Desde os tempos mais primórdios, a irreverência é uma das características mais marcantes do samba. Junto, é claro, do pandeiro, tamborim, surdo, repique, reco reco, tantan, cavaquinho, e todos os outros elementos que compõem o gênero.
Com o pagode, a história não seria diferente. E na Bahia, berço tanto do pagodão, quanto do samba propriamente dito, a palavra irreverência pode ser substituída pela gaiatice. Que junto a percussão inconfundível dos músicos baianos resulta em um dos maiores fenômenos da internet, com força, inclusive, para atravessar oceanos e chegar na Coreia. A do Sul, é claro.
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Essa foi a fórmula perfeita utilizada para criar um dos maiores sucessos da música baiana na atualidade: o 'Samba do Polly', do cantor Oh Polêmico. A faixa, de forma orgânica, já conta com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube e mais do que isso, é a número 1º nos paredões ao redor do Estado, o que para quem faz pagode, é uma das melhores formas de mensurar um hit.
"Esse sucesso nasceu de uma resenha no ônibus. Estávamos eu, meu tecladista, meu guitarra e meu backing. Sempre que a gente viaja a gente faz uma bagunça no ônibus e o Samba do Polly nasceu ali, inclusive a gente já tem um Samba do Polly 2.0 para lançar aí", contou Deivison em entrevista ao iBahia.
Início da carreira musical
Nascido e criado no bairro de Tancredo Neves, em Salvador, Deivison, que atualmente é morador de Lauro de Freitas, relembrou o início de sua trajetória na música que foi longe do pagodão.
"Eu me inspirava na galera do funk, de São Paulo e do Rio, cheguei a lançar um projeto 'Embrazados do Funk', rodei algumas comunidades de Salvador e depois passei para o pagode. Porque o funk aqui é mais difícil", afirma o Polly que teve o apelido retirado de sua época no futebol.
Se no funk a influência era do eixo Rio-São Paulo, no pagode a inspiração veio de dentro de casa. Deivison conta que começou na cena por causa do pai. O artista, que fazia música nos intervalos do trabalho como estagiário em um supermercado de Salvador, chegou a ser dançarino antes de assumir os vocais de uma banda.
"Ele tem uma banda de pagode lá em Guarajuba, eu comecei como dançarino dele depois que saí do funk. Depois passei para backing vocal e logo em seguida montei um projeto que era Playboy Hits", conta o artista que se diverte ao falar sobre o estilo do pagode do pai.
"É um Samba do Polly versão light", disse aos risos.
Foguete não tem ré
Considerado o nome do momento no pagode baiano, Deivison Nascimento, de 23 anos, tem experimentado uma vida de estrela do Pop, com entrevistas e uma grande procura por sua imagem, seja nas redes sociais e até mesmo nos shows, com os stories de fãs.
A agonia não é para menos. Além de 'Samba do Polly', Oh Polêmico tem outros grandes sucessos na boca do povo, e a frase não é um exagero. Em uma participação especial feita pelo artista em um show na capital baiana, ele só pôde deixar o palco após cantar as mais conhecidas do público 'Bora Bora', 'Cabo C', 'É Só Eu e Meu Meiota' e 'Só Botada'.
"Eu fico feliz em ver a galera curtindo meu som. É surreal o que acontece, seja em apresentação minha, ou participação especial. Eu não imaginava que minha música chegaria tão longe assim. Sempre sonhei em fazer sucesso, mas chegar em tantos lugares assim é legal demais. Tem gente da Europa que me manda mensagem dizendo que está curtindo meu som".
Conexão com a Coreia do Sul
Apesar da Europa está na lista de continentes que escutam com frequência as músicas do Polly, foi da Ásia que saiu um dos maiores entusiastas do samba polemiquinho, o Kwon Min sung, de 23 anos, mais conhecido como DropmeOff.
Ao site, Deivison conta que apesar da barreira criada pela diferença na língua, os dois se comunicam bem e fazem planos para a estadia do sul-coreano em Salvador.
"Falei a ele que a primeira coisa que ele vai comer quando chegar aqui em Salvador é um pratão de feijão. Vamos fazer uma bagunça com ele aqui. Conversamos pelas redes sociais e ele está animadão com a vinda para o Brasil. Ele vai participar de show, do nosso clipe, de tudo que puder", disse.
Polemiquinho nas letras
A ousadia no samba e no pagode não é novidade para uma geração que cresceu dançando as canções da banda É O Tchan, Art Popular, Cia. do Pagode. Anos antes, a irreverência se fazia presente no deboche das canções de Noel Rosa e Wilson Batista, que trocavam farpas através de canções na década de 30.
Agora, se nas canções dos anos 90 e até anteriores a esse período, a ousadia era feita disfarçada e "nas intocas", em 'Samba do Polly', podemos dizer que as preliminares foram puladas e a canção já vai direto ao ponto com letras explícitas que chegaram a assustar quem não está acostumado a ouvir o que toca no paredão.
"No começo eu tive medo, mas eu falei 'Vou gravar', porque o que bate hoje é o pagodão. Fomos direto ao ponto, porque é disso que o nosso público gosta. Gravei também porque sabia que com o tempo eu podia ir limpando, então fui primeiro na ideia dura, para depois trabalhar essa versão leve".
Para tocar nas rádios a faixa precisou ser adaptada e o proibidão ganhou frases mais leves. "Não deu trabalho para fazer não (risos). Para tocar na TV e nas rádios a gente precisa mesmo trabalhar em uma versão com menos xingamento, então já estou acostumado", disse o artista que já distribuiu a nova faixa nas rádios da capital.
Frutos do Samba do Polly
Com o 'Samba do Polly', Oh Polêmico, que já era sucesso nos paredões, ganhou ainda mais espaço na cena baiana e entre os artistas locais.
"Eu tenho conversado com vários artistas que sempre fui fã. Márcio Victor, Lincoln Tony Salles, Léo Santana. O pessoal tem abraçado muito. Todos eles incluíram o 'Samba do Polly' no repertório e a gente tem articulado aí para ver se grava um samba", revelou.
Atração confirmada no Salvador Fest, a data promete ser ainda mais especial para o artista que tem planos para gravar um projeto audiovisual no Palco Pagotrap.
"Quando eu recebi o convite para participar eu fiquei sem acreditar. Porque já fui lá como participação, hoje eu estou indo com um show completo no Palco Pagotrap, é algo surreal. A gente quer gravar um audiovisual com participações especiais e o pessoal pode esperar um showzão".
Para o futuro, além de novos projetos saindo do forno, como um clipe ao lado de DropmeOff, o Samba do Polly 2.0 e a gravação de um projeto audiovisual, Deivison coloca em sua lista de sonhos junto a desfilar no Carnaval de Salvador uma turnê na Europa. "Eu quero rodar o mundo, tocar em Portugal, na Espanha, Inglaterra, Itália. Quero fazer um showzão mesmo. É pensar em cima sempre".
Quanto a possibilidade de um pagode em coreano, o baiano se diverte: "Imagine? Aí eu teria que ir tocar na Coreia do Sul também, os coreanos iam ficar loucos", risos.
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Bianca Andrade
Bianca Andrade
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