Eslane Paixão, candidata à Prefeitura de Salvador pelo Unidade Popular (UP), foi entrevistada na manhã desta quinta-feira (14) durante a sabatina da Central de Eleições da Rede Bahia. Ele afirmou que, se eleita, pretende implementar educação sexual nas escolas municipais e criar uma empresa pública de aplicativos que substituiria os aplicativos existentes.
Paixão foi a quarta candidata entrevistada na série do g1, TV Bahia, iBahia e plataformas digitais da Bahia FM com os candidatos à Prefeitura de Salvador. A ordem das entrevistas foi estabelecida através de sorteio. As sabatinas são realizadas ao vivo, entre 12 e 19 de agosto, às 9h30, com transmissão no iBahia e no g1 Bahia.
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A candidata defende a implementação da educação sexual nas escolas municipais. Ela afirma que o objetivo do projeto é prevenir crimes de abuso sexual infantil, que frequentemente ocorrem dentro de casa.
"As professoras e professores que a gente tem hoje no nosso município são totalmente capacitados para isso (...). Com essa iniciativa, a gente visa que menos crianças sofram o que sabemos que hoje é a realidade do nosso país. O objetivo é ter escolas onde as crianças sejam de fato acolhidas, porque hoje isso não acontece de fato", afirmou.
Ainda no tema da educação, a candidata planeja implementar o tempo integral nas escolas municipais. Além disso, Eslane acredita que é viável utilizar estruturas municipais já existentes para abrir novas unidades educacionais em Salvador, dada a necessidade de muitas crianças e adolescentes se deslocarem para outros bairros devido à falta de vagas em creches e escolas.
No que se refere à empregabilidade, Eslane Paixão propõe a criação de uma empresa pública de transporte. Ela argumenta que o objetivo é garantir a dignidade dos trabalhadores de aplicativo, destacando que, no modelo atual, os lucros são predominantemente direcionados para grandes empresários. De acordo com ela, os trabalhadores seriam incluídos desde a fundação da empresa e teriam participação na gestão dos recursos.
"O modelo atual parte de uma lógica capitalista onde é preciso precarizar esse trabalho. A gente sabe que essa precarização não é obra do acaso, ela é feita para que essas pessoas se matem trabalhando e não tenham acesso ao básico. Estamos falando sobre as pessoas poderem trabalhar dignamente", explicou. Confira, abaixo, os principais pontos abordados pela candidata.
A entrevista foi comandada pelos jornalistas Fernando Sodake (TV Bahia), Jade Coelho (g1 Bahia), Iamany Oliveira (iBahia) e Emmerson José (Bahia FM). Na sexta (16), será a vez de Eslane Paixão (UP); Geraldo Júnior (MDB) será entrevistado na sexta (16); e Victor Marinho (PSTU) na segunda (19).
Pinga fogo
No final da sabatina, a candidata se posicionou sobre questões como a redução da maioridade penal e o uso de câmeras nos uniformes dos policiais militares. Confira as respostas:
- Redução da maioridade penal pra 16 anos: contra;
- Uso de câmeras no fardamento da Polícia Militar: a favor;
- Foro privilegiado para políticos: contra;
- Concessão ou privatização de empresas públicas: contra;
- Militares em cargos executivos: contra;
- Cotas nas universidades públicas: a favor;
- Legalização da maconha: contra;
- Prisão da mulher em caso de aborto: contra;
- Adoção de crianças por casais homoafetivos: a favor.
Como foi a entrevista com Eslane Paixão, candidata à Prefeitura de Salvador pelo UP
Por que quer ser prefeita?
"Eu quero ser prefeita dessa cidade porque eu sou a cara dessa cidade. É só olhar os dados. Salvador é a capital com a maioria de mulheres, do povo negro, e a gente não tem essa representação nos espaços de poder. E as pessoas que hoje governam a cidade não vivem o que a gente, enquanto classe trabalhadora, vive. Eu quero ser prefeita de Salvador para poder inclusive resolver os problemas que são tão sentidos pela nossa população (...). Estou aqui a disposição de mudar essa cidade para os interesses de uma maioria (...)".
Como pretende governar sem nenhum vereador na Câmara?
"Pretendo participar dos debates para poder a classe trabalhadora saber que eu sou candidata. Porque todo dia eu converso com os trabalhadores e as pessoas que antes achavam que a única alternativa para Salvador era Geraldo ou Bruno Reis e o Kleber, agora sabem que eu sou candidata (...). A gente precisa ter uma eleição de fato democrática. Um exemplo disso é que nosso partido não tem coligação. Temos o povo do nosso lado (...)
