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Item sagrado

Cerca de 200 indígenas irão da Bahia para cerimônia de manto Tupinambá

Manto Tupinambá, peça rara pertencente ao povos indígenas, retornou ao Brasil. Entenda a importância do item para os Tupinambás de Olivença

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Brenda Santos

04/08/2024 às 6:00 - há XX semanas
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O manto Tupinambá, item sagrado para os povos indígenas brasileiros, chegou ao Rio de Janeiro sob sigilo na primeira semana de julho e será apresentado à sociedade neste mês. Indígenas Tupinambás de Olivença, no litoral sul da Bahia, vão viajar em uma caravana de 200 pessoas para fazer parte do momento histórico.


				
					Cerca de 200 indígenas irão da Bahia para cerimônia de manto Tupinambá
Manto Tupinambá: entenda a importância para os povos indígenas de Olivença. Foto: Departamento de Antropologia do Museu Nacional (URFJ)

A peça, que tem mais de 300 anos, estava em Copenhague, na Dinamarca, desde 1699, e foi repatriada para repor o acervo perdido com o incêndio que destruiu o Museu Nacional, em 2018.

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O objeto faz parte da história de formação do povo brasileiro – o manto de penas vermelhas era utilizado por lideranças indígenas antes da chegada dos europeus ao Brasil. O item é um símbolo espiritual da cultura Tupinambá e o único da época que está no país. Ele mede cerca de 1,80 metro e tem 80 centímetros de largura e é costurado em uma malha por meio de uma técnica ancestral do povo tupinambá. Existem apenas outros dez desse tipo no mundo, produzidos entre os séculos XVI e XVII.


				
					Cerca de 200 indígenas irão da Bahia para cerimônia de manto Tupinambá
Manto Tupinambá: entenda a importância para os povos indígenas de Olivença. Foto: Exposição Os Primeiros Brasileiros/Museu Nacional (UFRJ)

Manto tupinambá: cerimônia vai apresentar o item à sociedade

Uma cerimônia de celebração da chegada do Manto Tupinambá vai acontecer nos dias 29, 30 e 31 de agosto, no Museu Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro. A celebração, articulada pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o povo indígena Tupinambá e o Museu Nacional, vai apresentar o manto à sociedade e contar com a participação de representantes de povos indígenas de todo o Brasil.


				
					Cerca de 200 indígenas irão da Bahia para cerimônia de manto Tupinambá
Evento em celebração ao Manto Tupinambá acontecerá no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foto: Museu Nacional/ Divulgação

O evento começará com uma cerimônia de reza ao manto a portas fechadas, nos dias 29 e 30, apenas com a participação de lideranças espirituais Tupinambá e os pajés. Serão realizadas atividades de acolhimento, de proteção e de bênçãos ao manto.

No dia 31 de agosto, as portas serão abertas ao público para a realização da cerimônia oficial de exibição do manto Tupinambá. A apresentação contará com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e com representantes do povo Tupinambá, do governo do Brasil e da Dinamarca, e do Museu Nacional. Durante os três dias, os povos indígenas realizarão uma vigília ao manto, nos jardins da Quinta da Boa Vista.

Comunidade indígena Tupinambá de Olivença se organiza comparecer à celebração do manto

Indígenas Tupinambás de Olivença, no litoral sul da Bahia, vão viajar em uma caravana de 200 pessoas para fazer parte do momento histórico. “O manto, para nós, é sagrado. Em 2000, minha mãe já fazia essa reivindicação ao governo brasileiro para que o manto voltasse para o Brasil. Nós lutamos muito por isso, mandamos várias cartas”, conta a Cacique Valdelice, a Jamopoty Tupinambá, primeira cacique mulher do povo Tupinambá na Bahia e segunda mulher cacique do Brasil, ao iBahia.


