colágeno e na proliferação dos fibroblastos.

Zinco: Funciona como um gatilho para a ação de mais de 200 substâncias envolvidas no crescimento celular e na síntese de proteínas. Por isso, é indispensável para a reparação dos tecidos.

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