A democracia do Brasil falha primeiro a não dar espaço aos partidos jovens, no caso da Unidade Popular (UP), que desde 2019 a gente coletou 1,2 milhão assinaturas para poder legalizar esse partido (...). A gente fez sem nenhum figurão da política, sem nenhum empresário, e hoje o nosso partido não recebe algo que é essencial aos partidos, que é o fundo partidário. A gente está literalmente começando do zero (...). Isso mostra que a população não pode escolher. (...) A gente acha que pra ter democracia de fato a população precisa poder escolher".
Já concorreu em outras eleições. Como isso te ajuda para esse momento?
"Foi uma experiência muito boa. Nós conseguimos apresentar o nosso programa para as pessoas. E foi o momento, inclusive, onde nosso partido mais cresceu (..). Nós somos hoje construção e fruto de diversos movimentos, como o que eu faço parte, que é o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que pauta a questão da reforma urbana de maneira muito responsável, a construção do poder popular, para que a gente não tenha pessoas que não vivam de maneira digna (...). As pessoas querem dignidade, elas estão construindo, trabalhando, dando o suor, para uma cidade que não é feita para nós. Esse processo eleitoral foi muito importante para me fazer pensar mais e ver a política de uma boa forma (...).
Eu conheci o movimento de luta nos bairros quando eu era estudante secundarista, uma ocupação que abrigava dezenas de família em um terreno que antes estava abandonado pelo poder público. Essa aproximação com o movimento social me fez perceber várias questões sobre desigualdade (...). Mas até então eu tinha uma casa, uma moradia. Depois de 2016, fruto da luta do MLB, a gente apoiou essa ocupação, Luisa Mahin, que tinha mais de 27 famílias morando em uma situação muito precária (...). A gente decidiu ocupar aquele prédio e reinvidicar moradia para essas famílias. E fruto desse debate da reforma urbana, nós decidimos fazer essa ocupação (...). Fui levada a esse caminho porque infelizmente as oportunidades não foram garantidas (...). Estou aí até hoje com mais de 290 famílias do MLB que estão no processo de luta também agora na Ocupação Carlos Marighella para, junto ao Governo, reinvidicar essar moradias".
Já pensa em quem pensa em comandar secretarias, caso eleita?
"Eu costumo dizer que a vida me preparou muito bem pra isso porque eu acredito que quem hoje governa a cidade não tem preparação. Porque é muito essa questão do currículo (...). Ele tem currículo, mas não tem responsabilidade com a vida das pessoas. Porque a vida me preparou e colocou de fato pessoas, coletivos, movimentos, responsáveis, ao nosso lado, para de fato construir a Salvador que a gente quer. Porque a gente fala sobre a base - nós temos duas candidaturas a vereadores - uma chapa de juventude antifacista, de duas jovens, estudantes, e o nosso companheiro Will, do MLB. Nós temos essas pessoas ao nosso lado e também diversos grupos, coletivos, movimentos que hoje discutem - dentro e fora da cidade - os problemas da cidade (...). Eu sei os problemas da cidade hoje, só que a diferença é que não somos ouvidos (...). Na nossa opinião, o que precisa existir hoje é uma vontade política e uma autonomia. Nós vamos governar para o povo de Salvador (...).
A escolha da minha candidatura foi justamente para que a gente tivesse esse espaço aqui. Para que a gente pudesse ser visto, apresentasse o nosso programa, que é um programa revolucionário para a classe trabalhadora (...). Querendo ou não, está todo mundo debatendo política".
Segurança e Guarda Municipal
"Nós defendemos a desmilitarização. E não é só um debate do movimento social. A gente sabe que não morre só de um lado. A gente está falando que não dá mais pra continuar com esse modelo, que é fruto do período da ditadura. Isso acaba se aplicando também a nossa Guarda Municipal. É uma Guarda que deveria não só proteger o patrimônio, mas proteger a população (...). Na nossa opinião, essa desmilitarização não só das polícias como também da Guarda Municipal é essencial para que a gente possa fazer um debate onde o cidadão não seja visto como inimigo. Não é só na favela, nas periferias, a gente ouve que quando vê uma viatura se sente inseguro (...). A gente sabe que nosso corpo é o alvo, a nossa cor é o alvo (...). Quando tem um problema nas nossas ocupações, a gente não precisa chamar a polícia, a gente vê as vezes com o diálogo as coisas sendo resolvidas (...).
A gente acha que é muito importante fazer com que os conselhos sejam de fato efetivados e que a gente consiga fazer junto com a população essa mudança (...). A gente acredita que a mudança vai ter que ser estrutural".
