A história de uma idosa negra que viveu 54 dos seus 62 anos em trabalho análogo à escravidão na Bahia sensibilizou internautas de todo o país, nesta quinta-feira (28), depois que uma reportagem feita pela TV Bahia viralizou na internet.
A empregada doméstica Madalena Santiago da Silva vivia na cidade de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, até março do ano passado, quando foi resgatada da casa onde trabalhava em uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT).
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Ao longo do tempo que vivia com os antigos patrões, ela conta que não recebia salário, era maltratada, sofria racismo e ainda foi vítima de um golpe da filha dos donos do imóvel, que fez empréstimos no nome dela e ficou com R$ 20 mil da aposentadoria da doméstica.
Em uma das agressões, Madalena conta que a mulher chegou a ameaçar jogar água no rosto dela e a tratou como "negra desgraçada".
“Eu estava sentada na sala, ela passou assim com uma bacia com água e disse que ia jogar na minha cara. Aí eu disse: ‘Você pode jogar, mas não vai ficar por isso'. Aí ela disse: ‘Sua negra desgraçada, vai embora agora’, contou. “Era um sábado, 21h, chovendo e eu não sabia para onde ir”, completou.
Atualmente, Madalena da Silva vive com familiares e recebe seguro desemprego e um salário mínimo de ação cautelar movida pelo MPT contra os antigos patrões. Mas, apesar da reparação financeira, a idosa convive com os traumas.
Durante a entrevista dada à TV Bahia para um especial do Dia da Empregada Doméstica, lembrado no dia 27 de abril, Madalena chorou ao segurar a mão da repórter Adriana Oliveira, que é branca, e disse que tinha receio de tocá-la por causa do que a cor da jornalista a remetia. "Fico com receio de pegar na sua mão branca", contou. Assista ao vídeo abaixo
A repórter questionou a frase forte dita pela doméstica e estendeu as mãos para ela, questionando: "Mas por quê? Tem medo de quê?".
Madalena, então, falou: "Porque ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso".
O trecho da reportagem foi compartilhado pela repórter e outros jornalistas e por páginas nas redes sociais. Emocionados e chocados com a situação, internautas comentaram a história.
"Quantos traumas esta mulher sofreu e sofre. Que tristeza", escreveu um internauta. "E tem quem diga que racismo não existe, que já passou...", comentou outra. "Que dor ver isso", completou uma outra mulher.
Projeto de resgate
Neste primeiro ano do Projeto de Combate à Exploração do Trabalho Doméstico, do MPT, 550 empregadores foram fiscalizados na Bahia. O MPT informou que 90% das denúncias aconteceram em Salvador.
A pena para quem submete trabalhadores à situação análoga à escravidão é de 2 a 8 anos de reclusão. No entanto, até o momento nenhum empregador "sujo" ficou preso na Bahia.
O procurador-chefe do MPT afirma que há esperança que a punição ocorra no mesmo ritmo de crescimento de trabalhadores resgatados. Em 2021, o número cresceu 168% em relação à 2020.
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Redação iBahia
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