O consumidor que deixou para garantir o carro zero-quilômetro em 2015 tem a última chance de comprar mais barato. Isto porque as concessionárias de Salvador e da Região Metropolitana ainda possuem mais de 7 mil veículos adquiridos em 2014 com desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
O CORREIO lista com exclusividade os estoques com condições de pagamento dos veículos sem o imposto em 21 concessionárias (ver tabela abaixo). Após mais de três anos de redução do IPI, a venda de automóveis no Brasil já atua com a cobrança do imposto desde o primeiro dia de 2015. O país encerrou o ano passado com 297,5 mil veículos nas concessionárias, segundo a associação das montadoras (Anfavea). Sem margem no caixa para manter desonerações fiscais, o governo federal suspendeu as reduções de alíquota para o setor. Segundo a Anfavea, a volta da alíquota cheia do IPI deverá fazer com que o preço dos carros suba 4,5%. No entanto, ao menos até o fim do estoque antigo, o consumidor pode comprar com os preços do ano passado. Com o retorno das alíquotas originais, o IPI cobrado de carros populares (motor 1.0) passará de 3% para 7%. No caso dos veículos médios, o imposto vai de 9% a 11% para os que têm motor flex, e de 10% para 13% nos movidos a gasolina. Carros com motor potência acima de 2.0 não tiveram descontos; as alíquotas continuarão em 18% (flex) e em 25% (gasolina). Estoque Segundo o gerente comercial da Hyundai CAOA, Rafael Albuquerque, prevendo a medida, a loja adquiriu estoque de veículos no final de 2014. “Nos preparamos desde novembro. Agora, temos cerca de 120 veículos que serão vendidos com o preço antigo. Também temos unidades na montadora”, assegura Albuquerque. Na Grande Bahia, empresa que comercializa veículos da Chevrolet, o estoque atual conta com 442 veículos com IPI reduzido. “Já esperávamos a adoção da medida há algum tempo. Dessa vez sabíamos que não poderia ser adiada. Nós também adquirimos um estoque com preços antigos, antes do aumento do IPI, para repassar para o consumidor no início deste ano”, explica o gerente de vendas Jorge Baruck. De acordo com o diretor geral da Nova Bahia e da Sanave, distribuidoras da Renault e da Volkswagen, respectivamente, Rubens Darzé, quem comprar um veículo agora pode economizar por volta de R$ 3 mil, a depender do preço do modelo do automóvel. “A ideia é que o consumidor que não tenha aproveitado o décimo-terceiro para comprar seu veículo no fim de ano ainda possa aproveitar os preços em janeiro e fevereiro”, explica. Janeiro de ouro A expectativa, segundo ele, é que as concessionárias comecem o ano com o pé direito. “Dezembro é o nosso melhor mês. Com condições parecidas, esperamos que janeiro seja um mês bom, com venda média de 120 carros por semana”, complementa Darzé. Por isto, a Sanave alugou um pátio para alocar todos os carros adquiridos. “No ano passado, já houve uma prorrogação no IPI. Neste ano, por conta do cenário econômico, não dava para repetir. O consumidor que deixou para comprar um veículo este ano deve vir logo, pois as opções sem aumento do IPI estão acabando”, recomenda. Com a esperança de adquirir seu carro zero já no início do ano, a contadora Daniela Gama foi ontem à concessionária Cresauto Fiat da Bonocô. “Comprei um Palio por necessidade. Há algum tempo estava sem carro. Quando soube que o IPI seria reduzido, achei ainda melhor. Afinal, que consumidor não quer comprar as coisas com preço mais em conta? ”, diz. ExpectativaPor conta do estoque e das ofertas de IPI reduzido, o mês começou bem nas distribuidoras Merci Peugeot e Peugeot Danton, que ainda têm um estoque de 120 carros. “Estocamos também por causa do recesso nas montadoras. Estamos com um movimento bom. Na terça-feira, que não é um dia forte, vendemos 10 carros. E na primeira metade do mês já vendemos mais de 30. Na segunda metade devemos alcançar a meta de 100 veículos”, acredita o gerente