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ECONOMIA

Bitcoin está longe de ser usado nas trocas do dia a dia

Moeda ignora varejo e vira uma espécie de ouro da nova sociedade conectada

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Redação iBahia

23/12/2017 às 13:55 • Atualizada em 29/08/2022 às 16:22 - há XX semanas
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Apesar das quedas recentes que assustam os investidores, a valorização de mais de 1.300% do bitcoin no ano provoca uma mudança na percepção dos seus seguidores. Em vez da utopia original segundo a qual ele se transformaria em moeda de troca do dia a dia, o bitcoin é cada vez mais visto como uma reserva de valor, espécie de ouro de uma sociedade conectada.

Entrou para a História a queixa do então ministro das Finanças francês Valéry Giscard d’Estaing, que viria a se tornar presidente da França (1974-1981), de que os EUA detinham um “privilégio exorbitante” na condição de reserva de valor global do dólar. Até 1971, a força da moeda americana estava lastreada nas reservas de ouro do país, como combinado no acordo de Bretton Woods desde o pós-guerra. Mas, depois que o presidente americano Richard Nixon rompeu com o padrão-ouro, o valor do dólar passaria para o campo do intangível: em vez de uma correspondência física, dependeria da fé que os investidores depositassem no poderio americano.

Para entusiastas, o bitcoin representa um passo adiante nesse processo de abstração do dinheiro. Quando ele valia mixarias, seus entusiastas imaginavam um futuro onde tudo seria pago com ele. Mas, hoje, as escassas transações comerciais feitas via criptomoeda se dão mais para efeito de marketing do que por qualquer outra coisa.

A totalidade das transações feitas com bitcoins em 2016, segundo a Bloomberg, representou menos de 0,1% do varejo on-line. Os poucos caixas eletrônicos de bitcoins que existem por aí atraem mais pelo exotismo do que pela utilidade. Este mês, a Steam, gigante dos games on-line, deixou de aceitar bitcoins como pagamento alegando excesso de volatilidade e alto custo por transação. A construtora brasileira Tecnisa começou, em 2014, a aceitar pagamentos em bitcoin na venda de apartamentos. Até hoje, apenas duas operações foram concretizadas, ambas este mês.

Uma das razões é a “hiperinflação ao contrário” por que passa a moeda: quem é louco de gastar com doces e cafezinhos um dinheiro que pode valer o dobro amanhã?

— As pessoas não gostam de gastar o bitcoin com futilidades. Além do mais, ele não quer se prestar ao papel de moeda do dia a dia. As transações por meio dela sequer são as mais rápidas ou as mais baratas. O ouro é um ativo financeiro, regulado e robusto, mas as pessoas não andam por aí com uma pepita no Bolso para pagar qualquer coisa — disse Marcos Henrique, sócio da corretora de bitcoin Foxbit.

Foto: Reprodução

Outros usos que não têm nada a ver com o varejo têm se popularizado.

— Há uma grande quantidade de pessoas interessada em utilizar o bitcoin como uma forma de transferir recursos para o exterior. Depois dos investidores em bitcoin, essa é a segunda utilização mais comum — conta Brian O'Hagan, da Maison du Bitcoin, misto de corretora e escola dedicada a criptomoedas em Paris.

O'Hagan admite que poucas pessoas se sentem à vontade em gastar seus bitcoins com compras, mesmo se, perto da Maison, em direção ao Sena, a Passage du Grand Cerf espanou o pó de 192 anos de tradição para assumir, no fim de 2016, o apelido de “Bitcoin Boulervard“, com 20 de suas lojas aceitando a moeda digital.

As transferências internacionais por meio de criptomoedas já são comuns entre profissionais como programadores e designers, que costumam prestar serviço para clientes no exterior. As vantagens de utilizar o bitcoin para isso são a maior agilidade e o menor custo. Enviar um bitcoin para um vizinho leva o mesmo tempo que enviá-lo para alguém na Indonésia: um processo semelhante ao envio de um e-mail e cuja confirmação toma alguns minutos. Além disso, não é preciso pagar taxas bancárias, apenas os custos de transação próprios da rede bitcoin.

Mas, em comunicado divulgado em novembro, o Banco Central fez um alerta, observando que transferências internacionais com bitcoins não são legais.

Para quem usa o bitcoin como reserva de valor, o maior problema é que, diferentemente do dólar ou do ouro, seu lastro no mundo real segue desconhecido, ninguém sabe, ninguém viu. Embora argumente-se que o tamanho da rede e o volume de máquinas e energia consumidas possam ser referencial, ninguém é capaz de calcular essa relação.

— No bitcoin, não é possível fazer essa comparação uma vez que não há valor fundamental, não há lastro — argumenta Bruno Vinícius Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB). — Ele exigirá dos economistas novos métodos. (Rennan Setti)

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