Vai se casar no ano que vem? Não tem reserva financeira? Está endividado? Quando vale a pena você trocar a poupança compulsória do FGTS pelo controle pessoal desses recursos? O GLOBO ouviu especialistas para discutir quais seriam as recomendações para o saque-aniversário do Fundo de Garantia, de acordo com as diferentes etapas da vida e situação financeira dos trabalhadores.
Confira as dicas de Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, e de Ana Leoni, superintendente de Educação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
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- Quem não tem reserva financeira
Trabalhador só pode contar com o salário
No caso de um trabalhador que tem saldo no FGTS, mas não construiu uma reserva financeira além dele, o indicado é que tente organizar o orçamento mensal e separe parte do salário para constituir esse patrimônio. Os especialistas destacam que a rentabilidade do FGTS tende a aumentar por causa da mudança na distribuição dos lucros, fazendo com que o Fundo possa render mais que a caderneta de poupança.
Desta forma, o saque anual seria recomendado caso o dinheiro fosse aplicado em investimentos com maior potencial de rendimento. E, para a reserva feita a partir do salário, o indicado é investir em renda fixa, como títulos públicos, que garantem segurança e possibilidade de saque rápido.
- Quem acha que pode ser demitido
Trabalhador teme perder vaga nos próximos 2 anos
No caso do trabalhador que acredita que pode ser demitido, antes de optar pelo saque-aniversário, é preciso avaliar o orçamento doméstico. Ao optar por esta modalidade de saque, caso a demissão ocorra, ele é obrigado a cumprir uma carência de dois anos até ter direito a acessar a totalidade dos recursos.
Sendo assim, os especialistas ponderam que pode ser melhor aguardar a saída da empresa e retirar todo o dinheiro do Fundo do que ficar sem emprego e sem o montante completo.
- Quem está com as contas no vermelho
Trabalhador que tem muitas dívidas
É preciso avaliar numericamente as dívidas e o FGTS. Se o recuso a ser sacado na data de aniversário for suficiente para quitar de 90% a 100% das dívidas, é recomendado fazer a retirada e, com apertos no orçamento, diminuir gastos para pagar o restante.
— Caso o dinheiro do FGTS não seja capaz de quitar até 90% das dívidas, e a pessoa não consiga diminuir os gastos para pagar os débitos restantes, o saque anual pode não ser uma boa alternativa — diz Calil.
Ana, porém, defende que todo endividado deve usar os recursos para quitar sua dívida ou, ao menos, diminuí-la.
— A dívida média do brasileiro está em torno de R$ 3 mil, e mais da metade têm contas em atraso no valor de até R$ 1 mil. Então, o recurso é importante para quitar ou diminuir a dívida — destaca a superintendente da Anbima, que completa: — É sempre bom ter uma dívida menor.
- Quem tem muitos recursos no FGTS
Trabalhador com saldo alto na conta do Fundo
Considerando que o trabalhador tenha uma vida estável, reserva financeira e orçamento controlado, o saque anual pode não representar um ganho significativo.
— Uma vez que, com as mudanças na regra e, consequentemente, com a maior rentabilidade do FGTS, aplicações tradicionais de renda fixa podem dar um retorno financeiro inferior ao Fundo — aconselha Calil.
No caso da pessoa com muitos recursos acumulados na conta do FGTS e que não tem imóvel, o dinheiro deveria ser usado para esta compra, explica Ana. Caso o trabalhador já tenha casa própria, ela pontua que os saques anuais podem ser feitos para diversificar os investimentos e aplicar em produtos que rendam mais.
- Quem sonha com a casa própria
Trabalhador que vai comprar ou paga prestação
Caso o trabalhador deseje comprar um imóvel, os especialistas defendem que o Fundo seja usado nesta empreitada. Se a pessoa já tem um financiamento, a indicação é que os recursos sejam sacados na totalidade para amortizar ou até quitar as parcelas.
Em relação à compra de imóveis, a recomendação é não optar pelo saque anual. A indicação é retirar todos os recursos para que sejam empregados na compra de uma única vez, conforme permite a legislação.
- Quem deseja formar família
Trabalhador com planos de se casar e ter filhos
Estas duas decisões estão muito atreladas a consumo, destacam os especialistas. Se o trabalhador realmente desejar se casar ou aumentar a família, a recomendação é ter o controle do orçamento de perto e fazer cortes onde for possível. Não é recomendado, na leitura dos economistas, contar com o dinheiro do Fundo para gastos como uma grande festa.
As duas decisões envolvem um horizonte de longo prazo, por isso é preciso ter organização financeira antes de concretizar os planos, em vez de contar com saques anuais do FGTS.
- Quem já tem uma família para cuidar
Trabalhador que ainda tem filhos pequenos
Neste caso, o primordial, pontuam os especialistas, é ter organização financeira. A primeira medida é mensurar os gastos com educação dos filhos, saúde, habitação e lazer, entre outros. Depois, o trabalhador precisa avaliar o que pode ser substituído por opções mais vantajosas e em conta.
Caso o orçamento já esteja apertado, a indicação não é sacar os recursos do FGTS, na leitura dos analistas. A ponderação é que o objetivo do cotista não deve ser transferir o dinheiro do Fundo para o consumo, como a compra de eletrodomésticos, ou para o pagamento de contas do cotidiano.
- Quem tem orçamento controlado
Trabalhador com reserva financeira e contas em dia
O trabalhador precisa avaliar o que se sente mais confortável para fazer. Ele pode deixar o dinheiro no Fundo, cujo rendimento vai aumentar após a distribuição total dos lucros, explica Calil.
Ana, da Anbima, diz que o trabalhador pode sacar os recursos anualmente para diversificar os investimentos, buscando produtos com maior risco, mas também com maior potencial de ganho:
— A pessoa empregada, que tenha reserva para saque imediato, recursos para fazer uma viagem e plano de aposentadoria privada, por exemplo, pode colocar um pouco em cada uma dessas “caixinhas”.
- Quem está desempregado
Trabalhador sem vaga, mas com conta inativa
Se o trabalhador não tiver perspectivas de uma recolocação no mercado de trabalho formal nem a possibilidade de conseguir dinheiro por meio de empreendedorismo ou trabalho por conta própria, Calil pondera que o saque é uma alternativa. Agora, caso tenha alguma renda proveniente do trabalho, é preciso analisar se o melhor é realmente fazer os saques do Fundo ou tentar cortar gastos e reorganizar o planejamento familiar.
Já Ana diz que, se a pessoa está desempregada, mas vive de alguma economia feita anteriormente, pode sacar os recursos do FGTS e se organizar para usar o dinheiro em despesas correntes, evitando mexer na reserva que tinha, em um processo que ela chama de “gestão eficiente de recursos”.
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Redação iBahia
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