Itaparica, Vera Cruz, Guarajuba, Imbassaí, Praia do Forte e outros destinos turísticos, que estão entre os mais procurados da Bahia, enfrentam desde dezembro de 2023 a falta ou racionamento de água. O problema, no entanto, não é uma novidade, mas sim uma recorrência.
Na Bahia, os períodos de dezembro a fevereiro, verão do Brasil, são marcados por denúncias de baianos que chegam a passar dias sem ter água nas residências. Em Itaparica, por exemplo, moradores relataram ao iBahia que desde o Natal enfrentam problemas com o fornecimento.
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Estabelecimentos comerciais da região tem publicado comunicados informando o racionamento de água e como a situação afeta os moradores da Ilha.
"Todos os anos [é assim]. Eu moro na Ilha há 32 anos e sempre foi assim. Não sou só eu não. A maioria das pessoas, residências, hotéis, tudo fica sem água", contou Mônica Brito ao portal.
O mesmo tem se repetido em Imbassaí. No dia 4 de janeiro, um grupo de moradores fizeram um protesto por falta de água na região. Na ocasião, a população denunciou que estavam sem abastecimento há oito dias. No último final de semana, nos dias 6 e 7 de janeiro, o problema ainda persistia.
Quem passou pela via percebeu que, em alguns estabelecimentos, avisos foram colocados alertando os clientes sobre a falta de água e sobre a importância da colaboração para que não haja desperdícios. Alguns moradores têm comprado garrafas de água mineral para consumo e trabalho, e relatam ainda que a coloração está diferente. Por causa disso, eles não confiam no líquido para consumo próprio.
Mas, por que falta tanta água na Bahia durante o verão?
De acordo com a Engenheira Sanitarista e Ambiental, Crislane Ribeiro de Santana, mestre em Meio Ambiente, Águas e Saneamento, o problema decorre de uma série de fatores, desde o aumento da demanda até mesmo o tamanho da rede de distribuição.
"Isso decorre de uma série de fatores. O primeiro deles é a demanda pelo uso da água. Nessa época de férias ou feriados, o quantitativo populacional, ele cresce exponencialmente e em alguns lugares mais que triplica, como foi o caso de Itaparica neste ano. O consumo elevado devido o quantitativo desses novos usuários na região gera uma sobrecarga no sistema, que não é dimensionada para atender todo esse quantitativo", explica a especialista.
É o que defende também a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), empresa responsável pelo fornecimento no estado. Em nota enviada ao iBahia, o órgão afirma que o aumento da população "desequilibra a distribuição".
"O aumento considerável da população durante o veraneio desequilibra a distribuição, que já conta com reforço para atender a essa demanda", diz trecho da nota.
Outro problema que também pode contribuir para o desabastecimento de água é o tamanho da rede de distribuição, que no caso de regiões específicas como Itaparica e praias do litoral, são mais antigas e projetadas para atender pequenos núcleos populacionais.
"A rede é um sistema estacionário, e a população só aumenta. Com o crescimento populacional da cidade, que não para, associada ao crescimento populacional flutuante, que essas cidades recebem nesses períodos, obviamente que vai gerar uma sobrecarga imensa", salienta.
A especialista relatou ao iBahia que esse aumento populacional causa a diminuição da pressão nas redes, gerado pela baixa no volume de água que é distribuído em uma determinada unidade de tempo. Isso pode levar a diminuição ou paralização do abastecimento, especialmente nos pontos mais elevados da cidade.
Ainda segundo Crislane Ribeiro de Santana, outro fator que também afeta a distribuição de água é a falta ou diminuição da tensão na rede de eletricidade da cidade.
"O que ocorre é que essa falta de energia mesmo que por pouco período de tempo, afeta as elevatórias do sistema de abastecimento, causando a paralisação do equipamento e quando volta a funcionar leva um tempo para encher a rede, abastecer a zona mais baixa e adquirir pressão suficiente para abastecer as zonas mais altas", afirmou a engenheira.
Desperdício de água
Um alerta feito pela especialista tem relação, também, com o desperdício de água nestes locais e que se soma aos fatores que geram a falta de água neste período.
Itaparica, por exemplo, tem cerca de 58% de desperdício de água, segundo levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) contribui ainda mais para a recorrência do problemas.
"Não é somente um aspecto. É a soma de vários fatores. Um dado importante é que ocorre uma perda [de água] acima de 58% [em Itaparica]. Essa perda vem de vazamento, de extravazamento, de gato...então, aliado a todos esses aspectos comentados, ainda tem essa perda d'água que é um quantitativo expressivo".
Não tem água para todo mundo?
Há quem acredite que não há água suficiente para todas as pessoas, ou que ela é desviada para atender turistas e grandes resorts dos destinos turísticos.
No entanto, a Engenheira Sanitarista e Ambiental conta que, na verdade, o problema é o dimensionamento da rede. Uma das possíveis soluções para o problema da falta de água seria ampliá-la.
"É possível e a solução, ao meu ver, é a ampliação do sistema. A questão não é que não tenha água suficiente, é que a rede de distribuição não foi dimensionada para ofertar o que está sendo demandado", analisa.
Uma mudança como essa, no entanto, requer tempo e investimentos públicos. Por mais que obras fossem realizadas, isso poderiam não só levar anos, já que necessita de estudos de viabilidade, orçamento e realização, como também impactar no sistema viário.
A recomendação dada pela especialista, assim como a Embasa, é que os consumidores reservem água dentro de casa para evitar maiores transtornos nos períodos de oscilação de pressão na rede, mas garante não ser a solução do problema.
"Uma ampliação de um sistema de abastecimento de água ele requer uma série de obras de engenharia, ele não é um problema que se resolve em poucos dias. O ideal é que os consumidores aumentem sua reserva de água dentro de casa", afirma Crislane.
"Reserva de água é uma medida de segurança que o consumidor pode adotar para não sofrer tanto, mas não é a solução. Além disso, cobrar da concessionária a solução é muito importante", destaca a engenheira.
E a coloração?
Em relação à coloração diferente da água, relatado em alguns pontos de Imbassaí, Crislane Ribeiro de Santana afirma que a ocorrência não é comum e destaca a necessidade de avaliação.
"Pode ser minerais em suspensão, devido a retomada no abastecimento após a interrupção. Mas nesses casos, o correto é fazer o teste de qualidade da água, para saber se tem algum parâmetro fora da faixa de portabilidade exigida para legislação e avaliar o que está acontecendo", disse ao iBahia, destacando ainda que cor diferente a olho nu não significa dizer que a água não está potável.
O iBahia procurou a Embasa e questionou sobre possíveis mudanças na coloração da água, e afirmou que "não tem conhecimento de relatos sobre água amarelada em imóveis de Imbassaí".
Nathália Amorim
Nathália Amorim
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