Debate com motoboys e entregadores e criação de empresa pública de aplicativo
"Na prática, seria o fim do lucro. Porque a gente entende que hoje o que é colocado como prioridade é o lucro das empresas, e não o bem-estar dessa população. A gente viu, inclusive no período da pandemia, várias organizações e trabalhadores se levantando contra as injustiças que essas grandes empresas, esses grandes grupos, que dizem ofertar um serviço que na prática os motoboys e entregadores, eles não são ouvidos, não são respeitados. Se acontece algum problema, as empresas não se comprometem. São vários casos e reclamações de descaso dessas empresas com esses trabalhadores (...). Essa questão da empresa pública é justamente visando que o lucro não seja prioridade. E sim a vida desse trabalhador.
Primeiro a gente precisa ouvir essa categoria, porque isso não acontece hoje. A classe trabalhadora, mesmo que uma categoria dispersa, eles se organizam (...). A gente entende que hoje os recursos que tem na cidade, fruto da própria arrecadação do município, ele poderia ser melhor empregado. A gente não fala sobre ofertar um serviço gratuito. A gente sabe que tem os valores que são necessários, valores embutidos para que esse serviço seja ofertado. Mas a população e o próprio trabalhador podem, a partir da criação dessa empresa, decidir e ter uma transparência maior de como esses recursos serão utilizados (...). Hoje a Prefeitura tem diversas iniciativas para poder arrecadar para o município. Seja na venda de terrenos, que na nossa opinião é um problema, porque a maioria desses recursos a gente não vê sendo empregados nas áreas sociais. E também acontece a desafetação de algumas áreas do meio ambiente, que vem sendo muito atacado (...). Infelizmente, quem manda é o setor empresarial (...)."
Quais são as propostas para geração de emprego na cidade?
"Salvador não é a capital do desemprego a toa. O candidato, atual prefeito da cidade, usa muito como argumento que a antiga gestão entregou uma cidade que estava um caos. Mas ele não olha para o caos que a gente tem hoje na cidade de Salvador. E acredito que isso principalmente fruto dessa política de não garantir que as pessoas possam inclusive buscar emprego. Quando a gente coloca essa questão da municipalização do transporte, é visando, inclusive, que as pessoas para elas procurem um emprego, elas precisam ter uma renda, precisam inclusive ter o dinheiro do transporte coletivo (...). Como é que a gente resolveria isso? Colocando a serviço da população um transporte que garantisse isso. E que os trabalhadores ambulantes conseguissem uma forma de se organizar para que o trabalho que é desenvolvido, os serviços que são ofertados na nossa cidade, eles pudessem, inclusive, contratar mais pessos. No nosso programa da Unidade Popular (UP) a gente defende, inclusive, a redução da jornada de trabalho (...).
A gente falou dos concursos públicos porque hoje nos bairros a gente não tem um atendimento básico. As Prefeituras Bairros são exemplo disso. Se você gera esses concursos e garante que esse serviço seja ofertado para a população, você também gera emprego e renda para essas pessoas que estão com essa tarefa de atender outras pessoas (...).
Não é que não exista o diálogo com o empresariado, porque as empresas não vão acabar do dia pra noite, mas a gente precisa olhar com responsabilidade. No Carnaval, por exemplo, a gente teve a oportunidade de milhares trabalhadores terem sua renda, mas a gente viu a humilhação que foi as pessoas indo pra fila se cadastrar para poder trabalhar. Será que a Prefeitua não poderia melhorar as condições para que essas pessoas fossem acolhidas? (...).
Casas populares poderiam ser construídas para acabar com esse déficit de mais de 100 mil famílias que não tem onde morar, ou que moram em situações precárias (...). Acredito que a gente precisa dar oportunidade do próprio Estado e da própria Prefeitura resolver esse problema (...)."
Aumento do salário dos servidores públicos em 100%
"Eu acredito que o dinheiro que existe não está sendo empregado. Inclusive, o próprio salário do prefeito. A gente defende que a Prefeitura deveria receber o salário do professor. Não só receber o salário do professor, mas também todos que estão no Executivo e no Legislativo utilizarem o serviço público. Porque a gente sabe que se o que governa hoje nossa cidade dependesse de uma UPA, dependesse de uma vaga de regulação, com certeza as coisas iriam melhorar".
Relação com o Legislativo. Se sente preparada para dialogar com os vereadores de todos os partidos?
"Recentemente, a gente teve um exemplo do que é o povo organizado, inclusive para poder dizer para o parlamento o que a gente quer. As mulheres organizadas conseguiram barrar um projeto de lei que estava pra ser aprovado. A PL do estupro. E a gente foi pra rua, a gente se mobilizou e pressionou aqueles que queriam aprovar, empurrar goela abaixo, dizendo que criança estuprada ou que mulheres estupradas têm que ser mãe e que o estuprador tem que ser pai (...). Claro que os vereadores e a Prefeitura têm que ter um diálogo, mas a gente entende que o povo organizado (...). Enquanto prefeita dessa cidade, eu vou chamar o povo pra governar comigo para que mude essa lógica (...). A Câmara de Vereadores vai cumprir o seu papel e os conselhos populares terão maior participação do povo".
