Entenda por que Elevador Lacerda não é panorâmico

Quem vem à Salvador tem que colocar na lista de 'lugares para conhecer' o Elevador Lacerda. Emblemático ponto turístico da capital baiana, a expectativa é grande para subir da Cidade Baixa à Alta em segundos. Para muitos turistas, há ainda no imaginário uma visão panorâmica para a Baía de Todos-os-Santos no trajeto. Quem não lembra do polêmico meme "nota 2" dado por uma turista em 2022?

Primeiro elevador urbano do mundo, inaugurado em 1873, no dia Padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição, ao longo dos anos o equipamento passou por cinco reformas e revitalizações, mas em nenhuma delas a visão da curta subida passou a ser panorâmica. Por que?

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Entenda por que Elevador Lacerda não é panorâmico — Obra de requalificação do Elevador Lacerda não vai impactar no funcionamento. Foto: Lucas Moura/ Secom PMS

Uma das respostas é que o Elevador Lacerda é patrimônio tombado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2006. Isso significa que não podem ser feitas mudanças nas características originais do patrimônio cultural. Por causa disso, por exemplo, a nova reforma prevista para revitalizar e resgatar as características originais do equipamento nem sequer cogitou a possibilidade.

Em entrevista ao iBahia, o secretário de Mobilidade de Salvador, Fabrizzio Muller, detalhou o assunto.

"Isso nunca foi inventado por uma razão muito simples: o equipamento é tombado. Então, transformar ele em panorâmico seria alterar as características do Elevador, o que não é permitido por lei. Isso nunca foi pensado, nunca foi orientado, nunca foi discutido, justamente em respeito, não só as limitações legais, mas também a própria história do equipamento", explicou Muller.

No entanto, mesmo antes da honraria, também não era pretensão que baianos e turistas tivessem essa vista para a Baía de Todos-os-Santos enquanto o elevador sobe. Isso porque, o Elevador Lacerda é um meio de transporte da cidade desde sua construção, quando foi idealizado por Antônio de Lacerda.

O equipamento foi construído para facilitar a ligação entre as duas áreas da cidade e hoje facilita a mobilidade dos soteropolitanos, com cerca de 20 mil baianos utilizando o serviço diariamente.

A estrutura é composta por duas torres: uma que sai da rocha e perfura a Ladeira da Montanha, equilibrando as cabines, e outra, mais visível, que se articula à primeira torre, descendo até ao nível da Cidade Baixa. O elevador mais famoso da Bahia chega a transportar 900 mil passageiros por mês, segundo a prefeitura de Salvador.

Mas apesar de não ser possível ver com detalhes a Baía de Todos-os-Santos durante a subida, do alto das torres não só tem como ter essa vista, como também a do Elevador Lacerda em sua plenitude.

Outras curiosidades

A estrutura do Elevador Lacerda é tão rara, que desde 1930 os motores utilizados são os originais. O modelo é único no mundo. O secretário explicou que a parte mecânica foi feita sob medida para o equipamento.

"Os motores do Elevador são os motores originais da criação dele e serão mantidos. Serão totalmente requalificados, mas serão mantidos, por uma razão importante, ele é uma peça única no mundo. Não existem outros motores no mundo, são quatro, e eles foram feitos sob medida para o Elevador Lacerda", contou ao iBahia Fabrizzio Muller.

Foi neste ano também que o mecanismo hidráulico do Elevador foi substituído pelo elétrico, e a arquitetura de ferro foi substituída pelo concreto armado com design estilo art déco.

Reforma

A partir deste mês, o Elevador Lacerda vai passar por um novo projeto de requalificação que tem previsão de durar cerca de 10 meses. O objetivo, segundo a Prefeitura de Salvador, é que seja resgatado as características originais do equipamento.

O projeto da obra foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e prevê melhorias estruturais nos saguões que abrigam as quatro cabines dos elevadores. Serão implementados sistema de climatização até nova pintura.

Iluminação, revestimentos das paredes e do piso, assim como soluções para otimizar o fluxo de passageiros, manutenção da parte elétrica e mecânica do ascensor também fazem parte do projeto. Além disso, o projeto inclui a liberação das varandas situadas nos espaços laterais do acesso da Cidade Alta, na Praça Municipal.

Para isso, a sorveteria A Cubana, instalada no Elevador Lacerda desde o final da década de 1930 e que ainda hoje é uma referência ligada ao monumento, será realocada para o hall de acesso onde atualmente funciona o Centro de Informações ao Turista.

História

O Elevador Lacerda foi criado para solucionar um problema existente de desnível na capital baiana. No início do século XVII, o uso de guindastes era a única solução para o transporte de cargas pela cidade. A população precisava se locomover usando longas escadarias e ladeiras íngremes, o que dificultava muito o dia a dia da população.

Desde então, além de ajudar os moradores como transporte, ele tornou-se um cartão postal e uma atração turística.

A estrutura foi idealizada pelo engenheiro Antônio de Lacerda e construído pelo irmão Augusto Frederico de Lacerda. A obra se iniciou em 1869 e foi concluída no dia 8 de dezembro de 1873. O financiamento do empreendimento foi feito pelo pai da dupla, chamado de Antônio Francisco de Lacerda. Na inauguração, o elevador tinha 63 metros de altura - o mais alto elevador urbano do mundo naquele ano.

O equipamento se chamava Elevador Hidráulico da Conceição - por conta da proximidade com a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Depois, ele passou a se chamar de Elevador do Parafuso. O apelido fazia referência à peça em espiral que impulsionava as duas cabines do elevador.

Somente em 1896 que o equipamento foi 'batizado' de Elevador Lacerda, em homenagem ao seu idealizador, o engenheiro Antônio de Lacerda.

A arquitetura do elevador baiano tem estilo art déco - que surgiu na Europa nos anos 20 e características marcantes como o uso de formas geométricas, ornamentos e design abstrato.

Por mês, o Elevador Lacerda chega a transportar 900 mil passageiros ou, em média, 28 mil pessoas por dia, segundo a Prefeitura de Salvador. Por tamanha importância, o meio de transporte se tornou patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2006.

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