comercial Luciano Aragão. Para o economista Humberto Veiga, a compra do carro zero só deve ser feita agora caso haja uma necessidade real. “Se você realmente está precisando de um carro novo, é melhor não arriscar e aproveitar o que as concessionárias estão oferecendo”, afirma. Segundo ele, não é possível prever se os veículos estarão mais baratos ou mais caros. “Pode ser que os preços subam ou não. Tudo depende do que os investidores e produtores vão definir. Depende ainda do cenário econômico do país. Muitos fatores estão envolvidos. As empresas podem reduzir os custos internos, por exemplo, e manter os preços ou não”. Subsídio O IPI, segundo ele, pode ser entendido como um benefício do governo para uma área específica. “Os produtores precisavam reduzir seus preços e quem fez isso foi o governo. É uma intervenção do Estado na economia, é uma forma de ‘subsídio’ para um setor da indústria. É algo questionável: alguns dizem que isso privilegia uma indústria mais do que outra, mas, ao mesmo tempo, é uma escolha de desenvolver outros setores a partir de um”, afirma o consultor financeiro. Para o presidente regional da Federação Nacional de Veículos Automotores (Fenabrave-BA), Raimundo Valeriano, a volta da alíquota cheia do IPI só deve ser sentida pelo consumidor em fevereiro. “As lojas estão estocadas. O consumidor só deve sentir em fevereiro. A nossa expectativa é que, em 2015, as vendas tenham uma queda de 2% com relação a 2014. Em 2014, a queda de vendas foi de 7,37% em comparação ao ano anterior” De acordo com ele, a expectativa é que as vendas voltem a crescer em 2016. “Esperamos que o próximo ano seja mais estável, com aumento nas vendas do setor. Mas não dá pra prever”, complementa. Vendas devem permanecer estáveis, diz Anfavea Com a queda de 7,1% nas vendas de veículos no ano passado, o mercado brasileiro recuou ao mesmo nível de 2010, com quase 3,5 milhões de unidades emplacadas no país, contra 3,77 milhões em 2013. Após o período difícil, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) aposta em um crescimento zero em 2015. A projeção deve ser considerada conservadora, segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Junior. “Nós acreditamos fortemente que os estímulos já dados ao crédito e a nova legislação de retomada rápida do bem em caso de inadimplência devem reaquecer os negócios”, disse em entrevista coletiva realizada no último dia 8. Na comparação mensal o licenciamento de veículos no último mês de 2014, com 370 mil unidades, cresceu 25,6% sobre as 294,7 mil de novembro do mesmo ano. Segundo Moan, entre os desafios enfrentados em 2014 estão a forte seletividade na concessão de crédito, feriados em razão de grandes eventos e cenário complexo no comércio exterior. “Para 2015, esperamos um primeiro semestre difícil, mas os ajustes promovidos nos levarão a um resultado equilibrado, no mínimo com desempenho igual a 2014”, afirma. Segundo ele, a venda de veículos novos produzidos no país, medida pela quantidade de licenciamentos, caiu 7,1% em 2014, para 3,498 milhões de unidades. De acordo com Moan, o otimismo da Anfavea é baseado na expectativa de que diminua a venda de veículos importados com o dólar mais caro e de que continue em expansão o financiamento de veículos, facilitado por uma legislação mais favorável para a retomada de carros de clientes inadimplentes. A entidade projeta um crescimento de 0,5% a 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2015 e uma expansão ainda maior da produção da indústria automotiva, de 4,1%. A expectativa de recuperação parcial da produção, no entanto, embute uma projeção de que as vendas de veículos continuem em 3,498 milhões, mesmo montante registrado em 2014. Ainda assim, a entidade projeta que aconteça um crescimento de 1% nas exportações este ano, depois de uma queda de 41% no ano passado.
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