Tempo integral nas escolas
"Eu usei o exemplo de prédios que poderiam servir para as escolas, mas principalmente com essa contratação de profissionais geraria mais emprego e mais renda para a nossa cidade. Porque as pessoas desempregadas elas não conseguem garantir o mínimo (...). Mães e pais precisam de um lugar seguro para deixar suas crianças. Na realidade, a gente vai para os bairros e vê que não tem creches, não tem escolas (...). É claro que a gente vai pensar nesses recursos. Vai utilizar tanto o que já tem, mas utilizar dos equipamentos que estão abandonados. Se você garante vagas nas creches e escolas, se você garante um transporte público de qualidade, onde as pessoas consigam ir e vir de maneira segura, e sem o valor que é aplicado hoje (...). Se você vai equalizando, vai organizando essa estrutura, dá certo (...). A gente precisa abrir mais escolas nos bairros, no centro, e não fazer como hoje a Prefeitura e o Governo Estado estão fazendo (...)".
Educação sexual nas escolas
"As professoras e professores que a gente tem hoje no nosso município são totalmente capacitados para isso. As escolas de Salvador cada vez mais tem menor preparo para poder acolher essas famílias, para poder decidir não só sobre educação sexual nas escolas. Porque a gente sabe que infelizmente os índices de abos sexual e estupro acontece nas próprias casas, com os parentes mais próximos. Com essa iniciativa, a gente visa com que menos crianças sofram com aquilo que infelizmente nó sabemos que é a realidade do nosso país (...). A gente entende que a educação, não apenas sexual, como um todo precisa melhorar. Ela precisa ser uma educação de excelência, que só os filhos dos ricos tem nas escolas particulares (...)."
Moradia e reforma urbana
"A gente já tem hoje um estudo, a partir da Universidade Federal, dos imóveis e dos prédios que estão abandonados não só pelo poder público (...). A gente acredita que a própria Prefeitura também pode, inclusive incentivando esses estudos, olhar quais são as áreas que mais precisam da nossa cidade. No caso dos prédios, eles poderiam ser reformados (...). Tem várias alternativas de você hoje aplicar na prática essa questão do déficit habitacional (...). Com organização social, é possível".
Pessoas em situação de rua
"A gente não pode descansar, não pode dormir em paz, sabendo que hoje tem uma população que não tem literalmente onde morar (...). Quando você coloca esse número de mais de 5 mil nessa situação, a gente sabe muito bem que o poder público poderia resolver essa demanda, não só através dos abrigos, dos centros. Eu pauto muito essa questão da reforma urbana, da construção das casas, das reformas dos prédios abandonados. Porque não é só sem teto que está em condição de vulnerabilidade (...). A gente deveria se indignar muito com isso, todos os dias (...)".
Retomada do poder público em serviços realizados pela iniciativa privada
"Dizem que o privado é melhor é melhor, mas isso é uma falácia. Justamente com essa lógica de uma estrutura capitalista que de fato utiliza do poder público para precarizar o que é público para entregar pra gente o que não é verdade, uma falácia. Hoje a saúde, educação, deveriam ser de excelência. Porque a gente tem recursos riquíssimos (...). Esse mesmo setor privado lucra bilhões de reais. Esses bilhões de reais que hoje são utilizados por essa ínfima parcela da população que controla saúde, transporte, controla tudo, se esse dinheiro viesse para a Prefeitura, será que a gente não teria um serviço de excelência? A gente acredita que sim (...) A prioridade é saúde, educação e depois a própria questão do trabalho, da renda, do transporte, a gente pode resolver".
Você cita a criação de um Laboratório Municipal para oferecer medicamentos de graça para a população. O que esse projeto traz de diferente?
"Traria de novo uma cobertura que não existe. Porque muitas vezes você vai na Farmácia Popular e não tem medicamento (...). Então a gente também acha que a Prefeitura tem que cumprir com esse papel. Onde o Governo Federal e o Governo do Estado não conseguem resolver, a gente consiga resolver (...). Que a Prefeitura assuma a responsabilidade. Hoje nos postos de saúde não tem Dipirona, não tem insulina... A gente precisa arcar com isso".
De onde vai tirar esses recursos? Esses estudos já começaram a ser feitos?
"Nossa equipe pensa. Inclusive, a gente tem feito debates de construção do programa da Unidade Popular (UP). A gente faz isso com gente do povo, com professores, doutores (...). A frente da Prefeitura, com essa estrutura que não é pouca, a gente com certeza vai conseguir movimentar toda essa parcela da população".
Redação iBahia
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