				
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Cacique Valdelice estará na cerimônia de celebração do Manto Tupinambá. ​Foto: Redes Sociais

De acordo com ela, o desejo da sua comunidade indígena era que, quando o manto chegasse ao Brasil, as lideranças e representantes indígenas estivesse presentes, o que não ocorreu. “Quando chegasse no solo brasileiro, a nossa presença era muito importante naquele momento. E nós fomos trabalhando nisso. Quando o manto chegou, a gente nem soube que ele chegou, só soubemos depois. Isso já foi um impacto, já foi uma forma de mostrar para nós que eles não estão nem aí para questão do artefato”, relata.

Ela conta também sobre a história do manto, que pertence à região de Olivença. “Minha mãe contava, em memória, que esse manto vivia dentro da Igreja Nacional da Estrada. Quando os jesuítas estiveram aqui no Brasil e criaram a praça que originou a Igreja de Olivença, todos os objetos indígenas ficavam dentro da igreja, inclusive o manto [...]. Dizem que o manto ficou esse tempo todo lá, dentro dessa igreja, e foi levado. Como ele foi levado, ninguém sabe. Ela não contava essa parte, só que quando ele saiu, a aldeia enfraqueceu”, afirma a cacique Valdelice.


				
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Manto Tupinambá: entenda a importância para os povos indígenas de Olivença. ​Foto: Fantástico/ Reprodução

Jamopoty Tupinambá revela ainda sobre o significado do retorno do manto, durante um período de articulações sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 4/2023, que propõe a inclusão da tese do marco temporal na Constituição. A tese estabelece que só pode haver demarcação de terra para comunidades indígenas que ocupavam a área no dia da promulgação da Constituição Federal: 5 de outubro de 1988.

“O manto, para nós, é um ancião que está voltando. Ele tem um poder diferenciado; esse é um ancião que vem com um objetivo, que é a união do povo, que é a demarcação do território. Ele traz isso porque ele está afirmando a história. O Marco Temporal diz o quê? Que só temos direito ao território que estava reivindicado em 5 de outubro de 1988, e aí chega um manto de quase 400 anos, 300 e poucos anos. Então, isso é uma história marcante para o governo brasileiro, porque chega um manto dizendo: ‘eu fui o primeiro povo, nós somos o primeiro povo de contato, o primeiro povo que sofreu tudo – a dizimação, estrupos, que foi invadido.’ Várias coisas aconteceram na nossa vida, e hoje, nós estamos aqui resistindo”, conta.


				
					Cerca de 200 indígenas irão da Bahia para cerimônia de manto Tupinambá
PEC propõe a inclusão da tese do marco temporal na Constituição. ​Foto: Ministério dos Povos Indígenas/ Divulgação

Ela destaca a necessidade de demarcação das terras para os povos indígenas, agenda presente na luta da comunidade. “O governo brasileiro precisa demarcar a terra do povo Tupinambá. Nós somos o primeiro povo e até hoje estamos lutando para o governo brasileiro assinar uma portaria declaratória da terra do povo Tupinambá de Olivença. Então, para isso chegou o manto: chegou um artefato para eles, mas um ancião mais velho para afirmar e reafirmar a história do povo Tupinambá de Olivença”, relata Valdelice.

Segundo a líder indígena, o MPI, através da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART), vai comparecer à aldeia nesta terça-feira (6), com a presença do diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, para dialogar e preparar os últimos detalhes da cerimônia. Os povos indígenas de Olivença já se preparam para a viagem ao Rio de Janeiro.

“Já estamos nos organizando e vendo os transportes [...] A gente vai fazer quatro dias de vigília. E, para nós, é importante ficar esse tempo todo fora da nossa aldeia, de nosso povo, a gente vai fazer essa memória lá. Esse momento é especial para nós, para mostrar que estamos aqui, resistindo a tudo e a todos, para dizer que somos Tupinambá”, conta.

Ela dá mais detalhes sobre a ida e as expectativas da comunidade. “Vamos levar anciões, jovens, mulheres e crianças [...] O pessoal está bastante animado, as comunidades só falam disso. Estão se preparando de ir com seus cocás, suas tangas, se preparando com as nossas bebidas, alcoólicas e naturais nossas, beiju, essas coisas [...] A gente vai fazer uma comemoração”, comenta a cacique.

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