Quando foi criado, há pouco mais de uma década, o Facebook tinha como objetivo conectar o mundo. Hoje, a rede social abriga 1,86 bilhão de internautas de todos os cantos do planeta, cerca de um quarto da população global, mas os planos traçados por Mark Zuckergberg e sua trupe num dormitório da Universidade Harvard não correram exatamente como o esperado. Críticos acusam a plataforma de criar bolhas, que isolam as pessoas em grupos apenas com seus pares, e de difundir notícias falsas, que impulsionaram as campanhas do presidente americano, Donald Trump e do Brexit. Em carta publicada nesta quinta-feira, Zuckerberg reconheceu os problemas, mas voltou a defender a construção de uma “comunidade global”.
"O Facebook é um suporte para nos deixar mais próximos e construir uma comunidade global. Quando nós começamos, essa ideia não era controversa", escreveu Zuckerberg. "No entanto, agora há pessoas ao redor do mundo que estão sendo deixadas para trás pela globalização, e movimentos para se retirarem da conexão global".
Sem citar casos específicos, como o Brexit ou a eleição de Trump, Zuckerberg afirma que dar voz a todos tem sido “historicamente uma força muito positiva para a discussão pública porque aumenta a diversidade de ideias compartilhadas”, mas reconhece que o ano passado "mostrou que isso pode fragmentar nosso senso de realidade".
"As duas preocupações mais discutidas no ano passado foram sobre diversidade de pontos de vistas que vemos (bolhas de filtros) e precisão das informações (notícias falsas)", disse o diretor executivo do Facebook. "Nosso objetivo deve ser ajudar as pessoas a verem a situação completa, não apenas perspectivas alternativas. Nós devemos ser cuidadosos na maneira que fazemos isso. Pesquisas mostram que algumas das ideias mais óbvias, como mostrar às pessoas artigos de uma perspectiva oposta, na verdade acirra a polarização. Uma abordagem mais efetiva é mostrar uma gama de perspectivas".
Zuckerberg disse que a companhia sabe que existem conteúdos com informações erradas e até farsas circulando na rede, e vem combatendo este problema da mesma forma que combate o spam. Entretanto, essa política deve ser mais cuidadosa porque “nem sempre existe uma linha clara entre farsas, sátiras e opinião”.
Ampliar conexão é bom para o Facebook
Em entrevista à Associated Press, Zuckerberg ressaltou que não está motivado pela eleição americana ou outro fato em particular, mas em combater a ideia crescente em várias partes do mundo de que "conectar o mundo" não é mais uma boa ideia. Segundo ele, ampliar a conexão entre as pessoas é a direção certa, mas ressaltou que "não é suficiente que seja bom para algumas pessoas, mas não funcione para outras".
A repórter Barbara Ortutay destaca que tal ambição não é uma surpresa vinda do diretor executivo da maior rede social do planeta, já que mais pessoas conectadas ao Facebook representam mais dinheiro entrando no caixa. No ano passado, a venda de publicidade direcionada foi responsável pela maior parte da receita de US$ 27 bilhões da companhia. E um faturamento maior impulsiona as ações da empresa na bolsa de valores, tornando Zuckerberg, com fortuna estimada em US$ 56 bilhões, ainda mais rico.
Além das bolhas e notícias falsas, críticos argumentam que a rede social tem isolado cada vez mais as pessoas. O famoso botão "curtir" simplifica o engajamento entre as pessoas para um clique, substituindo diálogos mais profundos.
Mas é claro que existem efeitos positivos, senão o Facebook não atrairia quase 2 bilhões de pessoas no mundo. As pessoas usam a rede para se conectarem com estranhos que sofrem de uma mesma doença, para discutirem política e compartilharem informações. Tanto que 1,23 bilhão de internautas frequentam a rede diariamente.
"Nosso próximo foco será desenvolver a infraestrutura social para a comunidade — para nos sustentar, nos manter seguros, nos informar, para o engajamento cívico e inclusão de todos", escreveu o CEO.
Visão de longo prazo
Zuckerberg alçou o Facebook a uma posição de dominação global graças, em parte, a uma visão audaciosa, de longo prazo, da companhia. No ano passado, ele e sua esposa, Priscilla Chan, lançaram um projeto para erradicar todas as doenças do mundo até o fim deste século. No campo filantrópico, assim como nos negócios, ele preferiu um planejamento que engloba conhecimentos científicos e tecnologias que ainda nem foram inventadas.
Isso inclui a inteligência artificial, softwares capazes de "pensar" e fazer julgamentos. Esses sistemas, que ainda precisam ser aperfeiçoados, cometem erros, como a retirada do ar da imagem célebre da “menina de Nepal”, que ilustra o terror da Guerra do Vietnã, mas que foi entendida pelos algoritmos do Facebook como pedofilia por mostrar uma criança nua.
"Uma das minhas citações favoritas é do Bill Gates, de que as 'pessoas superestimam o que pode ser feito em dois anos e subestimam o que podem fazer em dez anos'", disse Zuckerberg. "E essa é uma ideia importante que espero que mais pessoas assumam hoje".
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Redação iBahia
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